Diante de um diagnóstico de câncer, surge uma questão importante para quem é mãe: conto ou não conto para o meu filho?
Felipe ia fazer 10 anos quando fui diagnosticada com um carcinoma invasivo na mama esquerda. Por menor que fosse aquele tumor, por mais avanços que temos conquistado nos tratamentos, ainda era um câncer. A palavra câncer acaba levando à palavra morte, embora a possibilidade de cura seja uma realidade.
A gente pode não morrer de câncer, mas é certo, um dia vamos morrer de alguma coisa.
No mesmo dia em que recebi o diagnóstico, contei para ele. Eu sempre senti quando os adultos estavam escondendo alguma coisa de mim e não queria que ele passasse por isso. A verdade pode ser difícil, mas mentir ou esconder coisas importantes dói.
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Quando ele me perguntou: mãe, você vai morrer? Eu respondi: Filho, todo mundo vai morrer um dia, portanto eu não posso te prometer que não vou morrer, todo mundo vai morrer um dia, o que eu posso te prometer é que eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ficar curada.
Eu não podia prometer que não ia morrer porque, se eu morresse, ia ficar com essa dívida de uma promessa não cumprida que ia pesar muito no luto dele.
Na consulta antes da cirurgia ele foi comigo, assim ele pôde conversar e tirar as dúvidas com minha mastologista. E foi ele quem disse para ela que eu tinha medo da anestesia, e medo de embolia.
Acho que tudo foi mais leve porque tivemos esse diálogo aberto desde o início. No dia da minha cirurgia ele foi para o colégio e contou para a professora e para os colegas que eu estava sendo operada. No dia seguinte, quando cheguei em casa, tinha uma cartinha para mim em cima da cama: Mamãe, eu te amo.
Estou no último ano de tratamento e cumprindo o que prometi, fazendo tudo o que está ao meu alcance para ficar curada. A morte virá um dia, mas não agora.