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Festa junina: quem vai ser o par das meninas e dos meninos pretos da sala?
Mês de junho é sinônimo de festejos juninos, quermesses, quadrilhas e muitas comidas e petiscos deliciosos. No geral, todo mundo gosta desta época do ano. Porém, para muitas pessoas pretas existe um detalhe agravante: o racismo institucional no ambiente escolar durante as festas juninas. Talvez, algumas pessoas digam que têm dificuldade em entender, mas pessoas pretas certamente compreenderão o texto abaixo.
Aqui irei relatar a minha vivência sobre as festas juninas na minha época da escola.
Sempre gostei das festas juninas por conta das comidas típicas, mas o fato de dançar quadrilha me deixava apreensivo. Ficava preocupado se alguma das meninas iria aceitar dançar comigo – o menino preto da sala. Principalmente por eu nunca ter feito parte da lista dos mais bonitos da turma, quiçá da escola. Eram esses que, automaticamente, formavam o casal principal: o noivo e a noiva.
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Durante anos, eu sonhava em estar nesse lugar de destaque e afirmação de que era bonito o suficiente para poder ser o noivo da festa junina. Acredito que muitas meninas pretas também já tiveram essa vontade de serem as noivas das suas quadrilhas escolares, mas não o puderam ser.
Convido todo mundo a recordar quem foram os noivos e noivas em suas épocas escolares. Tenho certeza que a grande maioria das pessoas irão lembrar de alunos e alunas de pele branca e cabelo liso, em que os bigodinhos e as sardinhas fakes realçavam a beleza deles – diferentemente da pele retinta em que o lápis preto da maquiagem mal aparecia. Sem falar nos chapéus de palha, acessório típico da época, que nem sempre encaixa na cabeça das meninas que têm cabelos crespos volumosos.
Trago esse tema hoje como uma provocação: como essa situação está sendo tratada atualmente? Será que os professores possuem uma preocupação mínima em evitar o racismo no ambiente escolar e incluir todos os alunos indiscriminadamente na festa?
Sei de escolas que hoje optam por danças sem pares, o que, talvez deixe as crianças menos apreensivas. É uma alternativa válida para chegarmos em um ponto mais pertencente para todos.
Indago também se os pais e mães, independentemente da cor da pele de seus filhos, estão lutando por uma escola antirracista onde seus filhos estão matriculados.
Essa preocupação é importante pois são impensáveis os traumas que o ambiente escolar racista pode causar numa criança de pele preta, que poderão reverberar até a fase adulta.
Escrevo esse texto, no auge dos meus 40 anos de idade, e com as feridas juninas cicatrizadas, desejando que todas as crianças pretas, em especial as meninas que gostam de dançar nos festejos juninos, possam, verdadeiramente, curtir os momentos de alegria e diversão dessa época do ano.
E para aquelas pessoas que ainda insistem em dizer que racismo não existe, eu grito alto e em bom tom: É MENTIRA!
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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Niltinho Ricardo
Pai preto de quatro filhos: Arthur, Heitor, Gael e Helenna. Também se apresenta como pai de autista, de gêmeos e padrasto da Anna. Fundador da comunidade paterna "The Dad’s Club", mediador de rodas de conversas reflexivas sobre paternidades e masculinidades, idealizador e host do Papo de Pai Podcast, e o coração pulsante por trás do IG @umPAPAIxonado.
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