História de Mãe: ‘Eu achei que tivesse visto meu filho sem vida’

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    Por Adriana Maia Matos

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    Antonio e Adriana em foto recente / Imagem: arquivo pessoal

     

    No dia 9 de novembro de 2009, nasceu o Antonio, meu primeiro filho. Um parto estranho, com intercorrências inesperadas que acabaram causando uma importante falta de oxigenação cerebral no meu bebê e, em consequência, uma lesão irreversível. Em outras palavras, meu filho tem Paralisia Cerebral.

    Isso sou eu contando o nascimento do Antonio hoje. De forma clara e técnica. Naquele 9 de novembro, eu era só mais uma chegando ao hospital para ter um bebê. No meu caso, já com a bolsa rompida e contrações. Passei pelo trabalho de parto, acompanhei a equipe médica me monitorando, tomei anestesia, medicações de indução e… fiz força. Ele não demorou a sair. Mas quando nasceu, não chorou. Imediatamente colocado no meu colo, percebi que algo não estava bem. Ele estava mole, sem reações, de olhos fechados. Pra mim… ele estava morto. 

    Só me lembro do pediatra abrindo espaço abruptamente entre médicos e auxiliares e arrancando meu neném de mim. Não sei ao certo quanto, mas passaram-se longos minutos na sala de parto em que só se ouvia barulhos de instrumentos, o pediatra solicitando materiais e um corre-corre pra lá e pra cá de passos. De repente a porta se abriu num estrondo e o barulho das rodinhas da incubadora parecia um avião aterrissando naquele espaço tenso e silencioso. E Antonio se foi. Eu ainda não sabia se para sempre. 

    Os ocupantes da sala foram saindo um a um. Fiquei sozinha, sem conseguir me levantar direito até que uma enfermeira chegou para cuidar de mim. Eu não tive coragem de perguntar a ela. Olhei para o teto durante todo o período de higienização, rezando, pedindo pelo amor de Deus para que Antonio resistisse, para que eu o conhecesse.

    Meu marido voltou, me explicou que Antonio tinha sido entubado, mas que sozinho havia arrancado o respirador e já estava ventilando por si só. Continuou falando sobre internação, UTI, observação… Não lembro bem. Porque só o que eu conseguia repetir pra mim mesma era – Obrigada.

    E acho que é isso que as pessoas não sabem a meu respeito. Nesses quase 8 anos, já cansei de ouvir inúmeros elogios, por assim dizer, sobre a minha força, minha coragem. Alguns são até muito sinceros e dizem que não sabem como eu consigo, que se fosse com eles não aguentariam. Já perdi a conta também de quantas vezes ouvi que após me conhecerem, pararam de reclamar da vida. E mais tantos olhares e mais olhares de pena para mim e meu filho cadeirante que não anda, não fala, não come pela boca e outras coisas mais.

    A questão é que eles veem uma criança com deficiência. Já eu, todos os dias, agradeço por ter meu filho comigo. Eu vi, ou achei que tinha visto, meu filho sem vida.

    É fácil? Claro que não. Já são sete anos e lá vai fumaça de adaptações, tratamentos especializados, uma dedicação imensa, pequenas e grandes vitórias, muitas frustrações minhas e dele, medos, esperança…

    Mas se querem saber de onde vem minha força, como eu consigo viver sorrindo? Antonio está vivo.

     

    Adriana Maia Matos é jornalista, estudante de educação infantil e mãe de Antonio, Marina e Alice.
     

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