‘É quase impossível a criança não ter acesso a uma rede social’

Antes de proibir os filhos de usar as mídias sociais, vale se questionar o quanto nós, os pais, usamos essas plataformas, ressalta o educador parental Mauricio Maruo

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Mãe e filha no sofá cada uma com seu celular
Exemplo dos pais é fundamental no uso de telas
Buscador de educadores parentais
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Algumas semanas atrás li o artigo do Fernando Dias que comentava sobre o poder o TikTok na vida de uma criança, aliás muito reflexivo o texto.

Quando minha filha completou 4 anos resolvi fazer uma pesquisa mais profunda no universo das redes sociais digitais, já imaginando que um dia ela iria ter acesso a isso.

Descobri muita coisa interessante e muita coisa bizarra, mas um ponto que me deixou em um estado de alerta não somente com as redes sociais, mas com o que eu consumo dentro da internet, foi o fato de termos pouquíssimo controle sobre o que aparece no nosso feed. Na verdade, até temos, porém precisamos mudar muito nosso comportamento. 

Antes de começar a expor uma parte da minha pesquisa, preciso comentar que eu trabalho como UX (user experience) desde 2015. Para quem não sabe direito o que faz um profissional de UX, posso resumir assim: eu faço pesquisas e análises para entender o comportamento dos usuários dentro de um projeto de tecnologia ou não, me baseando nos fatos para traçar um perfil comportamental. 

Esclarecido o porquê de, em muitos dos meus artigos sempre aparecer algum dado de alguma pesquisa, vamos às informações sobre o que descobri sobre as redes sociais.

As redes sociais não são as grandes vilãs da preocupação da maioria das famílias, elas são apenas ferramentas, e assim como toda ferramenta depende muito de quem a utiliza. 

Precisamos também encarar o fato de que é quase impossível sua criança não ter acesso a alguma rede social. isso é inevitável nos dias atuais. A não ser que você tenha o mesmo estilo de vida do filme “Capitão Fantástico”, que conta a história de dois pais que, preocupados com o rumo do mundo, decidem se isolar no meio do mato.

Pensando nisso, te faço uma pergunta.

O que é rede social digital para você?

Essa é uma pergunta fácil com uma resposta difícil, pois muitas pessoas vão citar Facebook, Instagram, entre outros, mas o que é realmente uma rede social digital?

A rede social nasceu da necessidade humana de pertencimento, ou seja, ninguém consegue viver plenamente sozinho, todo ser humano precisa de outro ser humano para viver. Pensando nisso a primeira rede social da internet não foi bem uma rede social, o ClassMate (1995) foi criado com o intuito de reunir o maior número de arquivos de educação para atender os estudantes dos Estados Unidos, porém como a plataforma tinha uma área de perfil e os alunos podiam interagir entre eles, a necessidade de se conectar a outro ser humano foi atendida.

Agora que sabemos o que realmente é uma rede social, vamos ao que interessa.

Se entendemos que a primeira rede social digital foi criada com o intuito de educar, porque hoje muitas delas são consideradas vilãs por muitos pais e mães?

A resposta é bem simples e está dividido em:

  • O acesso fácil, através do celular

Hoje é difícil você encontrar um adulto que não tenha um celular, então porque acham que seria diferente com as crianças?

  • O sistema de caça níquel

Já se perguntou porque a maioria das redes sociais tem um sistema de rolagem para cima? O Facebook por exemplo, vocês já conseguiram chegar ao final da página? O sistema de caça níquel te prende em um looping, que gera uma curiosidade/ansiedade de saber qual será o próximo post.

  • O algoritmo

É a inteligência artificial que define (através do seu comportamento dentro da Internet) quais são os posts que aparecem no seu feed. Por exemplo, se você pesquisou algo relacionado a futebol, é muito provável que aparecerão posts relacionados a futebol, porém o algoritmo consegue cruzar informações e aprender com isso, ou seja, se você pesquisou além de futebol, assuntos relacionado a como tratar um machucado, é muito provável que o algoritmo te mostrará posts relacionados a lesões e contusões de jogadores de futebol. 

Existem também os trends, que são as notícias mais acessadas pelos usuários da rede social. Elas também devem aparecer no seu feed.

  • A necessidade de pertencimento e aceitação
    Como havia comentado sobre o nascimento da rede social, a necessidade de pertencimento dentro das redes se torna 10 vezes maior, transformando essa necessidade em uma busca por aceitação, ou seja, praticamente quem cria conteúdo dentro da rede está sujeito ao mecanismo de recompensa onde os likes e compartilhamentos alimentam esse mecanismo.  
  • O comportamento humano

Se estamos procurando um vilão, esse pode ser considerado o tal. Uma das coisas mais difíceis de entender é o ser humano, pois para entender uma pessoa é preciso primeiro entender a si mesmo. É nesse ponto que o vilão surge sem percebermos. Vou dar um exemplo bem simples e pode ficar à vontade de atirar a primeira pedra quem nunca fez isso.

Se muitos pais não querem que seus filhos tenham acesso a determinada rede social, então por que esses mesmos pais têm acesso? Se não queremos que nossos filhos tenham contato com determinado conteúdo dentro das redes sociais, por que continuamos alimentando esse tipo de conteúdo? Esse último exemplo reforça a história do colunista Fernando Dias em seu post a respeito do Tiktok.

Vou terminar esse texto parafraseando uma amiga chamada @camilagoytacaz, quando em uma conversa, muito tempo atrás, eu disse: 

— A sociedade também é culpada por não saber valorizar os pais que são ativos na criação dos filhos.  

Foi quando ela me disse:

— A sociedade somos nós meu amigo.

Desse dia em diante eu nunca mais culpei a sociedade por algo, antes de me culpar primeiro.

E você, sabe dizer quais movimentos está fazendo para sua rede social ficar melhor?


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