Crianças Yanomamis: o que cada um de nós pode fazer?

Cobrar da escola uma postura cidadã em relação a datas como o Dia dos Índios, seguir perfis indígenas nas redes sociais e ler livros escritos por esses povos são formas de se aproximar deles e ajudá-los, afirma o terapeuta Alexandre Coimbra Amaral

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Indígenas Yanomamis
Povo Yanomami | Foto: Marcos Wesley/ISA, 2016
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A situação de calamidade sanitária do povo Yanomami, em Roraima, que levou à morte 570 crianças, chocou o país e o mundo. O estado deplorável dos indígenas, afetados por problemas graves de desnutrição, malária, infecção respiratória aguda e contaminação por mercúrio, fez com que o Ministério da Saúde decretasse emergência de saúde pública. Uma série de ações humanitárias têm sido promovidas pelo próprio ministério e por organizações como a Central Única das Favelas (Cufa) e Frente Nacional Antirracista para socorrer esse povo. Nas redes sociais, muitos perfis abordaram o assunto. O psicólogo e escritor Alexandre Coimbra Amaral fez uma lista de sugestões do que pessoas “distantes dessa realidade, em estado de angústia e impotência”, podem fazer “para que sejamos ação dignificante destas vidas”. Para Amaral, “não há nada mais importante no Brasil atual que o sofrimento das crianças yanomamis escancarado aos nossos sentidos”. Veja recomendações do terapeuta abaixo.

  1. “Indígena” não é um conceito abstrato. São milhares de brasileiros diferentes entre si, oriundos de povos com idioma e cultura próprios. Eles merecem que você os perceba como gente viva, com história pra contar. Eles fazem muito pela vida na Terra, fazem arte, filosofam, trabalham muito, pensam o país que querem que se invente. Conheça perfis indígenas, siga estas pessoas que estão mostrando sua cara ao mundo.
  2. Abomine qualquer iniciativa que transforme indígenas em fantasia – atenção especial ao 19 de Abril. Cobre da escola dos seus filhos uma postura mais cidadã com estes povos, ao invés de transformar tudo num supostamente inofensivo bailinho de carnaval. Não é. Este tipo de atitude os desumaniza, transformando-os em caricatura, fazendo deles um tipo “exótico” de humano. Eles precisam é de visibilidade, respeito, dignificação pública de suas existências.
  3. Leia literatura indígena. Eu sugiro o imenso tratado de sabedoria yanomami “A queda do céu”, em que o ancião Davi Kopenawa Yanomami traz palavras que precisamos escutar com o coração aberto e com o corpo pronto para arrepiar. Ler este livro vai ser um antes e depois na sua percepção sobre a vida. Eu vou repetir: este livro vai transformar sua maneira de se aproximar de tudo o que é vivo, de tudo o que é humano, de todos os absurdos que nós fazemos com a vida.
  4. Leia literatura indígena para os seus filhos. Há uma imensidão de autores maravilhosos no Brasil, sendo cada vez mais publicados. Busque estes livros nas livrarias que você compra normalmente. Um bom livreiro vai te ajudar nessa curadoria. Se quer uma dica, comece por Daniel Munduruku, um poeta que faz da flecha um arco de palavras belas que unem gentes aparentemente díspares.
  5. Leia filosofia indígena. Ailton Krenak é um dos maiores expoentes do pensamento ocidental, e tem tivros escritos para pulverizar o mundo com suas perguntas inquietantes. São pequenos, mas dizem coisas que fazem silenciar muitas respirações em nós. renak é um dos pensadores a que eu recorro com muita frequência. E me sinto um ser humano melhor por isso.
  6. Entenda todo o contexto econômico por trás do massacre do povo yanomami. É sempre a partir da exploração desmedida das riquezas que habitam os territórios indígenas que se faz a detração destas culturas e destes povos. O governo anterior trabalhou veementemente para exterminar estes povos, e a falta de humanidade do poder público é filha do apreço criminoso ao lucro. Economia e política são o lastro do que pode preservar estes brasileiros, guardiões de todos nós.
  7. Aproxime-se de tudo o que for indígena como aprendiz. Perceba que fomos ensinados a sermos brancos salvadores, e este não é o nosso lugar. É possível ser aliado e ainda assim querer ativamente aprender com eles, com sua sabedoria ancestral que pode nos ofertar um tanto de esperança no que possa ainda resistir e existir. Aprender com eles é aumentar nossa humanidade. Aprender com eles é sentir o brilho da vida indicando a direção da reconstrução do mundo.

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