Por Ana Gabriela Souza Lemos
É hora do recreio. Bato corda enquanto observo minhas alunas de 5 anos em sua brincadeira preferida. Um, dois, três… Pulinho, pulão, pulinho, pulão… Nina está na fila para pular corda. É a próxima. Gigi está pulando e parece que vai conseguir pular para sempre. 42, 43, 44… Enquanto isso Nina treina, imitando os pulos, tentando aprender, pois ainda só consegue pulão, pulão, e nunca passou de dez. Gigi continua. Pula girando, pula num pé só. 73, 74, 75… As outras meninas na fila olham para a amiga que pula, olham para mim tentando acompanhar a contagem que já passou de 100. Até quem não está na fila já parou para observar. É o novo recorde da sala! 126, 127, 128… Gigi para, vencida pelo cansaço. As meninas vibram muito, batem palma, algumas a abraçam. Então, é a vez da Nina. Fico preocupada. Qual será a reação das crianças diante de desempenhos tão diferentes?
Viajo no tempo, me vejo adolescente, sempre muito fraca no inglês. As aulas na escola misturavam todos os níveis e, nas atividades orais, depois de colegas que falavam com fluência quase nativa, eu arranhava um “I’m fine, thank you”, numa pronúncia introvertida e desengonçada. Alguns colegas riam, e me lembro da sensação de estar atrás. Caminho um pouco mais no tempo, estou na faculdade e vejo alguns colegas apresentando trabalhos muito simplórios, ridicularizados pelo professor.
“Professora, bate a corda!”, Nina me traz de volta da minha rápida viagem no tempo.
E eu fico pensando se seria o caso de propor uma nova brincadeira, para poupá-la de uma situação difícil. Antes de decidir, ela me chama de novo, e eu não tenho como desviar. Respiro fundo, começo a bater. Pulão, pulão… Ops! Mais uma chance: pulão, pulão, pulinho, pulão por duas vezes seguidas! E quando ela termina, novamente as meninas vibram muito, repetem as palmas, e a primeira a abraçá-la é Gigi, que, a mais de 100 pulos de distância, diz: “Parabéns, Nina! Você está quase conseguindo!”.
Emociono-me com esse exemplo e, por muitas vezes, emocionei-me em situações similares. Crianças valorizando o esforço de outras crianças, reconhecendo o mérito de estar no caminho e não só de cruzar a linha de chegada. São exemplos como esse que nos convidam a recordar a criança que fomos, neste 24 de agosto, Dia da Infância.