Alguns comportamentos deveriam ser mais frequentes entre as famílias nesta quarentena. Pais deveriam celebrar os acertos, destacar o que os filhos fazem de bom, por exemplo, em vez de somente criticá-los. A sugestão é do psiquiatra Augusto Cury, um dos palestrantes mais requisitados do país, autor de 55 livros, publicados em 70 países e que já venderam mais de 30 milhões de exemplares.
Para ele, estamos na ‘era de apontamento de falhas’, ligada a uma educação racional, e precisamos mudar para a ‘era da celebração de acertos’, que valoriza o emocional das pessoas. “Quando os filhos nos decepcionam, é importante celebrar os acertos, e não apontar as falhas, pois quem faz isso está apto a consertar máquinas, mas não a construir belas histórias de amor”, disse o escritor durante o encerramento do 3º Congresso Nacional da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares), realizado este mês de julho de forma online.
Para Cury, boa parte dos pais tende a destacar os erros dos filhos – assim como os professores a observar os comportamentos inadequados de seus alunos. Porém, 80% a 90% das correções só pioram os filhos e os alunos e pode deixá-los traumatizados, fazendo com que guardem na memória os comportamentos agressivos, impulsivos e indelicados que receberam dos adultos. “Se nós não aprendermos a aplaudir uns aos outros, nosso córtex cerebral não abrirá janelas saudáveis para neutralizar traumas”, diz o psiquiatra.
Agir com delicadeza e buscar entender o funcionamento da mente das crianças e dos adolescentes pode ser o caminho. Pais e professores devem usar o olhar sociomemocional para observar os comportamentos notáveis. “Devemos ver charme nos defeitos das pessoas, devemos aplaudir comportamentos que passam despercebidos ao nosso olhar tosco e que deveriam ser exaltados para formar núcleos saudáveis e ajudar as pessoas se reinventarem.”
O ambiente estressante, um conflito, um comportamento – que em outras situações geraria ação de desaprovação – tem de ser usado por pais e professores para elogiar a pessoa que erra em primeiro lugar e só depois apontar a falha. Para mostrar o tanto que esse aluno ou filho tem capacidade para se reinventar. “Isto é gestão da emoção, aprender a mudar. Quando ensinamos habilidades de gestão da emoção, os alunos e os filhos mudam completamente sua agenda.”
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O que dizer aos filhos e alunos frente a comportamentos inadequados
O psiquiatra explica que exaltar o bom comportamento de alunos que dão “dores de cabeça” serve de estímulo para que reproduzam esses comportamentos saudáveis e isso pode fazer com que mudem para a melhor. Cury ressalta que até aqueles alunos que aparentemente criam um tumulto em sala de aula, que são agitados, tensos, inquietos, intolerantes, têm momentos solenes. E é importante celebrar os acertos que apresentam com frases como:
- “Querido aluno, parabéns por ter se concentrado enquanto estou fazendo a exposição.”
- “Parabéns, porque você foi generoso ao ter essa ou aquela atitude.”
- “Você elevou o tom de voz, teve um comportamento que me decepcionou, mas quero dizer que você não é mais um número nesta classe, eu aposto em você.
- “Você é um aluno insubstituível e pode e deve brilhar na vida’.
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Excesso de informações deixa crianças irritadas e ansiosas
Outro problema apontado pelo psiquiatra diz respeito ao excesso de tempo que as crianças e os adolescentes dedicam às mídias sociais. Segundo Cury, “uma criança de 7 anos de idade hoje tem mais informações que o imperador romano tinha no auge de Roma”. E essa “intoxicação digital” traz consequências como irritabilidade, ansiedade, consumismo e insatisfação crônica. Pode, segundo o psiquiatra, deixar a mente muito acelerada e gerar uma quantidade excessiva de estímulos, fazendo com que as crianças tenham dificuldade em se concentrar.
“Nenhum lugar está bom, as pessoas têm asco ao tédio e isso tem abarcado crianças e adolescentes, tem asfixiado a capacidade criativa de alunos e filhos de elaborarem experiências, perdas, fracassos, crises, angústias, fobias, para que cresçam e desenvolvam uma personalidade saudável”, declara o especialista.
Assim, filhos e alunos queimam etapas da vida e não conseguem amadurecer, seja aos 10, aos 15, 20 ou 30 anos. Eles acabam infantilizando o seu ‘eu’ e suas emoções, e se tornam adultos com idade emocional inferior à sua idade verdadeira, o que os impede de serem autores de sua própria história.
Para mudar esse cenário e contribuir com a educação socioemocional de crianças e adolescentes, Cury aconselha: “Se querem ter uma mente saudável, serena e tranquila e prezam o mesmo para seus filhos e alunos, vocês têm de incentivá-los a desacelerarem seus pensamentos, a contemplarem o belo, a fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos”.
Assista aqui à palestra de Augusto Cury durante evento da Fenep.
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