Desde que as escolas tiveram suas aulas presenciais suspensas, em março de 2020, por conta da pandemia de coronavírus, as famílias brasileiras (e de todo o mundo) tiveram que se adaptar à uma nova rotina: crianças em casa o tempo todo. E com um desafio a mais: participar das aulas de modo remoto.
Montar uma nova rotina da família, conciliar trabalho em home office com a escola dos filhos, além de tentar dar conta de todas as outras tarefas de casa foi (e está sendo) um desafio para a maioria dos pais.
E, mesmo com escolas de algumas regiões do Brasil liberadas para a volta do ensino presencial, muitas instituições optaram pela conclusão do ano a distância e alguns especialistas já falam sobre a possibilidade de um ensino híbrido para o futuro.
Além disso, o Conselho Nacional de Educação autorizou hoje (6/10), por unanimidade, que escolas da rede pública e particulares façam aulas remotas até o final de 2021, caso seja a opção decidida pela rede.
Ou seja, o ensino remoto é uma realidade que pode estar presente por mais algum tempo e, por isso, educadores indicam que os pais busquem sempre se adaptar à situação, mesmo que ainda estejam com dificuldades.
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Mudança repentina
A alteração na rotina foi um dos fatores que dificultou a adaptação na família de Andréa de Souza Silva e Sérgio de Menezes, pais de Laura, de 10 anos. “A gente não parava em casa, só vinha para dormir. Com a pandemia a gente acabou ficando só aqui e nos primeiros dois meses a gente também não sabia muito o que fazer. Ficamos em um período nebuloso”, contam.
Mesmo assim, estavam confiantes: Laura já era estudiosa e participativa e, por isso, imaginaram que ela tiraria de letra as atividades e aulas do ensino remoto. “Mas quando a gente percebeu, ela estava muito desanimada, sem vontade de fazer atividades ou assistir à aula. Essa foi nossa maior dificuldade”, comentou a mãe.
“Quando a gente percebeu, ela [filha] estava muito desanimada, sem vontade de fazer atividades ou assistir à aula. Essa foi nossa maior dificuldade”
Andréa de Souza Silva, mãe de Laura, de 10 anos
Por isso, a família buscou, juntos, outra estratégia. Andréa passou, então, a acompanhar de perto o ensino remoto e as atividades exigidas. Na visão dos pais, essa medida foi essencial para que a filha conseguisse retomar os estudos de forma mais clara e organizada.
Mas organizar todos os detalhes da vida foi e continua sendo um desafio. “Dar conta de tudo é difícil, na verdade não estamos dando (risos). Ficamos muito sobrecarregados para lidar com tudo, principalmente a Andréa que estava acompanhando a aula com a Laura, eu com meu trabalho, com todo mundo em casa”, conta Sérgio.
Dessa forma, mesmo com a estratégia, a lista de tarefas continua crescendo e a maneira que encontraram é listar todas as atividades de forma visível e ir fazendo aos poucos o que é possível no tempo que têm. “Na minha opinião, fazer tudo isso é um privilégio, nem todas as crianças tem como ter alguém para acompanhar e ver o que está sendo feito”, comenta a mãe.
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“Ser mãe é diferente de ser professora”
A estratégia adotada pela família Sérgio e Andréa deu certo com a filha, mas não é a realidade de muitos pais e mães pelo Brasil. De acordo com uma pesquisa publicada no jornal O Globo, dois em cada três pais afirmaram ter dificuldades com o ensino remoto.
Essa dificuldade já era esperada, principalmente porque, segundo especialistas, os pais não estão preparados pedagogicamente para atender às necessidades das crianças. E mesmo quando há o conhecimento, mesmo assim pode surgir dificuldades.
Esse foi o caso de Lilian Gomes Coimbra que é educadora há mais de 23 anos, mas que teve problemas no ensino remoto dos seus filhos João Pedro, de 11 anos, e Antônio. “Muita gente me fala: ‘mas você é professora, já sabe como fazer’. Na verdade, existem dois pontos que precisamos deixar claro: o lugar de professora é um e o lugar de mãe é outro”, afirma, contando que em sua casa também foi difícil se adaptar à nova rotina e conciliar tudo. “Eu como mãe, também tive as mesmas dificuldades que qualquer um. De organizar o tempo, de fazer home office… foi muito complicado organizar tudo isso”, comenta.
