Forma como a criança conta história tem relação com o seu desempenho em leitura, diz estudo 

Pesquisa avaliou como crianças em período de alfabetização contavam histórias

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Menina lê livro em pé, apoiada em estante de biblioteca
Foram analisados mais de 250 alunos do primeiro e segundo anos do ensino fundamental
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A maneira como a criança conta uma história tem relação direta com o seu desempenho em leitura – e isso vale mesmo para crianças que ainda não aprenderam a ler. Quanto mais avançam no aprendizado na escrita, mais complexas suas histórias se tornam, revelou um estudo publicado na revista científica Science of Learning, do grupo Nature. 

Os resultados mostraram que à medida que os estudantes produziam uma sequência de palavras com menos repetições, a conectividade nas narrativas orais aumentava. Isso sugere que quando as crianças usam um vocabulário mais diverso, suas histórias se tornam mais complexas e detalhadas. “Narrativas com maior conectividade estavam associadas a melhor consciência fonológica, compreensão de leitura e precisão de palavras”, explica a neurocientista Natália Mota, uma das responsáveis pelo estudo realizado pela startup brasileira de educação Mobile Brain. 

O aprendizado da leitura é essencial para a compreensão de conteúdos diversos, como ciências, história e geografia. À medida que o aluno aprende a ler, ele desenvolve também suas habilidades cognitivas e estruturas de linguagem mais complexas.  

Estudos anteriores sugeriram que a maneira como a criança conta histórias pode estar associado a seu desenvolvimento cognitivo, mas não havia muita clareza quanto à relação com as habilidades de leitura – o que foi explorado nesta nova pesquisa para identificar sinais precoces de dificuldades de leitura. 

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A pesquisa aponta que as narrativas orais podem prever habilidades de leitura na criança com meses de antecedência. Os resultados indicaram que as crianças que contaram as histórias mais complexas antes de sair de férias no meio do ano, foram as que tiveram melhor desempenho em avaliações de leitura no final do ano. O contrário também acontece: estudantes com narrativas menos complexas antes das férias apresentaram um pior desempenho em habilidades de leitura no final do ano. Os pesquisadores observaram que o período de férias prejudicou a aquisição de leitura adquirida previamente, mas ao longo do segundo semestre esse conhecimento foi retomado, apresentando resultados satisfatórios no final do ano. 

O estudo também destacou diferenças de gênero, com meninas demonstrando maior conectividade nas narrativas que os meninos, e padrões variados de associação com o desempenho na leitura. 

Modelo matemático para análise de narrativas 

A investigação foi realizada por meio de um estudo matemático aplicado via análise computacional de narrativas, que chegou até aos alunos em formato de “jogo” de contação de histórias. 

Ao longo dos 12 meses letivos, o estudo acompanhou 253 estudantes do primeiro e segundo anos do ensino fundamental. Conforme passavam pela alfabetização, as crianças eram estimuladas a contarem histórias a partir de três figuras e imagens positivas – um bebê, um cachorro e uma sobremesa. Assim, as narrativas de cada criança eram transcritas e concatenadas para criar um único texto que, em seguida, era analisado matematicamente para avaliar sua conectividade a partir de uma representação gráfica da sequência de palavras faladas pelo estudante (chamada grafo).  

Natália explica que o método utilizado na pesquisa já está em aplicação no Brasil. Chamado de LitMetrix, é utilizado como ferramenta escalável e de baixo custo para avaliar em grande escala o desenvolvimento cognitivo na produção de narrativas orais, relacionado à aquisição de leitura. A solução funciona a partir de uma avaliação lúdica e rápida, que pode ser feita online em cerca de 3 minutos, e traz informações cientificamente apuradas sobre o desenvolvimento cognitivo de alunos na educação básica. 

Segundo a neurocientista, a pesquisa significa um avanço na forma em que a leitura da criança é avaliada e apoiada no setor educacional. “Por meio de neurociência computacional, a abordagem torna-se acessível e escalável para monitorar o desenvolvimento cognitivo de crianças e propor abordagens efetivas para aproveitar o máximo potencial no período da alfabetização”, avalia. 

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