Por Erika Campos Gomes* ‒ A alergia alimentar é uma condição que tem aumentado sua prevalência e severidade, afetando principalmente as crianças. Suas formas de tratamento envolvem a restrição do alimento alergênico e a medicação adequada em caso de contato acidental com o alérgeno.
Apesar de ser um tema que tem recebido mais visibilidade, favorecendo a obtenção do diagnóstico e a melhoria dos cuidados, muitos mitos e equívocos têm sido perpetuados em relação à alergia a alimentos. Famílias que convivem com o assunto com frequência ouvem afirmações como “só um pouquinho do alimento não faz mal”, “alergia é frescura” ou “há uma superproteção dos pais”.
A sociedade tem dificuldade em compreender a necessidade imperativa da restrição do alimento alergênico e pouco colabora para que as crianças alérgicas permaneçam seguras e incluídas em seus ambientes de convívio. Isso faz com que as restrições a essas crianças sejam ainda maiores e muitas vezes desnecessárias, como explico a seguir.
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No seio familiar, a falta de entendimento e cooperação de avós, tios, primos e amigos pode levar pais e/ou cuidadores a restringir a convivência da criança em encontros e eventos familiares como uma estratégia para proteger e manter a criança segura. Essa situação pode afetar significativamente a formação de vínculos e a construção de habilidades sociais dessas crianças, além de ampliar o sofrimento psíquico dos pais com a diminuição de uma rede de apoio.
No contexto escolar, quando não há uma gestão adequada e inclusão dos alunos alérgicos, a própria escola ou mesmo os pais restringem atividades como excursões, aulas de culinária, experimentos científicos, feiras e festas como forma de manter a criança livre do alérgeno. No entanto, essa abordagem priva as crianças de vivências pedagógicas fundamentais para o seu pleno desenvolvimento.
Em ambientes sociais amplos, as restrições desnecessárias envolvem evitar ou limitar festas, visitas aos amigos, idas a cinemas e piqueniques no parque, eventos sociais em datas comemorativas como Natal, festa junina, Páscoa, Halloween, entre outras. As crianças não são incluídas adequadamente nessas situações e precisam evitá-las, visto que podem ser perigosas, repletas de alimentos que podem causar uma reação alérgica, e sem a colaboração dos adultos próximos, o que as deixa ansiosas e inseguras.
Infelizmente, essas restrições podem se fazer necessárias quando não se encontra empatia, colaboração e inclusão no convívio social. E podem provocar efeitos psicossociais deletérios nas crianças e suas famílias, tais como ansiedade generalizada, depressão, isolamento social e ansiedade social.
A conscientização e informação da sociedade são condições indispensáveis para que os alérgicos tenham restrições somente relacionadas ao alimento e possam ter oportunidades, principalmente sociais, de convivência e vivência de uma vida plena.
Contribuindo para a ampliação dessa conscientização, ocorre neste sábado (5) o Encontros & Conexões sobre Alergias Alimentares – 2023, o primeiro evento nacional presencial para pais e crianças alérgicas. Na ocasião, as famílias terão a oportunidade de se reunir em um local seguro para dividir experiências e desafios. Pais e filhos poderão aprender o que há de mais recente e relevante em termos de cuidados com alergias alimentares.
As crianças também terão a possibilidade de aprender mais sobre si mesmas, sobre a sua alergia e formas de gerenciar os desafios sociais e relacionais que possam envolver a restrição. Além de experimentarem vivências sociais, que são por vezes escassas em seu dia a dia.
Um momento único de socialização que envolve conscientização, educação e a partilha de vivências e alimentos de maneira segura, sem gerar ansiedade e sofrimento nas crianças e famílias.
Saiba mais sobre o evento em: conexaoalimentar.com.br/encontros/
*Erika Campos Gomes é psicóloga, doutora e mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, colaboradora do portal Conexão Alimentar.
*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.