A osteopatia é considerada uma especialidade da fisioterapia, que somente pode ser exercida por um profissional especializado. Essa modalidade foi inventada pelo médico Andrew Taylor Still em 1874 nos Estados Unidos. “Ele percebeu que o movimento das estruturas estava relacionado à função. Então, tentou recuperar a mobilidade dos tecidos para melhorar a função e curar as doenças”, conta Kathiane Bomtempo, fisioterapeuta graduada pela Universidade Estadual de Londrina, mestre em ciências da reabilitação e pós-graduada em terapia manual e técnicas osteopáticas.
Geralmente, a osteopatia é associada ao tratamento de dores musculares em adultos e de problemas como cólica e refluxo em bebês pequenos. Contudo, também pode trazer inúmeros benefícios às crianças acima dos três anos. “Nós, osteopatas, procuramos a existência de alguma assimetria, alguma falta de mobilidade em algum tecido. Nos bebês e nas crianças, existe uma técnica de palpação. Sentimos cada articulação, cada tecido e cada víscera, e esperamos um movimento daquela parte do corpo. Quando não há movimento, como esperado, encontramos um bloqueio. E aí diagnosticamos, por exemplo, bloqueio no quadril, no intestino, alguma sutura craniana”, detalha Kathiane sobre o diagnóstico.
Os pais costumam chegar ao consultório relatando casos de refluxo, cólica, dificuldade de sono ou, no caso dos bebês, pega da amamentação. Em crianças mais velhas, expõem problemas do atraso no desenvolvimento, assimetrias cranianas, problemas respiratórios ou intestino preso. “As queixas em crianças acima dos três anos, geralmente, são cair muito, ter desequilíbrio, andar na ponta dos pés ou ter dores de cabeça”, elenca a fisioterapeuta. Para essas e outras dificuldades, a osteopatia pode ser um caminho natural de tratamento.
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Para o que a osteopatia pode ser útil?
1. Problemas respiratórios: casos de infecções de repetição, gripes frequentes ou asma podem ser beneficiados pela osteopatia. Segundo Kathiane, eles ocorrem, em geral, por conta de falta de mobilidade da caixa torácica ou dificuldade de inervação (condução de impulsos nervosos) na região. “A osteopatia verá se esse pulmão tem mobilidade suficiente, como está chegando a inervação no pulmão”, explica. A partir daí, pode ser associada à fisioterapia respiratória que irá trabalhar técnicas para aliviar, melhorar ou desobstruir a respiração.
2. Alterações posturais: até os três anos, é considerado normal a criança andar na ponta dos pés. Isso porque ela está experimentando formas de caminhar. “Depois dos três anos, começamos a pensar se há algum bloqueio que incomoda a criança a ficar com o pé todo no chão”, afirma Kathiane.
O problema pode ter causas neurológicas ou posturais. No primeiro caso, deve ser investigado por um neurologista ou neuropediatra. No segundo, pode ser tratado com o auxílio da osteopatia. Uma das razões para o aparecimento dessa dificuldade é o torcicolo que a criança traz desde bebê. “Ela cresce e o corpo vai se adaptando. Geralmente, é uma criança que joga o peso do corpo para um dos lados e, quando está nessa fase de desenvolvimento, que começa a correr e pular, cai porque o corpo dela tem uma descarga de peso assimétrica”, explica a osteopata. Assim, o tratamento visa recuperar esse equilíbrio.
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3. Insônia: seu filho tem dormido mal durante a quarentena? Então saiba que, em alguns casos, as técnicas osteopáticas podem ser úteis! O sistema nervoso autônomo, que regula diversos processos fisiológicos, é dividido em simpático e parassimpático. “Quando vivenciamos momentos de estresse ou ansiedade, ativamos nosso sistema simpático, que nos deixa mais alerta. Então, começamos a ter insônia, prendemos o intestino e o apetite diminui. Esses são alguns sinais de que esse sistema está muito à flor da pele”, explica Kathiane.
As manobras osteopáticas podem ajudar tanto quem demora para adormecer quanto quem acorda muitas vezes, o chamado “sono picadinho”. “A osteopatia tem algumas técnicas que conseguem normalizar esse sistema para a criança sair desse estado de alerta excessivo, de ansiedade, e aí conseguir dormir melhor”, destaca a osteopata.
4. Refluxo: o estômago possui uma válvula que não permite o retorno do alimento ingerido. Nos bebês, essa válvula ainda é imatura e, como a alimentação ainda é muito líquida (leite materno), eles não conseguem controlar o movimento com tanta eficácia. Assim, apresentam refluxo.
“As técnicas usadas para essa condição são melhorar a mobilidade do estômago, tirando qualquer bloqueio próximo dessa válvula porque ali temos muitos músculos, e também melhorando o nervo vago que é o principal nervo que inerva a boca do estômago”, explica Kathiane. Assim, os osteopatas trabalham a mobilidade desde a base do crânio até as estruturas próximas ao estômago.
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Uma pesquisa italiana realizada com 110 bebês prematuros hospitalizados demonstrou que a osteopatia é útil na redução do tempo de internação. Isso porque as crianças apresentaram redução de sintomas como vômito e regurgitação quando submetidas à prática. Além disso, os estudiosos sugeriram que a técnica tem efeito anti-inflamatório e ajuda no equilíbrio dos sistemas simpático e parassimpático, o que também contribuiu para a liberação (alta) mais rápida.
5. Intestino preso: “Essa é uma queixa bem comum em crianças maiores de três anos. Os pais falam: ‘Já tirei leite, come muita fruta, toma muita água e mesmo assim o intestino é muito preso'”, conta Kathiane. No caso do órgão, os osteopatas avaliam a mobilidade e a inervação que chega até a região. “No caso do intestino preso, olhamos a lombar da criança e do bebê”, afirma. A região está diretamente associada ao funcionamento do intestino e sua desobstrução ajuda na ida regular ao banheiro.
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Há contraindicação?
“Como é uma ciência que não usa medicação, é natural e trabalha com as estruturas do corpo, com a mobilidade dos tecidos, não tem uma contraindicação. Algumas técnicas tem contraindicação, mas a osteopatia em si, se bem feita, não tem. Ela pode ser benéfica para melhorar qualquer sintoma”, explica Kathiane.
A osteopata inclusive recomenda que, ao menos uma vez, qualquer pessoa visite um osteopata e seja avaliada clinicamente. “Na Europa, faz parte do protocolo, quando um bebê nasce, ir a um pediatra e ir a um osteopata porque o benefício pode ser infinito. Existem casos que a criança é encaminhada por conta do intestino preso, aí apresenta uma super melhora na escoliose. Ou vai devido ao refluxo e a mãe conta que, no dia seguinte, começou a rolar sozinha”, conta.
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