Como a gamificação pode ajudar seu filho a aprender mais

O método transforma o aprendizado em “jogo” e promete aumentar o interesse e o engajamento das crianças tanto na escola quanto em casa

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Menino olhando para um computador com um jogo, que pode ser usado como forma de gamificação na educação
A gamificação na educação é uma forma de aumentar o interesse e o engajamento das crianças
Buscador de educadores parentais
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Muitos pais tendem a associar os jogos eletrônicos a algo ruim, pelo excesso de tempo que as crianças dedicam a eles, o que pode prejudicar o desenvolvimento infantil, segundo mostram diversas pesquisas. Entretanto, os games também podem ser benéficos às crianças quando bem utilizados. Tanto é verdade que transformar processos em “jogos” é algo buscado inclusive no mundo corporativo para aumento da produtividade. A gamificação na educação pode ter resultados semelhantes: crianças mais interessadas e engajadas com o que aprendem. 

E quem diz isso é Nayra Karinne, doutora em psicologia, especialista em gamificação e criadora do Start Gamification, empresa que oferece treinamento para profissionais por meio da mecânica de jogos com foco em resultados. Para tanto, ela recorda os estudos do pesquisador e educador americano Edgar Dale: “Ele revelou que experiências em games com situações reais podem aumentar em até 90% a retenção do conteúdo por parte dos alunos. Dessa forma, a curva de aprendizado, durante um período tão delicado para os jovens, se torna mais leve”.

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Mas, afinal, o que é gamificação?

De forma geral, a gamificação se trata de transformar um processo (de trabalho, de aprendizagem ou simplesmente de realização de tarefas em casa) em um “jogo”. Ao utilizar elementos dos games, uma tarefa que precisa ser realizada pode se tornar mais divertida e desafiadora, despertando na criança um maior interesse em realizá-la. 

“A gamificação propõe utilizar técnicas com reforços e estímulos positivos associados aos elementos de jogos no ambiente escolar para estimular comportamentos e promover o bem-estar dos estudantes. Isso resulta na elevação do desempenho, aliado à satisfação e alegria de realizar uma tarefa significativa, seja ela qual for”, explica Nayra. A especialista também diz que a gamificação contribui para o estado de flow, quando estamos tão imersos no processo de uma atividade que realizá-la se torna algo divertido e muito mais proveitoso. 

Quais são suas principais características

  1. Objetivo bem definido: é preciso deixar claro para a criança qual o objetivo do que ela está fazendo. Um exemplo: completar todas a tarefas do dia para só então conseguir uma recompensa ao final. 
  2. Regras claras: todo jogo apresenta regras claras do que pode ou não se pode fazer. Isso também precisa ser aplicado durante a atividade e garante que o objetivo será atingido.
  3. Feedback constante: a pontuação na tela dos jogos é o que mostra aos jogadores se eles estão indo bem ou não. Por isso, dar um “retorno” para a criança sobre seu desempenho de forma rápida e constante a mantém interessada em continuar. 
  4. Cooperação: a gamificação é um tipo de metodologia ativa, em que as crianças são protagonistas do aprendizado. Isso pode ser feito de forma individual, mas quando uma atividade necessita de cooperação, os resultados podem ser mais efetivos. 
  5. História: ter uma história por trás da atividade faz com que a criança se envolva mais, além de facilitar o entendimento do que está sendo aprendido, por exemplo. 
  6. Atividades desafiadoras: pedir que a criança complete uma tarefa em um período de tempo determinado, por exemplo, pode ser estimulante para ela. Da mesma forma, criar uma competição saudável entre os participantes também é uma ótima forma de engajar o pequenos. 

Vale lembrar que a gamificação não passa, necessariamente, pelas telas. O mais importante é que a estrutura de jogos esteja presente para causar engajamento da pessoa.

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Os benefícios nos estudos

Além de ampliar o interesse, a gamificação também é capaz de aumentar o engajamento da criança com as atividades que precisa realizar, incluindo a hora de estudar. Por isso, a gamificação na educação pode promover uma relação melhor entre o aluno e o momento do aprendizado, por exemplo. 

Tudo isso pode ser explicado até mesmo biologicamente: quando crianças participam de um jogo, diferentes hormônios são liberados em seu cérebro (serotonina, endorfina, dopamina e a ocitocina, os hormônios da felicidade), fazendo com que elas fiquem mais imersas, focadas e felizes – não é à toa que os games fazem tanto sucesso!

