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O despreparo de escolas e professores na tela
A tecnologia permite estarmos juntos, mesmo a distância. É um junto diferente, que navega pelas ondas do wi-fi, pelo cabo da fibra ótica, pelo sinal do satélite. De uma hora para outra, quando o novo coronavírus provocou o fechamento das escolas, o jeito foi correr para o computador, para o celular e improvisar aulas virtuais. Para quem tinha acesso à internet, o ensino on-line foi a saída.
A nova rotina logo jogou luz sobre a inexperiência e o despreparo das nossas redes de ensino para oferecer educação a distância. Apesar do esforço de muitos gestores, professores, alunos e de seus pais ou responsáveis, o caminho é longo. Sem falar nos milhões de excluídos digitais, para quem os ambientes virtuais de aprendizagem são inacessíveis.
Como tudo na pandemia, o desafio não é só brasileiro: mais de 190 países fecharam escolas e 1,5 bilhão de alunos ficaram na dependência do ensino remoto. Cada um na sua casa e, nas turmas de ensino on-line, todos conectados por fios, telas, teclados, mouses, microfones, câmeras, fones-de-ouvido e alto-falantes.
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Uma recente pesquisa do Instituto Península mostrou o que a maioria dos pais já percebeu: 88% dos professores disseram que nunca tinham lecionado virtualmente antes da covid-19. Praticamente nove em cada dez. O levantamento ouviu 7.734 professores da educação básica em todo o Brasil, entre 13 de abril e 14 de maio. Portanto, já depois da suspensão das aulas presenciais.
Outro dado preocupante é que 83% dos docentes afirmaram sentir-se nada ou pouco preparados para o ensino remoto.
Impressiona também que mais da metade deles (55%) tenha dito que não recebeu suporte nem capacitação para ensinar fora do ambiente escolar. Isso em pleno isolamento social, com o ensino on-line já em andamento. Por outro lado, três em cada quatro professores (75%) declararam que gostariam de receber apoio e qualificação.
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Especialistas recomendam que as escolas não tentem transpor, para o ambiente virtual, as mesmas práticas pedagógicas das aulas presenciais. No ensino mediado por tecnologia, professores e alunos não estão no mesmo lugar ao mesmo tempo. E isso faz toda a diferença.
Vale para a própria comunicação: antes de dar bom dia à turma, convém verificar se os alunos estão conectados e em condições de ouvir. O inverso é igualmente verdadeiro: cada estudante deve ter a segurança de que sua voz e suas mensagens chegarão à tela do professor. Aí, sim, a aula pode começar.
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Demétrio Weber
Demétrio Weber é jornalista, mestre em Direitos Humanos, Cidadania e Violência e criador do blog Educa 2022. Como repórter nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, entre 1995 e 2015, especializou-se na cobertura de educação. Foi também assessor de imprensa e consultor da UNESCO no Brasil.
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2 comentários para “O despreparo de escolas e professores na tela”
O professor da rede pública é obrigado por lei a dar aulas remotas?
Olá, Maria Letícia, tudo bem? Segundo consulta que fizemos ao Consed (Conselho Nacional de Secretários da Educação), em geral, os editais dos concursos para professores definem apenas a área geográfica de atuação, a carga horária e a disciplina, mas não falam em como esse trabalho deve ser realizado. Se o ensino será remoto ou presencial cabe ao ao secretário de educação (de cada estado) determinar, desde que dentro do limite de horas para o qual o professor foi contratado. Você deve portanto observar quais foram as orientações dadas pela secretaria de educação de seu estado e /ou município. Abs, Verônica.