No Brasil, os avós representam uma grande parte da população e, de acordo com projeção de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente existem 73 milhões de possíveis vovós e vovôs no país. Considerados por muitos os “pais em dobro”, avós podem ser fundamentais na criação e educação dos netos. Sem dúvida a convivência com os avós pode ser muito benéfica para os pequenos, pois contribuem não apenas emocionalmente, como também com suporte funcional. No entanto, pode existir a avó que ajuda e a que atrapalha. No caso dos avós que participam ativamente dos cuidados das crianças, podem surgir divergências ao tentarem impor uma educação que os pais não concordam.
Para Sonia Bonetti, 83, Helena Wiechmann, 92, e Gilda Bandeira de Mello, 79, trio que forma as Avós da Razão, grande sucesso do YouTube e das redes sociais, os avós não devem se intrometer na forma de criação dos netos. “Acho que avó foi feita para curtir, porque, para falar francamente, educação são os pais que tem que dar”, diz Gilda em entrevista concedida à Canguru News por e-mail.
Mas, segundo ela, também não é preciso exagerar. “Tudo tem que ser equilibrado, mas os avós tem que ser o ‘porto seguro’ dos netos. Tipo: ‘deu tudo errado em casa, meus pais estão enchendo meu saco, então, vou desabafar com minha avó’”, completa.
Conhecidas por debater sobre temas atuais e responder perguntas de internautas, sempre de forma muito bem humorada, as três avós foram um estouro entre os mais jovens e os velhos com o canal no YouTube, que já conta com mais de 76 mil inscritos. “O canal surgiu da mesa dos botecos que frequentávamos. A Cássia, nossa amiga que já trabalhava na área de audiovisual, cada vez que saía com a gente falava que era um programa pronto”, conta Sonia. Assim, Avós da Razão passou a ser produzido por Cássia Camargo. “Nós concordamos na hora porque seria igual a ir ao boteco, então ia ser mole, né”, afirma Sonia.
O trio visa rebater estereótipos em relação às avós. “Hoje, nosso objetivo principal é tirar o velho da cristaleira e jogá-lo no mundo. Afinal, estamos durando mais, então temos que ter objetivos e propósitos para continuar vivendo bem”, aponta Bonetti. As avós abordam diversos temas buscando rever preconceitos quanto aos velhos em geral. “O assunto da sexualidade sempre desperta interesse, principalmente quando é tratado por três velhas que respondem sem tabus, objetivamente e de maneira leve e descontraída. O humor é tudo”, diz Sonia.
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A educação em épocas diferentes
Ao mesmo tempo em que os avós podem transmitir vários conhecimentos por serem mais velhos, a diferença geracional também pode ser um problema. Ao longo dos anos, ocorreram muitas mudanças na sociedade e, em alguns casos, os avós podem não acompanhar as transformações.
“Na época em que éramos jovens tinha um machismo horroroso, os pais eram super castradores. Eu nunca me enquadrei nesse modelo, inclusive, com 21 anos, peguei minha malinha e sai fora daquela gente castradora. Vim para São Paulo com a cara e coragem e comecei minha vida do zero. Naquela época, uma moça só saía de casa se fosse casada. Eu nem dei bola para essas convenções e fui embora em busca da minha liberdade. Aliás, nós três sempre fomos assim, nunca demos bola para convenções”, explica Helena.
Porém, nem todos os avós pensam desta forma. Aqueles que se mantêm presos às maneiras antigas podem causar atritos ao tentarem ensinar aos netos as práticas mais conservadoras. “Como diz a Helena, os avós e netos têm um inimigo em comum: os pais. Mas acho nada a ver esse negócio de avós caretas se metendo na vida dos netos”, opina Gilda. Para as Avós da Razão, a diferença geracional pode ser uma ótima oportunidade para realizar trocas de pensamentos e posicionamentos e é importante manter a cabeça aberta.
“Cada um tem sua época, mas a nossa época também é agora. Por isso, temos sempre que reciclar e aprender com os nossos netos”, diz Gilda.
É importante que os avós participem, sejam carinhosos, formem laços com netos e deem conselhos. Entretanto, não é interessante que tentem ditar a forma como a criança deve ser criada, a educação dos pais também precisa ser respeitada. “Todo mundo tem que acompanhar as mudanças se não fica para trás, fica por fora”, diz Helena.
Segundo as Avós da Razão, nunca é tarde para aprender algo novo. Mesmo que os conceitos da atualidade pareçam muito diferentes e tirem algumas pessoas mais velhas da sua zona de conforto, é preciso aceitar as transformações e buscar olhar para frente. “Eu, com meus 93 anos, estou sempre aprendendo algo novo. Isso é maravilhoso, tem que insistir, tem tanta coisa que faço hoje que jamais pensei que aprenderia. Então, colega, fica a dica: se eu aprendi qualquer um consegue”, conclui Helena.
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