‘Dê seu tempo como se ele fosse um cartão de crédito afetivo’

Neste Dia das Crianças, autor do livro "Paiciência na prática", Geninho Goes lembra que mais que brinquedos, as crianças querem desfrutar de momentos com os pais que as façam se sentir amadas, acolhidas e seguras

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Família brinca feliz
Brincar e rir junto com os filhos é uma forma de fortalecer a relação em família
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Por Geninho Goes* – A vida adulta pode ser uma corrida incessante, e é compreensível que nossos filhos muitas vezes se perguntem o que fazemos o dia todo. Para eles, nosso trabalho pode ser algo misterioso, obscurecido por longas horas e compromissos aparentemente intermináveis. Para as crianças, parece que os adultos trabalham incansavelmente por um cartão mágico, aquele que funciona para comprar todas as coisas que desejamos.

Um dia desses, assistindo a um vídeo de uma criança que questionava a mãe sobre o motivo de ela trabalhar tanto, eu me lembrei da minha infância: minha mãe, que criou três filhos sozinha, saía de casa quando eu ainda dormia e voltava quando eu já estava na cama, e aos finais de semana continuava trabalhando em casa. No vídeo que despertou meu olhar, o filho dizia à mãe que eles já tinham casa para morar, carro e uma vida confortável, e ele queria que a mãe ficasse mais tempo ao seu lado. Ele questionava: Para que você quer mais?

A criança valoriza o tempo presente e ainda não foi contaminada pelo medo e pelas incertezas do futuro, tão comuns na vida ansiosa dos adultos. O tempo presente é o que mais interessa para a criança. Me refiro à presença de qualidade e não apenas ao tempo em quantidade quando cito a importância de estar com seu filho. Esse é o presente que ele deseja, e o que eu desejava na minha infância, mas não sabia explicar.

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Hoje, as crianças são facilmente distraídas por inúmeras opções de entretenimento, como televisão, celular e videogames que os pais usam até mesmo para ocupar o tempo que passam ausentes. Esses brinquedos acumulam-se, às vezes, fazendo com que esqueçamos o que realmente importa.

Nesse sentido, qual seria o melhor presente para o Dia das Crianças, além dos brinquedos? Sua presença. Dê seu tempo como se ele fosse um cartão de crédito afetivo com algumas horas que podem ser desfrutadas com seu filho.

Voltando à minha infância, quando me lembro da minha mãe, sinceramente não me vêm a cabeça os momentos em que eu abria um presente – mesmo porque isso era raro –, mas os momentos, por poucos que fossem, em que eu me sentia amado, acolhido, seguro e me divertindo ao lado dela.

Acredito que, se eu soubesse expressar meus desejos, escreveria algo assim, e talvez tenha sido exatamente isso que a minha criança interior ouviu aquele menino falar à mãe sobre a necessidade da companhia dela.

– Quero que me ouçam atentamente, olhando nos meus olhos.

– Quero abraços apertados e palavras de amor.

– Quero que me ajudem com minha tarefa de escola sem se irritarem.

– Quero que leiam um livro comigo.

– Quero compartilhar uma refeição com vocês.

– Quero aprender a agradecer.

– Quero assistir a um desenho com vocês.

– Quero conhecer brincadeiras da infância de vocês.

– Quero ouvir histórias sobre a infância de vocês.

– Quero aprender a cozinhar com você.

– Quero jogar bola com vocês.

– Quero fazer arte com vocês.

– Quero sentir cócegas nos meus pés.

– Quero aprender coisas novas com vocês.

– Quero ser arremessado no ar.

– Quero acordar com seus sorrisos.

– Quando for dormir, quero saber que estão rezando por mim.

– Quero que me mostrem que a vida além do celular é interessante.

– Quero que me desafiem a ser uma pessoa melhor.

– Quero que demonstrem que se importam comigo.

– Quero que me elogiem com sinceridade quando eu merecer.

– Quero que escrevam bilhetes para mim.

– Quero que me encorajem quando eu tiver medo.

– Quero que estabeleçam limites, pois, se me deixarem muito livre, vou me sentir perdido.

A infância é curta e todos nós deixamos de ser crianças um dia. Ela dura apenas 12 anos, o que significa que temos pouco tempo. Portanto, dê seu tempo neste Dia das Crianças. Embora um brinquedo possa deixar seu filho feliz, aprendi que nossas percepções de valor são diferentes. Sim, a criança quer o brinquedo, mas em longo prazo é a real presença dos pais que fará falta quando ela se tornar um adulto, compondo um vazio que buscará preencher com coisas, usando o tal cartão mágico.

*Geninho Goes é autor do livro Paiciência na prática e criador de um movimento com o mesmo nome que inspira pais nas redes sociais. Ele e seu companheiro Eduardo Domingos se tornaram pais de cinco crianças da noite para o dia, com desafios que vão da fralda ao absorvente. Empresário, abdicou do cargo de Secretário de Turismo de Balneário Camboriú (SC) para se dedicar à família. 

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