“Muita gente me fala: ‘mas você é professora, já sabe como fazer’. Na verdade, existem dois pontos que precisamos deixar claro: o lugar de professora é um e o lugar de mãe é outro”
Lilian Gomes Coimbra, educadora e mãe
Ela, que também é dona de escola de ensino infantil, diz que aplica em sua vida o conselho que dá para os pais de seus alunos: “Não tento ocupar o espaço das professoras dos meus filhos. Eu faço o que consigo ajudar, como um apoio. Tem coisa que não sei como ajudar”.
E assim como a maior parte das famílias, seus filhos também ficaram desmotivados e as tarefas se acumularam. “Chegou um momento que ficou tão cansativo que eu falei para eles que íamos parar duas semanas. Eles foram pescar com os pais e eu fiquei fazendo minhas coisas, porque eu também estava sobrecarregada”.
Depois do pequeno descanso, a família combinou que retomaria as atividades que havia deixado para trás. Segundo Lilian, ainda tem muita coisa a ser feita, mas ela não está se cobrando tanto mais. “As nossas coisas não estão em dia e não sei se ficarão até eles voltarem para a escola. Mas eu estou tranquila em relação a isso. O mais importante, na minha opinião, é não desistir”, finaliza.
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Persistência no ensino remoto
Essa constância pode ser um desafio para as famílias. Depois de meses em ensino remoto e com menor contato com o mundo exterior, é normal que tanto os pais quanto as crianças estejam cansados e desanimados. Além das aulas remotas, também é pedido aos pais que façam as tarefas e as atividades, o que pode acabar sobrecarregando toda a família e sua rotina, não apenas as crianças.
Mesmo com as dificuldades, especialistas em educação afirmam que é importante persistir, pois o que é aprendido agora fará, sim, diferença no futuro. “Abandonar o ensino remoto significa não só o filho deixar de aprender, mas também perder parte do conteúdo que ele já aprendeu em outros momentos. Quando a criança fica muito tempo longe das atividades, o cérebro vai enfraquecendo as ligações que já foram feitas, explicam Taís Bento e Roberta Bento, fundadoras do SOS Educação e especialistas na relação Família-Escola.
“Abandonar o ensino remoto significa não só o filho deixar de aprender, mas também perder parte do conteúdo que ele já aprendeu em outros momentos”
Taís Bento e Roberta Bento, fundadoras do SOS Educação
O lado emocional também pode ficar abalado, uma vez que a criança perdeu o espaço de inserção social. Assim, é possível notar que ela está cansada, sem paciência, apresenta hábitos confusos e horários trocados. Na verdade, especialistas do mundo todo apontam que as consequências do ensino remoto e falhas na educação serão percebidas durante as próximas gerações. “O que também vai ser levado para o resto da vida é que o aluno que parar de tentar e de se esforçar agora, perde a oportunidade de desenvolver a capacidade de superação”, afirma as especialistas da SOS comunicação.
Se sua família faz parte da parcela que acabou abrindo mão do ensino remoto ou que está com muita dificuldade em lidar com as atividades, pode ficar tranquilo: mesmo depois de tanto tempo, ainda é possível incentivar os filhos na hora do ensino remoto.
Para ajudar nisso, preparamos abaixo com a ajuda de especialistas dicas para auxiliar os familiares nessa tarefa. Confira!
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4 dicas para tornar o ensino remoto mais produtivo
Educadores afirmam que nem sempre a criança vai ter a percepção da importância, do compromisso e da responsabilidade de seguir firme no ensino remoto e cabe aos pais mostrar que esperam isso dela e incentivá-la nos estudos.
1. Lições atrasadas
De acordo com as especialistas, muitos pais podem se desesperar para “correr atrás do prejuízo” e tentar cumprir com todas as lições passadas, mas é preciso fazer isso de forma estratégica.
“Para crianças pequenas, até o 5 ou 6 anos, é ‘bola pra frente’. A criança maior, vai precisar correr um pouco atrás. Porém, é inviável fazer tudo, os próprios pais não vão ter tempo e às vezes nem conhecimento do conteúdo e a criança também está cansada. Para saber o que vale a pena, é bom falar com o professor e às vezes investir em um reforço escolar com um profissional especializado”, explica Tatiana Camargo Lamego, professora e especialista em neuroeducação e que comanda a Bem Família Tutoria (para autonomia das crianças nos estudos).
