“O brincar é a linguagem da criança”, diz Ana Cláudia Leite, pedagoga e consultora de educação do Instituto Alana. Por meio das brincadeiras, os pequenos conseguem compreender melhor o mundo e o contexto em que estão inseridos. O brincar também propicia o desenvolvimento pleno da criança, do ponto de vista motor, cognitivo, emocional, ético e estético. Por isso, a pedagoga destaca que é importante que os adultos reservem um tempo para os filhos brincarem livremente, sem lotar a agenda deles. Para chamar atenção à importância do direito do brincar, de 22 a 30 de maio é celebrada a Semana Mundial do Brincar.
De acordo com Luciane Motta, especialista em infância de 0 a 3 anos e diretora da Casa do Brincar, a criança consegue aprender muito a partir das brincadeiras. Elas são observadoras natas e, quando brincam, imitam o que veem. “Isso fica bem evidente na fase do faz de conta. A criança imita a mãe, a médica, a caixa de supermercado, ela vai experimentando e assumindo outros papéis, assim, vai organizando essas informações na cabeça dela”, conta Luciane Motta. A criança também começa a entender as regras sociais e a desenvolver a maturidade emocional. “O brincar é uma ferramenta de aprendizagem e de relacionamento social”, aponta a especialista.
Além disso, a especialista diz que os pequenos reproduzem situações cotidianas nas brincadeiras, com o objetivo de tentar compreender o que ocorre ao seu redor. “Pelo brincar a criança também tem essa válvula de escape para extravasar o que ela não está entendendo, ou o que está incomodando”, diz Luciane Motta. Por exemplo, se o pequeno tem problemas em casa, ele vai recriar isso com os bonequinhos, buscando assimilar a situação. Ana Cláudia completa que a criança também consegue conhecer melhor as potencialidades e limites do seu corpo, tanto físico quanto mental. “O brincar é como um espelho, ele mostra quem é aquela criança, do que ela gosta, do que ela tem medo e o que ela já sabe fazer. Com o livre brincar, ela se sente capaz, porque lida com atividades e desafios que propôs a si mesma”, afirma.
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Brincar sozinha e com outras crianças
Para Ana Cláudia Leite, é muito importante que a criança seja capaz de brincar sozinha, sem que isso signifique algo triste. “A capacidade de se sentir realizado sozinho é algo muito importante para a vida e a gente começa a experimentar isso na infância”, relata a pedagoga. Ao brincar sozinha, é possível exercitar o silêncio e a escuta interna, encontrando um espaço de intimidade. “É um momento de expressar e organizar internamente o que ela sente. Isso é uma coisa que se conquista aos poucos”, aponta.
Brincar com as outras crianças é fundamental também. Elas aprendem as brincadeiras com mais facilidade quando estão em contato com pessoas, porque conseguem compartilhar repertórios. Luciane Motta aponta que um fato interessante de brincar coletivamente é a possibilidade de ter contato com concepções de mundo diferentes. Ana Cláudia complementa que as brincadeiras também trazem aprendizados que serão úteis para a vida toda. “O outro também traz oposição, limite, e isso gera muitos aprendizados sobre colaboração, acolhimento, empatia, trabalho em equipe, respeito, aceitação e solidariedade. As crianças desenvolvem uma série de habilidades e capacidades éticas, aprendendo a conviver em sociedade”, conta.
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Brincadeiras para fazer em casa
As especialistas selecionaram indicações de brincadeiras acessíveis para as crianças, que podem ser feitas tanto sozinhas quanto com outras pessoas, e tudo dentro de casa. Confira!
Brincadeira com bola
Materiais:
- Uma bolinha leve e relativamente pequena;
- Barbante;
- Fita crepe;
- Meia calça;
- Cabides de arame.