“Efetivamente, a gamificação aplicada da forma certa em ambientes escolar, traz diversos benefícios como clima otimizado, relação positiva entre os alunos e aumento da produtividade”, explica Nayra. E neste período de aulas remotas por conta da pandemia do novo coronavírus, prender a atenção das crianças se tornou um desafio para todos os envolvidos. Segundo a especialista, professores podem utilizar práticas de gamificação para tornar o momento mais leve para todos, como lançar desafios e metas divertidas e que se relacionem com o tema e que tragam um “feedback” (retorno) mais rápido, mostrando que as atividades trazem um resultado. 

Aqui, também vale lembrar que a gamificação é o “meio” para o “fim”: o engajamento da crianças durante os estudos deve ser mais do que cumprir os desafios, e, sim, ser realmente capaz de promover o aprendizado. 

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Desafios nas escolas: gamificação tem de estar integrada ao projeto pedagógico

Gamificação na educação é uma das formas de melhorar o interesse e o engajamento das crianças
Segundo especialista, é preciso que as escolas pensem na gamificação na educação de forma conjunta com seu projeto pedagógico

A ideia de utilizar a gamificação nas escolas é promissora e vem ganhando cada vez mais adeptos. Contudo, para que seja usada de maneira correta, é preciso atentar para alguns aspectos.  

De acordo com Luciana Corrêa, colunista da Canguru News e doutoranda que investiga o letramento computacional aplicado aos anos iniciais da Educação Básica, a gamificação na educação possui um grande potencial de desenvolver o protagonismo das crianças e potencializar a aprendizagem. “No entanto, essa estratégia pedagógica, como qualquer outra, requer um profissional da Educação bem formado e que saiba desenhar ações didáticas com objetivos claros”, opina. Além disso, ela afirma que a gamificação precisa ser integrada com o projeto pedagógico da escola.

Por isso, na opinião de Luciana, é preciso, antes de se falar em gamificação, pensar em formas de melhorar o que já está sendo feito e valorizar o trabalho do educador. “Nenhuma estratégia didática, inovação tecnológica ou metodologia inovadora substitui um bom(boa) professor(a). Por isso antes de investir em plataformas de games, jogos de tabuleiros, consultorias, materiais digitais ou analógicos, uma escola deve investir em seu corpo docente”, diz. Para ela, isso significa pagar salários dignos, considerando horas trabalhadas, cursos de aprimoramento e tempo gasto para preparar as aulas.

“Não dá para pedir mil competências para uma profissional que ganha tão pouco. A mudança de atitude das instituições de ensino em relação aos profissionais da Educação é a base para que qualquer transformação na escola seja realmente possível”, finaliza. 

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Uso da gamificação em casa

A gamificação na educação também pode ser aplicada em casa. Na foto, uma mãe ajuda seu filho a realizar atividades
É possível montar uma estrutura de jogos e desafios a partir das atividades rotineiras da família

A gamificação não é exclusividade do ambiente escolar. Como foi dito, até mesmo grandes empresas podem utilizar o método para criar colaboradores mais engajados com as metas e objetivos de uma empresa. 

Por isso, se na sala de aula o desafio ainda é grande, é possível utilizar o método com os filhos em casa, para que eles estejam mais engajados na hora de realizar suas tarefas, inclusive os estudos. Isso pode ajudar, inclusive, a combater o desânimo dos filhos com o ensino remoto durante a pandemia de coronavírus. 

No caso dos estudos, na opinião de Nayra, também “é importante não condicionar bons resultados escolar a presentes. O próprio resultado é o presente! E, durante o game, não é necessário vincular uma coisa a outra”, explica. 

A I Do Code, Escola de Programação e Tecnologia, traz algumas dicas em seu site para aplicar a gamificação na rotina:

  • Utilize pontos: se a criança fizer tarefa x, ganha 10 pontos. Se fizer tarefa y, ganha 50. Isso, dependendo da complexidade da atividade. Quando atingir 100 pontos, pode sair para brincar, por exemplo. 
  • Dê recompensas: elas podem ser simples, como adesivos para cada lição de casa feita ou quarto arrumado, ou mais elaboradas, como poder assistir ao filme na TV depois de ter completado todas as atividades diárias de casa. 
  • Transforme pontos em medalhas: quando a criança cumprir os objetivos do dia por uma semana, ganha uma “medalha”. Quando fizer por mais uma semana seguida, ganha outro “distintivo”. Se furar algum dia, a contagem recomeça da última premiação. 

Como deu para ver, a gamificação na educação pode trazer inúmeros benefícios para o aprendizado e, apesar de ter desafios a superar, é uma das principais tendências de metodologia do futuro.

Confira a palestra de Nilton de Melo, especialista em gamificação, para entender melhor o processo e ver um exemplo prático de aplicação da gamificação.

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