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Cris Guerra: ‘Maternidade virou troféu. Quem se sacrifica mais?’

Por Cris Guerra
Natural, sem anestesia, de cócoras ou numa piscina no meio da sala de casa. De preferência, cantarolando My Way. Esse é o modelo de parto da atualidade, tempo em que todo ser humano tem uma certeza para ostentar. Muitas futuras mães começam a procura por médicos que abarquem essa proposta ainda na fase de planejamento da gravidez, e algumas se desapontam antes mesmo do primeiro exame positivo – quando ele vem, claro, porque não conseguir engravidar é a primeira das muitas possibilidades de frustração que envolvem a maternidade.
Frustração, aliás, é palavra que já vem no pacote – mas há quem insista em ignorar o item como quem pede pra tirar o queijo do sanduíche (natural, diga-se de passagem).
São mães que querem criar filhos no controle remoto, até descobrirem que o aparelhinho é “xing ling”: para de funcionar depois do primeiro tombo.
Se ficaram para trás os tempos em que cada mulher tinha uma fórmula ideal para a criação de filhos, entramos na era em que a receita é uma só — e ai de quem improvisar. Ser mãe agora é planejamento de carreira, incluindo as planilhas de Excel, nas quais não cabe o acaso nem o incontrolável.
Maternidade virou troféu. Quem se sacrifica mais? Quem está mais preparada? O que o seu filho leva para o lanche? A intensidade da dor é um dos quesitos da competição. Ser mãe anda sofrido demais. “Imagine, no meu tempo as fraldas eram de pano!”, dirão as avós e as bisavós, chegadas numa penitência. Mas o pacote de fraldas descartáveis de hoje vem com a culpa embutida – “que ecossistema vou deixar para o meu filho?”.
Acontece que não dá para fazer uma omelete sem quebrar os ovos. Se as fraldas andam caras, o pacote — maternidade está impraticável. E o que se desembrulha primeiro é um leque de decepções, já que decidir ter um filho é estar constantemente à prova de imprevistos. O que nos traz a pergunta mais importante: que mãe preparará um filho para lidar com a realidade que ela mesma é incapaz de aceitar?
Talvez, trocando experiências e falando sobre as reais dificuldades de se criar filhos, a mágica finalmente possa acontecer. Talvez, dando-se as mãos, as mães possam fazer consigo mesmas o que fazem com seus filhos a duras penas: educarem-se para serem mais felizes. Está faltando uma disciplina na lição de casa dessas mulheres: entrega. Não há como levar a vida sem um bocadinho de fé.
Criar filhos é o exercício diário da imperfeição. E ensinar nossos filhos a ser humanos – com todos os erros que essa condição inclui – talvez seja a lição mais preciosa que possamos deixar para eles. Tentar fazer o melhor é lindo. Mas usar a maternidade como medida é a maior prova de que precisamos crescer.
Quer uma sugestão? Dispense o troféu e as expectativas: fique só com a criança. Vai ser bem mais leve seguir adiante.
Canguru News
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