Natação, balé, judô, futebol, teatro, circo, robótica, música… As atividades extracurriculares trazem uma série de benefícios às crianças, relacionados, por exemplo, à força muscular, criatividade e socialização, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades motoras, sensoriais e intelectuais.
Porém, por mais atrativo e benéfico que seja a prática, pode acontecer de a criança se mostrar resistente a começar uma nova atividade, ou, se já começou, não querer mais continuar. Nesses casos, como os pais devem agir? Muitos ficam em dúvida se acatam o pedido do filho ou insistem para que siga fazendo as aulas por mais um período.
Para a neuropediatra Luciane Baratelli, há muitos fatores que podem fazer a criança querer sair de uma atividade. Pode ser desinteresse, falta de habilidade na área em questão ou falta de afinidade com o professor. Pode ser ainda algum incômodo que ela não consegue expressar.
“Um dia, minha filha pediu para sair da aula de dança. Conversei com ela e descobri que era a roupa que a estava incomodando. Trocamos o modelo da roupa e ela voltou para a aula feliz da vida. Às vezes, a criança transfere um incômodo de algo específico para todo o contexto, por não saber se expressar”, comenta Luciane, autora do livro “Antes que você cresça: 90 perguntas para fazer ao seu filho enquanto ele cresce”.
Ela lembra ainda da rotina puxada que muitas crianças enfrentam: “Não podemos esquecer que elas também precisam brincar, descansar, sentir ócio”.
Já colocar o filho para fazer algo que os pais admiram não é necessariamente um problema, desde que se respeite a individualidade dele. “Crianças precisam de referências e nós, como pais, temos a tendência de passar as nossas próprias para eles. Claro que devemos tomar cuidado, para não querer que os nossos filhos realizem os nossos sonhos não realizados na infância. É preciso permitir que façam as próprias escolhas quando tiverem maturidade para tal. Mas não há nada de errado em apresentar nossos gostos a eles.”
Zona de conforto x zona de pânico
Entre tantos possíveis motivos, nem sempre é fácil ler as entrelinhas e saber o que está por trás de um pedido da criança para deixar de frequentar as aulas. “É preciso muita conexão, nos afastar da nossa própria história, para entender a história do nosso filho, conversando com ele para tentar compreender a origem do desconforto”, diz a neuropediatra. Também é importante falar com o professor, que tem um olhar diferente do olhar dos pais e pode enxergar aspectos que eles não veem.
A especialista faz porém a ressalva para não forçar demais a barra e ‒ em vez de incentivar a criança com medo a sair da zona de conforto, colocá-la na zona do pânico. “Às vezes, pode ser apenas um perfeccionismo da criança, uma sensação de que ela não é capaz, e não acredita no próprio potencial. Nessas horas, uma mão para validar seu sentimento de medo e encorajá-la a enfrentá-lo pode ser tudo que ela precisa para ganhar confiança”, analisa. Outras vezes, ela pode realmente não estar preparada. E tudo que ela quer é alguém ao seu lado para dizer ‘está tudo bem desistir’, complementa Luciane.
As apresentações em público
Algumas crianças não se sentem bem com as apresentações em público, como os espetáculos de fim de ano das academias de dança, ou as competições esportivas, comuns nas escolinhas de futebol e judô, por exemplo. Mas, ainda que esse seja um desafio, pode ser superado pela maior parte das crianças, acredita a especialista. Nesse caso, é interessante tratar a apresentação como algo natural ‒ sem valorizar demais, como se fosse o evento mais importante da vida da criança, e nem de menos, como se fosse algo sem nenhuma importância. Para motivar o filho, além de conversar com ele sobre o assunto, vale contar histórias de desafios da própria infância e do que foi feito para superá-los.
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