Este sábado (26) é marcado pelo Dia Nacional pela Educação sem Violência e também pelos sete anos de criação da “Lei da Palmada” (Lei Menino Bernardo – 13.010/2014), que garante o direito de crianças e adolescentes serem educados sem uso do castigo físico e de tratamento cruel ou degradante. Porém, uma pesquisa recém-divulgada, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que atua na causa da primeira infância, revela que os pais brasileiros ainda estão distantes de cumprir a lei.
O estudo “Primeiríssima Infância – Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19” mostra que durante o isolamento social houve um aumento da adoção de práticas parentais negativas sobre as crianças. Um total de 67% dos pais entrevistados disseram recorrer a gritos, chacoalhões ou palmadas com os filhos. Eles também afirmaram ser comum segurar o braço da criança com força ou ainda chamá-la de burra ou chata.
Pais e mães representam 53% do total de 1036 homens e mulheres entrevistados de forma online ou presencial. Além dos genitores, foram ouvidos avôs, avós, tios, tias e outros parentes de todo o Brasil, entre 16 e 65 anos, e que representam as classes A, B, C e D. O objetivo do estudo, feito em março de 2021, era entender e mapear as relações de pais e responsáveis com as crianças de 0 a 3 anos, em todo o Brasil. O estudo foi elaborado sob consultoria da Kantar Ibope Media com o apoio da Porticus América Latina.
Para Paula Perim, diretora de comunicação da Fundação, algumas peculiaridades da pandemia ajudam a explicar o quadro. “A sobrecarga de trabalho, o acúmulo de funções, o estresse e a incerteza do momento de pandemia acabam elevando a tendência de uso de práticas negativas com a criança, embora essa não seja a regra”, analisa.
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Uso de palmada nos filhos cresce de 10% para 33% na pandemia
O uso da palmada como medida disciplinar foi adotado por 33% dos cuidadores segundo o estudo. Para a resposta, havia 11 alternativas múltiplas, com práticas positivas e negativas elencadas. Esse dado mostra um aumento em relação à primeira edição da pesquisa, feita antes da pandemia, em que cerca de 10% dos responsáveis responderam aplicar palmadas nos filhos em situações de birra ou desobediência. O grupo AB1 – composto principalmente de pessoas brancas (63%) e com ensino superior (62%) – foi o que menos fez uso das palmadas – 22% deles usaram esse recurso contra 39% do grupo D, por exemplo, cuja maioria dos respondentes (65%) é composta de pessoas negras e tem escolaridade básica, até o ensino fundamental (58%).
A psicóloga Juliana Prates Santana, que participou da análise dos dados da pesquisa, diz que a literatura mostra que, além do estresse e da sobrecarga, o aumento do tempo de convivência e das tensões nas relações interpessoais, bem como o medo e situações de vulnerabilidade social, podem tornar mais frequentes os episódios de agressão e maus-tratos contra crianças. “Se a pessoa está sobrecarregada, a tendência de ela usar práticas parentais negativas para impor disciplina é muito maior”, afirma a psicóloga no estudo.
Felizmente, boa parte dos cuidadores também disse dar preferência a práticas educativas positivas, como explicar o comportamento errado à criança (89%), distrai-la para tirar o foco da questão (94%), e conversar mostrando riscos e consequências (84%).
Regressão de comportamento
A pesquisa também confirma o que outros especialistas e estudos já ressaltaram sobre regressão de comportamento dos pequenos. Segundo o estudo da fundação, 27% das crianças voltaram a ter comportamentos de quando eram mais novas. Percentuais um pouco acima dessa média foram reportados nos segmentos socioeconômicos de maior renda e escolaridade, “possivelmente por deterem uma percepção mais aguçada”, comentou no estudo o pediatra Daniel Becker. Não houve diferenças de visão entre pais, mães e outros cuidadores. Pra Juliana, “é importante enfatizar que a regressão de comportamento num momento de tensão é algo esperado e geralmente transitório. As regressões são formas de exter-nalizar questões do contexto, como a chegada de um irmão e outras mudanças bruscas.”
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