As especialistas da SOS Educação indicam uma estratégia que pode ser feita pelos pais que estão preocupados com o atraso no ensino remoto: “A nossa recomendação é deixar de lado tudo o que está acumulado, provisoriamente. E começar do zero uma nova semana, em que a criança vai participar da aula e fazer a atividade daquele dia, sem deixar para trás. Passa uma semana inteira fazendo a rotina assim, esquecendo das atividades que ficaram acumuladas”.
Depois, de acordo com elas, os pais podem pegar as tarefas atrasadas e acrescentá-las no momento de estudo daquele dia. Assim, aos poucos, é possível retomar algumas atividades perdidas.
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2. Valorize o ensino
“A primeira questão é que os pais precisam valorizar a escola e a aprendizagem. É importante evitar se queixar sobre a aula na frente das crianças”, afirma Tatiana, dizendo que é preciso que o pai tenha interesse em saber sobre o que está acontecendo na aula, o que ele está aprendendo e mostrar que é um apoio para o filho por meio de elogios e incentivos.
Muitas vezes os pais que estão com dificuldade em lidar com tudo e acabam passando esse sentimento para as crianças. É preciso separar o que é sentimento do adulto e o que de fato a criança está sentindo. De acordo com as especialistas, a criança consegue perceber quando seu esforço está sendo reconhecido pelos pais ou não.
3. Dê outros estímulos para a criança
Para um desenvolvimento global, é preciso mais do que apenas o ensino escolar. Por isso, passando por uma pandemia ou não, a profissional da Bem Família afirma que os pais precisam estimular outras atividades em seus filhos, que o ajudarão para o resto da vida.
Atividades, como leitura, exercício, música e artes podem trazer tanto aprendizado quanto as aulas do ensino remoto e, por isso, podem ser uma forma de continuar contribuindo com o desenvolvimento dela mesmo quando a família não está conseguindo acompanhar todas as atividades do ensino remoto.
4. Monte uma rotina
Quando se fala de educação durante o isolamento ou não, uma indicação foi unânime entre as especialistas: é importante montar uma rotina para a criança – e, consequentemente, para a família. A partir da organização dos dias, a criança consegue fazer suas atividades de forma mais leve, entende melhor o que é esperado dela e continua se desenvolvendo.
Tatiana utiliza a metodologia que chama de ABCDT que, de acordo com ela, garante que o desenvolvimento da criança seja completo e auxilia no dia a dia das crianças. Os pontos são:
- A – aprender;
- B – brincar;
- C – comer;
- D – dormir;
- T – tempo livre.
Mas como colocar esses elementos na rotina da crianças? “A ideia é eleger 2 ou 3 combinados para começar. Por exemplo, o combinado do horário do estudo, da organização do material, de fazer um momento de leitura em família ou algo lúdico.Se a criança não tem rotina, é indicado começar aos poucos, não exigir tanto, mas ter o foco de onde se quer chegar”, explica Tatiana.
Da mesma forma, as especialistas da SOS Educação também valorizam uma rotina que desenvolva diversas características das crianças. Elas elaboraram um plano com 6 pontos essenciais que, distribuídos na rotina durante a semana, auxiliam tanto nos estudos quanto no desenvolvimento das crianças.
- Compartilhar responsabilidade dentro de casa;
- Fazer uma atividade física na semana;
- Brincar no concreto, sem telas;
- Ter horário certo de dormir;
- Ter momento de estudo, diariamente;
- Ter uma hora da leitura, fora do momento de estudo.
As especialistas da SOS Educação também preparam um material para download gratuito para montar uma rotina com a família toda durante a quarentena. Clique aqui para baixar!
Mesmo com a retomada de aulas presenciais em alguns locais, o ensino remoto ainda é uma realidade para muitos e vai continuar sendo, mesmo que de forma híbrida, por mais um tempo. Por isso, as especialistas reiteram: é papel dos pais mostrar a importância do ensino remoto, de estar presente naquele compromisso e é preciso persistir nas atividades, da melhor forma que for possível para a família.
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