Em busca da mãe dourada

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    Cris GuerraUm dos trajetos de Belo Horizonte a Tiradentes passa por uma pequena cidade chamada Lagoa Dourada, conhecida como a capital nacional do rocambole. Tudo começou em um pequeno bar no município, que servia, entre outros, o doce a seus clientes. Com a criação de uma embalagem especial para viagem, a receita feita originalmente de pão de ló com recheio de doce de leite ganhou notoriedade (e fãs) por outras redondezas. E passou a atrair tantas visitas que acabou fomentando novos pontos do comércio local.

    Hoje, quem passa pela cidadezinha não tem como identificar que assinatura levaria o rocambole que deu origem à série. O que não é motivo para preocupação: em qualquer ponto de venda ele será sempre uma delícia. A febre se espalhou de tal forma que “o legítimo rocambole” concorre com “o famoso”, “o delicioso”, “o rei”, “o tradicional”. Difícil mesmo é resistir.

    A história dos rocamboles de Lagoa Dourada lembra a minha sensação no começo da maternidade, quando eu interagia com outras mães. Eu tinha a tendência de identificar nelas os sinais de que eram qualificadas, certificadas, e tinha a nítida impressão de que eu não passava de uma imitação barata, uma tentativa equivocada de ser mãe.

    Eu não sentia tanta culpa — e me culpava por isso. Eu me considerava imatura para educar um filho, sensação que ainda não passou — tenho 45 anos e meu filho, 9.

    Ainda hoje, eu me deparo com algumas mães que passam uma imagem de tão absoluta segurança, centramento e retidão que sempre me sinto uma farsa. Mas observo Francisco e vejo nele um bom menino. As pessoas o elogiam, dizem que é doce, amoroso, delicado. E a minha tendência é dizer que “o mérito é todo dele”. Não, ora bolas. O mérito é meu também.

    Depois de várias passagens por Lagoa Dourada, posso dizer com segurança que ali qualquer rocambole é bom: o legítimo, o rei, o verdadeiro, o pioneiro, o “receita original”. Nenhum é igual a outro, embora tenha os mesmos ingredientes. Mães também são feitas de medos, fraquezas e desafios. O que as diferencia é sua forma de lidar com eles.

    O resultado varia sutilmente. Entre os rocamboles, há quem prefira a massa mais fina. Ou mais recheio. Prefiro o mais macio e com o tradicional doce de leite. Mas o cardápio varia: tem de brigadeiro, goiabada, cocada, geleia — quando imagino que inventaram uma composição estapafúrdia, descubro logo um fã que a venere.

    Mães são assim. Cada uma delas compõe sua receita. Todas mães. Iguais e diferentes. Adoráveis. E absolutamente únicas.

    Cris Guerra e o filho Francisco


    Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna diária na rádio Band News FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade.

    contato   [email protected]

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