A fissura labiopalatina é um defeito congênito, que ocorre na gestação e resulta do desenvolvimento incompleto do lábio e/ou do palato no período de formação do bebê. A condição atinge 1 em cada 650 crianças, segundo dados do Ministério da Saúde, e embora sua descoberta provoque angústia a pais e familiares, esse é um quadro que pode ser corrigido através de cirurgia, garantindo a saúde das crianças.
Existem dois tipos de malformação: a fissura labial e a fenda palatina, mas não são raros os casos de crianças que têm os dois problemas juntos. A fissura labial se caracteriza por uma fenda no lábio superior que pode se prolongar até a região nasal. Já a fenda palatina se caracteriza pelo aparecimento da falha no céu da boca (palato) e a mesma se prolonga até a cavidade nasal. “Elas podem ser unilaterais ou bilaterais, completas (quando atingem o lábio e o palato) ou incompletas (quando atingem somente uma dessas estruturas)”, explica a pediatra e geneticista Patrícia Salmona, presidente do Departamento de Genética da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Fatores de risco
A causa das fissuras ainda não está totalmente esclarecida. Sabe-se que alterações gênicas e influências ambientais contribuem para o seu aparecimento. Entre os fatores de risco durante a gestação estão: ingestão de álcool, fumo, diabetes, obesidade, deficiências nutricionais, idade materna avançada, radiação, consumo de alguns tipos de medicamentos e hereditariedade. A condição também pode se associar a outras malformações congênitas, uma vez que se caracteriza por uma alteração de migração tecidual durante a vida embrionária.
Já na gestação é possível identificar a fissura, explica a cirurgiã pediátrica Dulce Maria Fonseca Soares Martins, do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. “O diagnóstico pode ser feito mediante ultrassonografia, mas, ainda assim, o tratamento não é realizado de maneira intrauterina, visto que a formação varia em amplitude a cada caso, necessitando de protocolos e tratamentos distintos, com prognósticos específicos”, relata a cirurgiã. Ela comenta que o tratamento é feito por meio de cirurgia, de maneira humanizada e com equipe multiprofissional, com acompanhamento de cirurgião plástico, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo e odontólogo.
Tratamento
No caso das fissuras labiais, a cirurgia é realizada logo nos primeiros meses de vida e, no caso das fendas palatinas, antes dos dezoito meses. “O ideal é evitar que a operação seja realizada precocemente, para que o crescimento do osso não seja afetado e também para que não ocorra prejuízo à linguagem verbal. Enquanto esperam pelo final da reconstituição, as crianças usam um aparelho ortodôntico, que cobre a fenda palatina”, explica Patrícia Salmona. Ela afirma que quando o tratamento é realizado de maneira adequada, o prognóstico é muito positivo.
Porém, quando não tratadas, ambas condições podem trazer consequências expressivas à vida do indivíduo: “Uma criança, ao nascer com a fenda, tem dificuldade com a própria alimentação. À medida que fica mais velha, a depender do grau da fissura, existe um problema psicossocial muito importante, porque a fenda representa uma perda da integridade facial considerável. Também pode ocorrer um sério problema na dentição. Não é somente um problema estético”, alerta Larissa Sumodjo, cirurgiã plástica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
“O ideal é que o diagnóstico seja realizado ainda durante a gestação, para que os pais estejam preparados, de maneira que já exista um movimento de serem informados acerca de como pode ocorrer a evolução do caso e como pode ser tratado. Ainda assim, mesmo que diagnosticado depois do nascimento, o quadro pode ser tratado de maneira adequada”, completa Larissa.
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