Andamos todos cansados. Mas há cansaço e cansaço. Há a canseira dos dias serem todos iguais, monótonos e nada surpreendentes. É o vira o disco e toca o mesmo. E depois há o cansaço por excesso. Aquele cansaço que se instalou já não sabemos bem quando, mas que torna os nossos dias demasiado pesados, escuros. Andamos zumbis, ora porque dormimos muito pouco, ora porque estamos muito sobrecarregados, quando não é pelos dois motivos.
Mas continuamos: temos a crença de que é uma fase que vai passar e que ficará melhor. Mas não melhora. Piora. Perdemos o fio da meada, há sempre pendências, há sempre mais alguma coisa. Mais um dia, mais outro. Acumulamos, continuamos a dizer que conseguimos, afinal há situações piores, afinal são os nossos filhos e é mesmo assim. Ser pai e mãe não é um mar de rosas, não é fácil, mas tudo melhora e torna-se mais fácil com o tempo.
E o dia chega e percebemos que não temos mais saída. Não conseguimos recuperar do cansaço. Não conseguimos pensar direito e deixamos de confiar na nossa memória. As rotinas começam a apagar-se da nossa cabeça, não sabemos quando fizemos certas coisas, fazemos um esforço para nos recordarmos do que foi o almoço de ontem ou se hoje é quarta ou quinta.
Quando o cansaço fica desta envergadura, as forças que nos permitem segurar o nosso corpo e o pouco do raciocínio que temos, simplesmente, desaparecem. ChoraQuando o cansaço passa a atrapalhar os pensamentos e a memória e nos leva a confundir atividades de rotina, é preciso “desacelerar,descansar, reduzir as coisas ao essencial”, alerta a educadora portuguesa Magda Gomes Diasmos de desespero, de medo. O cansaço torna-se personificado na nossa cabeça e percebemos que, efetivamente, se instalou.
Há quem atire, nesses momentos, a toalha ao chão e desista de tudo. É preciso parar, desistir das coisas, dizem.
Eu digo que precisamos desacelerar, descansar, reduzir as coisas ao essencial. Nunca desistir, jamais atirar a toalha ao chão nestas circunstâncias. Mantermo-nos com alguma atividade, mantém-nos ativos, em ação, com a noção que a nossa vida continua a acontecer. Apenas em slow motion. Descansar, desacelerar, dormir mais, reduzir tudo ao essencial. Mas nunca desistir. E saborear. A vida, em câmera mais lenta é maravilhosa e darás conta que, muito possivelmente, esse episódio da tua vida foi das melhores coisas que te aconteceram. Só tens mesmo de te permitir desacelerar e aproveitar. É um grande clichê, mas dizem que os clichês são grandes verdades.
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