Ter onde deixar os filhos enquanto trabalham fora é, para muitas mães brasileiras, questão de sobrevivência. E as creches têm um papel fundamental nesse sentido, visto que não só acolhem os bebês, mas também os alimentam e oferecem carinho e estímulos adequados que contribuem para o seu desenvolvimento saudável.
No Brasil, porém, a oferta de vagas em creches ainda é um desafio para a educação pública. Hoje, apenas 35% das crianças possuem acesso a creches. A meta do PNE (Plano Nacional de Educação) prevê uma taxa de atendimento de 50% até 2024, o que levaria 25 anos para acontecer, segundo Renata Citron, fundadora do Cantinho do Brincar, em São Paulo.
Em ensaio para o Nexo Jornal, Renata diz ser essencial buscar outras formas de garantir que todas as crianças de 0 a 3 anos possam frequentar uma creche. “Não podemos ficar esperando a universalização das creches por meio de modelos caros e tradicionais enquanto a desigualdade social se perpetua no Brasil, justamente para as crianças que mais precisam”, afirma Renata.
Para mudar essa realidade, a autora criou uma rede de cuidadoras profissionais – formada por mulheres de periferia que costumam cuidar de crianças pequenas enquanto as mães saem para trabalham. A iniciativa proporciona metodologia pedagógica para essas participantes e permite que possam montar seus próprios espaços de desenvolvimento infantil, profissionalizando as creches em casa. Elas também recebem formação contínua, suporte na gestão de empreendimentos e uma rede de trocas com outras cuidadoras da comunidade.
Além de prejudicar o desenvolvimento da criança e o seu desempenho profissional ao longo da vida, a falta de vagas também dificulta a vida, em especial, das mães. Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mulheres com filhos de até três anos que estão em creche têm 20% mais emprego do que aquelas que têm crianças nessa faixa etária fora da creches. Sem acesso à instituições públicas ou privadas, muitas recorrem a creches em casas de conhecidas.
Importância da primeira infância
Uma das maiores causas da perpetuação da pobreza e do aumento da desigualdade social é a falta de acesso a estímulos durante a primeira infância, de acordo com James Heckman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2000. O economista afirma que 90% das nossas conexões cerebrais são desenvolvidas entre o nascimento e os seis anos de idade. Portanto, uma criança que não tem acesso a estímulos nessa fase da vida pode não desenvolver adequadamente sua capacidade cognitiva.
Heckman conclui que o investimento nos primeiros anos de vida é uma alternativa eficaz para quebrar o círculo da pobreza. Essa política pública tende a reduzir a evasão escolar, índices criminais e população encarcerada.