Meus filhos tiveram poucas festas de aniversário com convidados além dos familiares, talvez medo deles ganharem um daqueles tecladinhos que cantam a música do Seu Lobato. Imagina só fazer home office o dia todo ouvindo que “Seu Lobato tinha uma vaca, ia-ia-ô”. Conheço mãe que tira a pilha do brinquedo e diz para a criança que ele quebrou. Tem mãe também que esconde, fala que sumiu e ainda ajuda o filho a procurar o bendito que está no armário, logo atrás do enfeites de Natal do ano passado.
Meu maior medo são aquelas bonecas newborn, que parecem cadáver de bebê de verdade. Medo também dos acessórios. Vi na internet, a roupinha do bebê de mentira é mais cara que do bebê de verdade. E olha que me assustar não é fácil, sou da geração que ganhava o Baby da Família Dinossauro que falava “não é a mamãe”. Minha prima tinha um, morria de medo e não entrava no quarto sozinha. Não sei o que foi feito dele, mas desapareceu. Deve ter ido se encontrar com Fofão e a Annabelle, vai saber…
Depois deram a ela uma daquelas bonecas em tamanho real, e eu juro, os olhos dela brilharam no escuro e parecia uma enviada do mal. A solução foi colocá-la em cima do guarda roupas coberta com um lençol, o que fazia tudo parecer uma cena de crime não resolvido do C.S.I. A pobre mãe, coberta de boas intenções não tem noção dos traumas que alguns brinquedos podem trazer às crianças.
Brinquedos que falam não são bem vindos. Não me importa se são 2 ou 200 frases, é sempre chato. Ainda influenciada pelo Baby da Familia Dinossauro, tenho medo do dito começar a falar sozinho. Uma vez, o boneco do meu irmão disparou a gritar no meio da noite. Tentamos colocar na água para ver se calava a boca, mas ele continuou. O jeito foi abrir e tirar as baterias. Mesmo assim, por precaução, oramos um pouquinho.
João certa vez herdou um coelho que falava as “letrinhas e números”. Ele mal conseguia segurar, mas apertava os botões que é uma beleza. Um inferno! De onde é que este povo tirou a ideia que um coelho miserável falando as letras para um bebê que nem sentava e ficava escorado tal qual um saco de batata iria alfabetizá-lo? Desmontei o dito cujo, óbvio. Hoje ele identifica letras e números, sabe contar direitinho e nem foi o coelho que ensinou.
Amoeba eu também prefiro que eles nem saibam o que é. Aquilo é um caminho sem volta, entrada para drogas ainda mais pesadas: os slimes. Vocês acreditam que, pasmem, em 13 anos de maternidade, meus filhos nunca tiveram nem um nem outro? Eu sei. Vocês estão morrendo de inveja. Uma vez, ao alugar uma casa, vi uma mancha no teto verde. Liguei para o proprietário pensando que era mofo.
— Ah, aquilo? É uma amoeba que eu grudei no teto quando tinha 9 anos e nunca saiu a mancha. Mais de vinte anos depois e o treco ainda estava lá. Sem contar dos truques de tirar do cabelo sem precisar cortar, desgrudar do braço do sofá sem precisar trocar o estofamento. É um brinquedo que exige muito do nosso psicológico e intelecto. E que sempre pede algo em troca: do estofamento e reboco da parede a uma palmo de cabelo.
Não sei se todas essas minhas queixas são movidas ainda pelo espírito de Halloween. Não sei nem se todos esses brinquedos têm alguma relação com algo maligno. Mas convenhamos, slime não pode ter vindo de Deus.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
LEIA TAMBÉM:
Essa coluna é muita divertida, a história do slime, o baby da família dinossauro deixaram esse assunto muito divertido.