Importunação sexual no BBB: o que isso nos diz sobre normalidade e a educação de nossos filhos

Se não falarmos com as crianças sobre machismo, igualdade e respeito, comportamentos como esse seguirão se replicando, diz o educador parental Mauricio Maruo

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Reprodução de cena do Big Brother Brasil (BBB), exibido na Globo, com Cara de Sapato, MC Guimê e Dânia Mendez
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Buscador de educadores parentais
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O que é normal para você?

Essa é uma pergunta bem simples, correto?

Nem tanto.

Cada ser humano entende a normalidade de um jeito, devido ao meio em que cresceu. A percepção da normalidade pode ser boa ou ruim, dependendo muito do que conseguimos enxergar.

Uma das maiores audiência da TV aberta hoje é um programa que literalmente observa o desenvolvimento de vários participantes confinados dentro de uma casa 24 horas por dia.

Neste confinamento acontecem situações provocadas pela própria produção com o intuito de conseguir mais audiência. 

E muitas dessas situações trazem questionamentos sociais sobre qual é a nossa normalidade.

O caso de importunação sexual realizado por dois participantes do BBB do Brasil (Cara de Sapato e MC Guimê) com a participante mexicana (Dania Mendez) foi assunto em muitas mídias. Porém, algumas pessoas se questionaram sobre o fato de que, quando anunciada a expulsão dos dois, a maioria dos outros participantes ficaram sem entender o motivo e reagiram com surpresa. Cara de Sapato chegou a perguntar a Dania o que ela havia dito no “raio-x” do programa, momento diário em que cada um entra sozinho no “confessionário” para falar o que está sentindo.

A importunação sexual é caracterizada pela prática de ato libidinoso contra a vontade do outro. Já o assédio sexual tem relação com posição hierárquica, e visa constranger para obter vantagem sexual em razão de ocupar um cargo superior no trabalho, por exemplo.

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Talvez essa seja a normalidade da maioria da população, pois todos viemos da mesma matriz social que é o patriarcado. A cultura do patriarcado cria uma normalidade que nos força ao entendimento de que o “comum” é o homem importunar ou assediar uma mulher e que a culpa caso isso ocorra é sempre da vítima.

Segundo os dados coletados pelo Instituto Locomotiva e Patrícia Galvão, cerca de 71% dos brasileiros conhecem alguma mulher que sofreu assédio em espaços públicos e 97% das mulheres dizem já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte. Os dados nos levam a um caminho de uma realidade obscura. A normalidade dessas práticas é cultural, ou seja, a maioria da população não enxerga isso como violência.

Quando falamos em formação de uma cultura, estamos falando de anos, décadas e quem sabe séculos de vivência em um comportamento que não é mais questionável. Esses comportamentos são incorporados dentro das nossas vidas de uma forma tão viciante e violenta que nem sequer imaginamos que existe um outro caminho ou simplesmente um questionamento.

No recorte família, essa cultura prejudica muito o ensino sobre igualdade e equidade para as crianças. Sobre consentimento e respeito ao próximo. Vou dar um exemplo simples de como a estrutura do machismo (que se alimenta da cultura patriarcal) pode influenciar a educação dos nossos filhos:

  • Um filho menino é ensinado dentro de casa a fazer xixi sentado ou em pé?
  • Esse mesmo menino é ensinado dentro da escola a fazer xixi sentado ou em pé?
  • O que é mais higiênico, fazer xixi sentado ou em pé?
  • Se o menino faz xixi em pé, ele é ensinado a limpar os respingos após o uso do vaso ou essa tarefa sobra para a mulher da casa? (Porque talvez o pai esteja muito cansado para fazer esse trabalho, afinal ele trabalhou o dia inteiro).
  • Caso ele seja ensinado a limpar o vaso, ele é ensinado a se limpar adequadamente após fazer seu xixi (com papel), ou ele entra na estatística monstruosa de doenças em órgãos genitais masculinos causadas por falta de higiene?

Não sei o quanto a normalidade do patriarcado incomoda vocês, mas sei que se não fizermos nada para mudar esse caminho, seremos os maiores responsáveis por criar futuros MCs Guimês ou Caras de Sapatos. Será que é isso mesmo que desejamos para o futuro dos nossos filhos?  

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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