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Epidemia de apostas: jogos online atraem crianças e endividam as famílias

Nas últimas semanas, algumas manchetes me chamaram a atenção. “Brasileiros deixam de iniciar faculdade para gastar com apostas e jogos de azar, aponta pesquisa”. “Assaí diz que poder de compra de consumidores tem diminuído por causa de apostas esportivas”. “Brasileiros adotam apostas online como investimento e 14% da população utiliza aplicativos de bets para tentar ganhar dinheiro”. Essas manchetes mostram como as apostas esportivas e os jogos online se transformaram em uma febre na população brasileira. E as consequências negativas já assolam uma boa parte desses apostadores.
Nas consultorias de planejamento financeiro que faço para famílias e colaboradores de empresas, tem aumentado o número de endividados em função desses jogos. As pessoas começam a apostar na esperança de acumular algum dinheiro para realizar um objetivo ou mesmo quitar uma dívida. Muitos até ganham inicialmente, mas a maré de sorte acaba virando. E os prejuízos começam. Na esperança de reverter o resultado e diminuir os prejuízos, as pessoas apostam cada vez mais. Como não possuem mais recursos, começam a se endividar. Utilizam o limite do cartão de crédito, usam o limite do cheque especial e quando esses limites se esgotam, partem para empréstimos. Tenho acompanhado pessoas que acabam com dívidas que representam 30, 40 vezes a sua renda mensal. Só os juros para rolar essa dívida acabam consumindo a maior parte da renda mensal. Não sobra quase nada para as demais despesas da família, muito menos limite de crédito disponível.
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E o que tem gerado essa epidemia de jogos e apostas? Primeiro, a facilidade de apostar e jogar. Basta ter um celular e se cadastrar em uma das inúmeras casas de apostas ou jogos online criados nos últimos anos. Esses sites estão cada vez mais populares pelo investimento em publicidade, inclusive, patrocínios a grandes times de futebol do país. Influenciadores digitais com milhões de seguidores não param de mostrar a “facilidade” de ganhar. Principalmente para eles que recebem milhões em patrocínio para divulgar os jogos.
O governo está interessado na regulamentação desses jogos e apostas, principalmente pelo potencial de arrecadação de licenças e tributos. E mostra uma preocupação menor com a educação da população e o tratamento dos já viciados na jogatina.
Para piorar tudo, muitas reportagens têm mostrado que jogos e apostas estão cada vez mais perto de crianças e adolescentes. Em uma recente palestra que dei para adolescentes, um deles se gabava de ter ganho em um único dia um valor que correspondia a 15 dias de salário do pai. Muitos deles já acreditam que jogos e apostas são uma possível fonte de renda. E muito pais ainda acham que esses jogos são inocentes. Precisamos agir imediatamente. Os prejuízos estão só se acumulando!
Carlos Eduardo Costa
Carlos Eduardo Freitas Costa é pai de Maria Eduarda e do João Pedro. Tem formação em ciências econômicas pela UFMG, especialização em marketing e em finanças empresariais e mestrado em administração. É autor de diversos livros sobre educação financeira para adultos e crianças, entre os quais: 'No trabalho do papai' e 'No supermercado', além da coleção 'Meu Dinheirinho'. Saiba mais em @meu.dinheiro
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