Luciane Motta sugeriu uma brincadeira simples e divertida que pode ser montada com objetos encontrados em casa. Com o barbante, faça várias amarrações até que ele fique preso na bolinha. Em seguida, grude o barbante no teto utilizando a fita crepe, deixando a bola suspensa em uma altura que a criança possa alcançar. Depois, serão montadas as “raquetes”. Para isso, pegue os cabides e, com as mãos, comece a arredondá-los até atingir uma forma semelhante a uma raquete. Por último, é preciso cortar a meia-calça e prendê-la no cabide. Segundo a especialista, esta brincadeira funciona muito bem dentro de casa, porque como está presa, não tem perigo de atingir nenhum móvel.
Jardinagem
Materiais:
- Bichinhos de plástico (dinossauros, vaquinhas etc);
- Vasos com plantas.
A diretora da Casa do Brincar também tem uma dica de como ensinar a cuidar das plantas de uma maneira interessante. Em cada vaso de planta da sua casa, Luciane Motta cria “jardins fantásticos”, utilizando bichinhos de plástico. Eles passam a viver dentro dos vasos, sendo possível inventar histórias e brincar com eles, o que torna a jardinagem mais diferente e recreativa. “É um modo de envolver as crianças na rotina da casa de uma forma divertida e construtiva, ensinando também a cuidar das obrigações”, diz.
Brincadeiras envolvendo arte
Materiais:
- Aquarelas;
- Papel sulfite;
- Caixas de papelão;
- Tesoura;
- Cola;
- Jornais;
- Revistas.
É importante que os pais ofereçam brincadeiras que estimulem o lado criativo dos pequenos. Luciane indicou que desenhar ou pintar são ótimas opções. A especialista aponta que é interessante utilizar aquarelas, que fazem menos sujeira do que a tinta guache. Quando as crianças terminarem, sugeriu pendurar as artes nas paredes, criando um museu para as elas. Fazer colagens também é outra alternativa divertida. Os pequenos podem cortar imagens, palavras e letras de revistas ou jornais e montar suas criações. Luciane recomendou produzir as colagens em caixas de papelão, porque depois ainda pode virar uma casinha ou um bercinho para as crianças brincarem. “A gente consegue transformar e brincar mesmo com materiais que seriam descartáveis”, aponta.
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Brincar com caixas
Materiais:
- Caixas de papelão de diversos tamanhos;
- Corda ou barbante;
- Fita crepe.
“As crianças pequenas gostam de caixas, às vezes a gente compra um brinquedo e elas ficam mais interessadas na embalagem”, diz Ana Cláudia Leite. As caixas de compras de supermercado, por exemplo, podem ser reaproveitadas e transformadas em carrinhos para colocar a criança dentro e empurrar pela casa. Outra opção é amarrar uma corda na caixa e puxar. Além disso, as crianças maiores podem usar caixas de tamanhos diferentes para construir esculturas, grudando-as com fita crepe. É uma forma simples e econômica para a criança se divertir.
Montar uma cabaninha
Materiais:
- Lençol ou tecido;
- Barbantes;
- Pregos.
De acordo com Ana Cláudia, montar cabaninhas também é uma ótima brincadeira. “As crianças gostam muito de se sentir em um lugar íntimo e protegido”, afirma a pedagoga. Para isso, é preciso utilizar lençóis ou tecidos e amarrar com barbantes, ou mesmo apoiar em móveis. Caso os pais queiram criar algo mais elaborado e estruturado, também podem usar pregos para prender o tecido. Assim, é criado um espaço de intimidade e aconchego para a criança.
Brincadeiras que contribuem para o desenvolvimento motor
Material:
- Corda.
Segundo Ana Cláudia Leite, pular corda é uma ótima atividade para as crianças, pois, além do divertimento, também contribui para o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação. Mesmo em casas pequenas, a pedagoga diz que é possível brincar de “cobrinha”. Além disso, sugeriu que os pais e responsáveis introduzam brincadeiras que envolvam canções. Ao cantar, a criança consegue aprender sobre ritmo, musicalidade e linguagem. Sobretudo, a música também traz uma grande alegria para os pequenos.
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