Com a pandemia e receio de contrair a Covid-19, muitas famílias deixaram de vacinar as crianças, prática que já vinha ocorrendo há alguns anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2018 a 2020, as taxas de coberturas vacinais vêm caindo a cada ano, sendo as vacinas menos aplicadas aquelas contra BCG, hepatite B, rotavírus humano, pneumocócica e poliomielite.
Somente em 2020, estima-se uma queda de 20% a 30% na aplicação de todas as vacinas. “Os pais e responsáveis têm um grande receio de levar os filhos às unidades de saúde, por conta de uma potencial transmissão de covid-19. Apesar de todos os esclarecimentos que buscamos transmitir, não vimos esses números melhorarem, o que esperamos que ocorra em 2021. A nossa preocupação é ainda maior com as doenças mais transmissíveis, como sarampo, difteria e a possibilidade de reintrodução da pólio”, alerta o dr. Renato Kfouri, presidente do departamento científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo Kfouri, podem ter contribuído para a redução de imunização de crianças e adolescentes, questões como: acesso às vacinas, horário dos postos, desabastecimento, fake news e complexidade do calendário vacinal. “Porém, além desses fatores, há também a baixa percepção de risco. Isto é, o sucesso das imunizações ao eliminar certas doenças vem gerando despreocupação, as pessoas não se sentem mais ameaçados”, explica o médico.
Para chamar atenção para a importância de manter o calendário vacinal das crianças em dia, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou no início de julho o Calendário de Vacinação 2021. O documento, elaborado pelos Departamentos Científicos de Imunizações e de Infectologia da entidade, traz orientações atualizadas para médicos, profissionais de saúde e população em geral a respeito da aplicação de vacinas em crianças e adolescentes, do nascimento até os 19 anos de idade.
No texto, os especialistas destacam que podem sofrer alterações as recomendações para aqueles com imunodeficiências ou em situações epidemiológicas específicas. Por isso, a SBP publicou no ano passado um documento específico com orientações sobre vacinação para crianças e adolescentes em situações especiais.
Vacinação é crucial para volta às aulas presenciais
Com a retomada das aulas presenciais em maior número de alunos no segundo semestre, a importância de proteger as crianças contra diversas doenças é ainda maior. “Obviamente o risco é muito grande, estamos passando pela campanha de gripe com coberturas baixíssimas nas gestantes e crianças, cerca de 20%. Os pediatras são os grandes orientadores nesse sentido, não apenas para as crianças, mas para toda a família, e temos o papel de fortalecer as recomendações de retornar às aulas com a vacinação em dia”, reforça Kfouri.
Um recente estudo da revista The Lancet, publicado em julho do ano passado, estima que o risco de crianças não imunizadas adquirirem as formas graves das doenças presentes no calendário vacinal é 84% maior do que o de desenvolverem covid-19 grave.
Vacinas atrasadas
Para os pais que estão com a carteirinha de vacinação incompleta, a pediatra Maria Gabriela Garbelini Galerani, credenciada da Paraná Clínicas, em Curitiba (PR), explica como proceder. “Ao atrasar as vacinas, os responsáveis devem levar a carteirinha de vacinação até a unidade de saúde para iniciarem uma estratégia de atualização – algumas vacinas podem ser dadas no mesmo dia, outras precisam de espaçamento”, afirma Maria Gabriela. Ela sugere ligar antes para a unidade de saúde para confirmar a oferta da vacinação para o público infantil, visto que algumas unidades foram designadas para atendimento exclusivo de pacientes com Covid-19.
Calendário de vacinação 2021
Abaixo, você pode abrir o calendário em tamanho maior, organizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). Para mais informações, acesse a página da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim)