Neste domingo, 12 de maio será comemorado mais um Dia das Mães e com certeza muitos pais comprarão presentes para a mãe de seus filhos, pensando em algo que seja bom para ela e não para a casa, como era costume dar antigamente. Abaixo, um exemplo de publicidade para o Dia das Mães de 1980:
Para muitas famílias esse tipo de anúncio hoje em dia soa absurdo, principalmente porque associa as mulheres aos trabalhos domésticos. Ser mãe antigamente era símbolo somente de cuidados – dos filhos, da casa, dos idosos… Enfim a mulher/mãe tinha toda responsabilidade da economia do cuidado em suas costas, mas isso foi uns bons anos atrás, correto?
De fato, o conceito de maternidade mudou nos últimos 50 anos, mas não tanto.
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O texto de hoje é um alerta para um problema social que persiste desde 1827, ano em que meninas tiveram o direito de frequentar as escolas. Antes dessa data no Brasil somente os meninos podiam frequentar publicamente as escolas.
Esse problema social ao qual me refiro diz respeito à desigualdade de gêneros, ou melhor, à cultura de gêneros que, nas famílias, impõe às mães uma carga muito maior de demandas do que aos pais, como mostro nos exemplos abaixo.
O pai ou a mãe?
- Quem geralmente vai para as reuniões de escola?
- Quem normalmente conversa com os filhos sobre questões emocionais?
- Quem se preocupa mais com a alimentação saudável para os filhos?
- Quem gerencia a maioria das questões relacionadas aos filhos dentro de casa?
- Quem normalmente não consegue voltar ao mercado de trabalho depois da licença maternidade ou paternidade?
- Quem se considera a geração sanduíche (a pessoa que cuida dos filhos e dos pais idosos)?
Esse é um problema invisível, que se tornou parte da nossa cultura brasileira, fazendo com que muitas famílias se acostumassem com a situação e normalizassem as questões da desigualdade que geram uma série de consequências negativas às mulheres, principalmente, em relação à saúde mental.
Agora ganha um doce quem adivinhar a pergunta abaixo:
Quem sofre mais com os problemas de saúde mental, homens ou mulheres?
E mesmo que você esteja em uma bolha de famílias em que os pais são participativos, responsáveis pela sua paternidade e conscientes sobre as desigualdades sociais, mesmo assim, a cultura da desigualdade permanece muito forte.
Por exemplo:
- A mãe dos seus filhos já comentou em algum momento que está sobrecarregada?
- Alguma mãe do grupo da escola do seu filho(a), já comentou algo relacionado à sobrecarga?
- Dentro da sua bolha quem passa mais tempo cuidando das crianças?
Foram muitas gerações alimentando essa cultura desigual. Porém, a nossa geração deu um salto enorme no caminho da igualdade, assim como nunca se falou tanto sobre os cuidados da saúde mental, também nunca se falou tanto em maternidade consciente, paternidade responsável, criação com apego, conexões amorosas, enfim, uma imensidão de transformações para que tudo ganhe igualdade e equilíbrio e seja transferido para as próximas gerações.
Porém, existe um grande “gap” dentro dessas transformações que poucas pessoas enxergam, que são os conflitos geracionais, sim, estou falando da relação que temos com nossos pais, principalmente com nossa mãe.
Já vi, muitos homens que se dizem desconstruídos e que exercem uma paternidade responsável em casa, com a divisão das tarefas dos cuidados com as crianças, mas quando vão para a casa dos pais (os avós das crianças) voltam a ser os filhos e não percebem que sua mãe ainda alimenta uma sobrecarga cultural feminina, ou você nunca percebeu que:
- Quem se preocupa em fazer a comida, arrumar a casa e deixar tudo organizado para receber os filhos e os netos é a sua mãe;
- Quem ajuda mais (como rede de apoio) nos cuidados com os netos é a sua mãe;
- Sua mãe cuida mais do seu pai do que o inverso;
- Arrisco a dizer ainda que seu pai fica mais doente do que sua mãe.
Como eu disse antes, esse texto é apenas um alerta sobre um problema social e cultural, então vamos refletir se faz sentido a valorização da maternidade apenas uma vez por ano ou se podemos mudar esse cenário não somente dentro da nossa casa, mas também dentro das nossas gerações e ancestralidades.
Para finalizar, faço uma pequena pergunta:
E aí, como vai a sua mãe?
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.