“Não existe formação familiar melhor nem pior do que a da primeira união. O bem-estar decorre da qualidade das interações, das relações e não do formato”, reforça Laura. A advogada Juliana Magalhães Siqueira Virgínia, de 29 anos, é prova disso. Quando ela iniciou o namoro com o personal trainer Walmer Martins Santos, de 34, Henrique, hoje com 8 anos, ainda estava na barriga da mãe. “Eu o acompanho desde o seu nascimento. A nossa relação sempre foi muito próxima e de muito carinho”, conta Juliana, que, junto ao pai, participa ativamente do dia a dia do menino. “Desde pequenininho ele sabe diferenciar o papel de cada uma.” Para a psicóloga Laura, é importante que a mãe também saiba que o lugar ocupado não é substitutivo. Pelo contrário. É um novo espaço de cuidado. “Dessa forma, é possível propiciar um campo familiar menos conflitivo e possibilitar que os filhos estabeleçam laços verdadeiros de afeto com a madrasta”, garante.
Em muitos casos, a criança recusa o convívio com a madrasta por considerá-la uma ameaça para o retorno do relacionamento dos pais, por ciúme ou até mesmo por receio de sucessivos divórcios, ou seja, medo de estabelecer um vínculo e logo depois o casal se separar. A pedagoga Rachel Álvares da Silva, de 34 anos, conseguiu driblar esses obstáculos, mas assumiu um outro grande desafio. Quando conheceu seu atual marido, o administrador Ricardo Góes Barbosa, de 43 anos, fazia pouco tempo que ele havia ficado viúvo. A caçula, Thaís, hoje com 6 anos, mal tinha completado 1, enquanto Alice, de 10 anos, estava com 5. “Eu assumi mesmo as meninas. Nunca teve esse empecilho de me aceitarem ou não, mas é claro que existem certas dificuldades, principalmente em relação à criação. Por isso é preciso muito respeito e paciência”, afirma Rachel, que também tem uma filha, Maria Eduarda, de 12 anos, fruto de outro casamento. As três, segundo ela, brigam o tempo todo, como se fossem irmãs. “Nós dois temos a mesma autoridade e lidamos com as três da mesma maneira. Eu dou a ele total liberdade com a Maria Eduarda, da mesma forma que ele me dá com as meninas”, revela. Os dois, aliás, ganharam há pouco tempo das enteadas a melhor alcunha com a qual poderiam sonhar: a de mãe e pai.
Eles também amam. E como!
Quando começou a namorar a produtora de moda Santuza Pires Prado, de 42 anos, ele ganhou de presente Júlia, hoje com 10 anos, e João, de 8. “Meus amigos perguntavam: mas ela tem dois filhos, como é que vai ser? Eu me desliguei disso e não quis muito saber”, conta Sevaybricker. O encontro com os pequenos, um com 2 anos e outro com poucos meses, à época, foi, nas palavras dele, sem explicação. “Acabei virando um outro pai. Obviamente eu não substituo o pai verdadeiro, mas faço parte do dia a dia e da educação deles. Nossa relação é muito gostosa, muito intensa. Somos alucinados uns com os outros”, assegura. Em novembro passado a família cresceu com a chegada de Benjamim.Ainda hoje, para muitos, mãe é uma só. Não tem substituta. Já o pai é aquele que cria. Embora seja abarrotada de preconceito e sexismo, a afirmativa faz jus, ao menos, à figura do padrasto. É cada vez mais comum ver famílias sendo reconfiguradas com o apoio incondicional do companheiro da mãe. É o caso do publicitário Leo Sevaybricker, de 42 anos.
Contrariando as previsões catastróficas dos amigos, o bebê não veio para tumultuar. “É uma experiência nova, uma descoberta linda. O carinho que os meninos têm com o Benjamim é demais, não há ciúme e eu duvido muito que haverá”, arremata.
7 mandamentos para a boa convivênciaPela psicopedagoga e psicanalista Cristina Silveira
#1 NUNCA TENTE SUBSTITUIR OS PAIS BIOLÓGICOS.O papel da madrasta e do padrasto deve ser construído junto à criança, numa relação edificada na cumplicidade, no amor e na confiança. Jamais teça comparações, pois são atribuições completamente distintas.
#2 OUÇA A CRIANÇA. Quando a figura da madrasta e do padrasto surge, cria-se, imediatamente, um período de reconhecimento e de adaptação. É comum os pais acharem que mau comportamento nessa fase seja sinal de birras, mas pode ser sintoma de angústia, dúvida e insegurança. Entenda o que a criança está sentindo e a ajude a se comunicar.
#3 NÃO EMPODERE A CRIANÇA, NEM A COLOQUE ACIMA DE TODAS AS COISAS. O filho deve entender que o pai ou a mãe tem o direito de continuar a sua vida ao lado de outra pessoa e que, apesar de ser muito amado, ele não pode impedir isso.
#4 PRESTE ATENÇÃO AO AMBIENTE. Se o pequeno apresenta um comportamento repetitivo de recusa ou agressividade, pode ser que o ambiente esteja influenciando. Observar atitudes e comentários feitos na presença dos enteados é fundamental.
#5 NÃO INVADA A VIDA DA CRIANÇA. Conquiste-a em vez de se impor. Deixe espaço para que ela se aproxime por livre e espontânea vontade caso surja alguma resistência.
#6 NÃO TRAVE COMPETIÇÕES PELA ATENÇÃO DO PARCEIRO. O máximo que conseguirá com isso serão infindáveis brigas em sua nova união e um stress com os enteados. Lembre-se que o adulto da relação é você.
#7 NÃO COMPRE A CRIANÇA COM PRESENTES E BENS MATERIAIS. Essa conquista é perigosa. Mostre a ela suas virtudes, seus valores e trate-a com carinho e cumplicidade. É o suficiente. |