
Quando fiquei grávida pela primeira vez, logo meu primeiro pensamento foi: que venha com saúde. Todos nós nos preocupamos com isso, saúde física. Mas, e a emocional? Desde seu nascimento, os seres humanos são moldados em meio a inúmeros tipos de emoções: choro, gargalhadas, alegria, raiva, frustração. Tudo isso faz parte da nossa vida, desde que somos bebês. Lembra do seu filho, ainda nos braços, com poucos meses, chorando e você sem saber a razão? Enfim, o choro é apenas uma das manifestações mais comuns em crianças, demonstrando que algo as afetou. Assim, o desenvolvimento saudável que esperamos também alcança o nível emocional. Para que nossos filhos sejam saudáveis, devem se desenvolver integralmente de forma satisfatória.
As crianças sentem emoções como os adultos, só que de modo bem mais intenso e caótico – elas não possuem a maturidade e o controle que nós adultos temos ou deveríamos ter. Ao observar o corpo da criança, como ela reage às sensações internas e ao meio externo, é possível identificar o que a afeta e de que forma (se positiva ou negativamente) e usar essa evidência para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem. A criança adquire lentamente a capacidade de se controlar emocionalmente, de se relacionar de maneira eficaz com a sociedade. Esse processo é complexo e depende de vários fatores, entre eles os biológicos e os educacionais.
É na primeira infância (até mais ou menos os 6 anos) que o indivíduo aprende muito e de forma rápida. As crianças absorvem todo o tipo de informação, emoções e experiências que são expostas. Costumamos brincar dizendo que são verdadeiras esponjas. É por isso que, mesmo que ela não compreenda 100% determinada situação, os sentimentos e palavras ali inseridos serão incorporados. Quando a criança está em um ambiente de brigas constantes, falta de estímulos ou em condições de extrema pobreza e desnutrição, esses fatores culminarão na absorção somente de estímulos negativos, o que prejudica o seu desenvolvimento.
Hoje, sabe-se comprovadamente que grande parte dos sistemas cerebrais sofre intervenções causadas pelas emoções no seu funcionamento, e que essas estão também presentes nos processos ligados às aprendizagens que a criança recebe (ou participa) na escola e em casa. Desta forma, a vida cerebral está intimamente relacionada às emoções e ao comportamento social. Quanto mais agregarmos emoções saudáveis às experiências de aprendizagem, mais significado daremos a elas.
A vida familiar, é a base para o bom desenvolvimento das emoções: lares que apresentam equilíbrio nas relações e nas ações praticadas, na condução da educação oferecida e nas decisões dos pais em relação ao futuro da família, dão mais suporte a esse delicado período de crescimento infantil. O crescimento sadio e uma educação embasada em valores formam crianças com grandes chances de serem mais bem-sucedidas na vida pessoal, escolar, profissional e familiar futura e, pelo que sabemos, os maiores responsáveis por esse processo são os pais, por serem as referências primordiais para a constituição psíquica infantil.
Se queremos e desejamos que as crianças cresçam de forma mais saudável, com certeza o universo das brincadeiras é primordial. As brincadeiras são de extrema importância para a realização de conexões de neurônios, desenvolvimento da cognição, aprendizado e interação social. A criança que brinca constantemente, consegue aprender a responder aos estímulos de forma cada vezes mais rápida e estabelecer contato com o mundo. Precisamos permitir que as crianças brinquem, corram, caiam inclusive. Lógico que tudo isso com amor e cuidado. Crianças precisam de ambientes externos, de natureza, de contato com outras crianças.
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Seguem aqui alguma dicas para ajudar na criação de filhos saudáveis emocionalmente:
1. Criar vínculos afetivos – tempo de qualidade nas relações, momentos de escuta e de conversa, de estabelecer limites e, também, reconhecer feitos e conquistas. Elogie os bons comportamentos, o reforço positivo é a melhor saída sempre.
2. Autoestima – não adianta apenas “bajular” a criança o tempo todo, como dizer que ela é a mais linda ou a mais inteligente do mundo. Fortalecer sua autoestima significa criar um ambiente para que ela se sinta segura. Parabenize o esforço, nem sempre conseguimos realizar algo certo na primeira vez. A perseverança e a tentativa deve ser elogiada.
3. Resiliência – é a capacidade de lidar com problemas e superar desafios. Para exercitar essa habilidade, a criança precisa interagir com o outro e entender que nem sempre tudo sairá como o planejado. Muitas vezes é preciso esperar, em outras, ceder ou recuar. Ser tolerante é primordial para vivermos bem com as pessoas.
4. Frustrações – é importante que a criança experimente “choques de realidade”. Perder o lanche porque se atrasou na atividade, não brincar na quadra porque não cumpriu tarefas, não realizar o passeio no parque porque choveu… Frustrações são necessárias para aprender a lidar com o “não” das tantas situações futuras com as quais irá se deparar. Pode haver birra e choro, provavelmente, que devem ser acolhidos com afeto, mas também nominados no momento em que acontecem: “sei que você está com raiva ou decepcionado, mas você tem de lidar com isso”.
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