A criança precisa aprender a fazer escolhas

As crianças devem entender a importância que o “ou” terá em nossas vidas. De um lado, os desejos e as vontades, do outro, os recursos, que são limitados

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Ensinar a criança a fazer escolhas é fundamental para sua autonomia. Nesta ilustração, duas imagens do mesmo garoto o mostram em dúvida (com sinal de interrogação no ar) e depois sorridente (como que decidido).
Ensinar a criança a fazer escolhas é fundamental para que entendam a diferença entre desejos e recursos
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Ensinar a criança a fazer escolhas é uma das tarefas mais importantes para os pais. Afinal, ao longo de nossa vida várias escolhas serão feitas. No passado, o papel de escolher ficava restrito aos pais e mães. Eram eles que definiam tudo a respeito da vida dos filhos. O que elas iriam comer, qual a roupa a ser vestida. Hoje essa realidade mudou bastante. É cada vez mais comum, os próprios filhos fazerem suas escolhas. Mas será que estão aprendendo da forma mais correta?

Primeiro é importante entender a importância do processo da escolha. Ela é fundamental para resolver um dilema que temos a todo o momento. Se nossa vida pudesse ser resumida a uma balança antiga (aquela de dois pratos), de um lado teríamos os nossos desejos e vontades. E eles costumam ser ilimitados. Mas no outro prato estão os nossos recursos e eles, por sua vez, são limitados.

O tempo, por exemplo, é o recurso mais precioso de todos. Gostaríamos de fazer mais e mais coisas a cada dia. Mas o dia de cada uma está limitado a 24 horas. Fica impossível, então, realizar tudo aquilo que foi planejado. Da mesma forma acontece com o dinheiro. Nem sempre ele existirá em quantidade suficiente para se fazer tudo aquilo que se deseja. E qual seria a única saída? Escolher. Saber que não se pode realizar tudo. É preciso que isso seja pouco a pouco compreendido por uma criança.

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Mas ensinar a criança a fazer escolhas não vale para tudo. Os pais precisam exercer o seu poder nas questões sob sua responsabilidade. Os horários das atividades, por exemplo, devem respeitar a organização da vida familiar. Toda a rotina familiar pode ficar desajustada caso a escolha do horário de realizar a tarefa escolar fique sob a responsabilidade de uma criança.

Outro exemplo é a definição da alimentação. Somente os pais conseguem compreender a importância de uma alimentação mais
saudável. Ela por sua vez está mais preocupada com a satisfação de desejos mais imediatos. Claro que buscará sempre os alimentos que a irá satisfazer naquele momento.

É importante também compreender que a capacidade de escolha de uma criança vai se construindo ao longo do tempo. Por isso, a complexidade das escolhas deve acompanhar essa evolução. No início, os pais irão ensinar a criança a fazer escolhas entre dois brinquedos, por exemplo, depois, a de uma parte do vestuário, e assim por diante. O número de alternativas também deve ser limitado. Ao invés de perguntar para ela com o que ela quer brincar, inicialmente devem ser oferecidas duas alternativas. Brinquedo A ou brinquedo B. E o leque de alternativas deverá crescer aos poucos. As crianças devem entender desde cedo a importância que o “ou” terá em nossas vidas. Uma coisa ou outra.

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Cecília Meireles, já na década de 60, escreveu uma poesia que resume bem o dilema das escolhas. E que estará presente em nossas vidas independente da idade.

Ou isto ou aquilo (Cecília Meireles)
“Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo”.

O momento que estamos vivendo traz uma importância ainda maior em relação as nossas escolhas. Estamos sofrendo uma limitação muito grande em relação aos nossos recursos. Muitas famílias já tiveram sua renda diminuída. Nosso espaço físico está limitado. Muitas pessoas estão isoladas em suas residências. É fundamental então que nossas escolhas hoje sejam ainda mais assertivas!

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Carlos Eduardo Costa
Carlos Eduardo Freitas Costa é pai de Maria Eduarda e do João Pedro. Tem formação em ciências econômicas pela UFMG, especialização em marketing e em finanças empresariais e mestrado em administração. É autor de diversos livros sobre educação financeira para adultos e crianças, entre os quais: 'No trabalho do papai' e 'No supermercado', além da coleção 'Meu Dinheirinho'. Saiba mais em @meu.dinheiro

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