Num momento em que se fala tanto em saúde mental, um novo estudo sugere que os efeitos negativos da pandemia parecem durar mais do que o esperado entre os adolescentes. Cientistas islandeses constataram uma piora em sintomas depressivos e abuso de álcool até recentemente, mesmo após o relaxamento das medidas de restrição.
A pesquisa, recém-publicada no “The Lancet”, é uma das poucas a avaliar os jovens vários meses após o início da pandemia. Eles acompanharam quase 65 mil estudantes com idades entre 13 e 18 anos, que responderam questionários sobre sintomas depressivos, estado emocional e uso de substâncias como cigarros (eletrônicos e comuns) e álcool em diversos momentos nos anos de 2018, 2020, 2021 e 2022.
Os resultados mostraram que houve uma piora no estado mental mesmo dois anos após o começo da pandemia e um aumento no abuso de álcool, apesar de uma queda inicial em relação ao início da avaliação. Já o consumo dos cigarros não apresentou diferença. Por outro lado, altos níveis de suporte familiar – considerado como a facilidade em obter apoio emocional dos pais ou cuidadores – e dormir pelo menos 8 horas por noite foram fatores protetores, associados com melhores desfechos e menor uso de substâncias.
Para os autores, os resultados reforçam que os adolescentes vivenciam um período sensível em que a exposição ao estresse pode detonar problemas de saúde mental persistentes se não forem corretamente tratados.
LEIA TAMBÉM:
Sofrimento e tristeza
“O sofrimento nem sempre está associado a sinais clássicos de tristeza”, diz a psicóloga Caroline Nóbrega de Almeida, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Em crianças e adolescentes, pode vir acompanhado de comportamentos como maior irritabilidade, impaciência, agressividade, mudanças bruscas no ‘jeito de ser'”, explica. Outros sinais de alerta podem ser deixar de fazer atividades ou parar de frequentar lugares que gostava antes, excesso de apatia ou isolamento. A psicóloga diz que alguns jovens podem ficar preocupados em excesso com algo, como as notas ou ter comportamentos como roer unhas ou se auto lesionar.
A tecnologia também tem seu papel nesse cenário, segundo a psicóloga. Ela observa que, muitas vezes, as redes sociais tendem a criar padrões de vida perfeitos e inatingíveis que podem gerar frustração. “Pais e escolas devem aumentar a conscientização sobre o sofrimento emocional, reconhecendo os sintomas, desmistificando preconceitos e validando os sentimentos, inclusive, o sofrimento, como algo inerente ao ser humano, e que pode ser compartilhado e trabalhado. O mais importante é encorajar esses jovens a sempre buscar ajuda”, finaliza.