Habilidades socioemocionais: o menino de 13 anos que não se limpava no banheiro

Em live promovida pela Canguru News, a psicóloga Isadora Lacerda explicou como o histórico dos pais pode ter relação com o comportamento dos filhos; no encontro desta quarta-feira (9), terapeuta falará sobre como pais podem identificar se eles têm habilidades socioemocionais

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Menino esconde rosto com as mãos
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Na primeira live da Canguru News para discutir aspectos da relevância da construção das habilidades socioemocionais na primeira infância, a psicóloga Isadora Lacerda, especialista em terapia cognitiva comportamental e certificada em disciplina positiva, contou sobre seu atendimento de um adolescente de 13 anos, que lhe impactou profundamente e foi a inspiração para que ela escrevesse um conto sobre o tema, preservando o sigilo do paciente.

Esse menino, com o nome fictício de Pedro, não era capaz de se limpar sozinho no banheiro, aos 13 anos de idade. Na escola, desenvolvia gagueira, por medo de se comunicar e pedir um lanche, e ficava com fome por toda a manhã. Casos extremos como esse revelam que faltou a essa criança desenvolver autonomia, autoconfiança, autoestima, algumas das habilidades socioemocionais mais fundamentais para a formação de um adulto psicologicamente saudável. O histórico dos pais, segundo a psicóloga, está diretamente associado ao comportamento da criança: um relacionamento superprotetor a impediu de conhecer e regular as próprias emoções. “Era tanta superproteção que o Pedro (nome fictício) não tinha visão sobre si mesmo.” A criança que não se vê, não tem a visão de si, achará que não é capaz de agir. E aí surgem a insegurança, o medo, a ansiedade, explicou. É por isso que as crianças precisam se sentir capazes, precisam ser estimuladas a agir na resolução de problemas simples do cotidiano.

“A infância é a base de tudo e é na infância, inclusive, que estão os nossos psicologicamente grandes traumas”, disse a especialista. Segundo ela, é fundamental o suporte dos pais em um processo de orientação para auxiliar as crianças e adolescentes a desenvolverem essas habilidades. “Ou os pais realmente vestem a camisa e formamos uma equipe, ou o tratamento pode até andar, mas vai morrer na praia em algum momento.”

De acordo com Isadora Lacerda, é preciso que os pais fiquem atentos a cada fase de desenvolvimento da criança e se perguntem: do que ela deve ser capaz agora? É fundamental, ela destaca, que a criança conheça as suas próprias emoções, as identifique, e saiba como reagir em cada caso, como picos de ansiedade. Para validar as emoções dos filhos, os pais precisam conhecer a si próprios e validar as próprias emoções, destacou.

“Os filhos vêm para ressignificar muitas coisas”, enfatizou a psicóloga.

Para a especialista, o debate sobre as habilidades socioemocionais envolve três pilares: 1) pilar emocional: a criança aprender a resolver, se conectar com suas emoções (o que está sentindo neste momento); 2) pilar social: habilidades de se relacionar com o mundo, com as pessoas; 3) pilar ético: relacionado com o agir positivamente no mundo; positivo aqui compreendido como o entendimento do que ser ético, agir com respeito, tolerância, aceitação.

Para Isadora, é preciso entender o histórico da infância dos pais para tentar ajudar os seus filhos. “É preciso investigar o que faltou para esse pai e para essa mãe para entender porque eles têm dificuldades de se conectar com o filho, dificuldades de dar limites. É preciso entender como foi a infância dos pais. A verdade é que tem muita dor, e talvez esses pais não estejam preparados para lembrar da infância”, disse ela, ao citar a dificuldade de trabalhar ao lado dos pais, que muitas vezes abandonam o tratamento dos filhos.

Para acolher as dificuldades do filho, os pais devem primeiro olhar para si mesmos, defendeu a especialista. “É o exemplo da máscara (de oxigênio) no avião: primeiro coloca em você, e só depois na criança. E por motivos óbvios: todo mundo pode morrer.”

Com os pais podem saber se possuem habilidades emocionais

A terapeuta Fabiana Nunes Ribas, na foto, com os filhos, é a convidada desta semana da série de lives promovidas pela Canguru News

Na live desta semana promovida pela Canguru News, a terapeuta de família e casais, Fabiana Nunes Ribas, falará sobre o papel da família no ensino das competencias socioemocionais. “As pessoas têm dificuldade em digerir suas emoções e entender suas questões emocionais. Acredito que é dentro da família que a gente precisa ter acesso a essa educação, o educar para o sentir, educar das emoções”, afirma Fabiana.

Com base no capítulo que escreveu para o livro “Habilidades socioemocionais – por que elas devem ser desenvolvidas na primeira infância”, ela dará orientações para ajudar os pais a identificar se possuem competências socioemocionais, que possam depois ser ensinadas aos filhos.

“No artigo que escrevi, falo das competências do “CHA”, que significam conhecimento, habilidade e atitude em ser, fazer, estar, e destaco como é importante que os pais se entendam dentro dessas competências”, explica a terapeuta.

Ela diz que perguntas-chave também ajudam os pais a avaliarem se têm essas habilidades desenvolvidas em seu eixo, enquanto pessoa. “Minha ideia (na live) é fazer um passeio no artigo e trazer essas reflexões nesse sentido, de como a família precisa agir, se colocar, responsabilizar, ter ação mais responsiva no desenvolvimento das habilidades socioemocionais, porque a gente não pode deixar isso só a cargo da escola, precisa ter essa ação mais responsiva em casa”, ressalta a terapeuta.

A série de lives sobre habilidades socioemocionais ocorrem todas as quartas-feiras de fevereiro, às 9 horas,no Instagram da Canguru News.


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