Como identificar sinais de abuso sexual no filho e ajudá-lo. Em vídeo: saiba quem são os abusadores

Ao saber do abuso, os pais devem dar atenção total ao filho e acreditar no que ele diz, o que é crucial para o seu bem-estar psicológico, dizem especialistas

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Abuso sexual em crianças: como identificar a prática; imagem mostra urso de pelúcia sentando em frente a uma janela
Crianças tendem a se abrir quando têm um adulto em quem possam confiar
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Esta semana, o triste caso da menina de 10 anos que engravidou após ser vítima de abuso sexual pelo tio causou comoção e revolta no país. Em depoimento, ela contou que era abusada sexualmente pelo tio desde os seis anos de idade, mas que não havia dito nada porque era ameaçada por ele. A garota já teve alta do hospital onde interrompeu a gestação, em Recife, e o tio dela, suspeito do crime, foi preso em Betim (MG).

Casos como esse, infelizmente, são comuns no Brasil. Em 2019, foram registradas cerca de 17 mil denúncias de violência sexual contra menores de idade, segundo dados do Disque 100, do governo federal. A maior parte das queixas é de abuso sexual em crianças e adolescentes (13.418 casos), mas há relatos também de exploração sexual (3.675). Os números mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. E em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima. 

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Especialistas ressaltam que a quarentena é um agravante para a prática desse tipo de crime. Em junho, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alertou para a necessidade dos países prevenirem a violência contra crianças durante o isolamento social. “A violência contra crianças sempre foi generalizada e agora as coisas podem piorar muito”, disse Henrietta Fore, diretora executiva do Unicef.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também emitiu um alerta sobre o assunto. “Por causa da pandemia, todas as escolas estão fechadas e as consultas eletivas ao pediatra estão sendo remarcadas. Nesse cenário, a criança fica ainda mais vulnerável, porque perde todos os meios de vigilância e contato externos”, afirma o presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Marco Antônio Chaves Gama. A entidade elaborou um guia que ajuda os pais a identificar sinais de abuso sexual em crianças e adolescentes e orienta quanto a como agir nessa situação. Detalhamos abaixo as principais perguntas e respostas do guia. Confira.

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Guia da SBP indica principais sinais de abuso sexual e como agir para ajudar a vítima

Por diversas razões que incluem sentimentos de culpa, constrangimento, vergonha, impotência ou medo do agressor. Algumas crianças/adolescentes podem simplesmente não saber como falar sobre o abuso. A probabilidade de manter o segredo pode ser ainda maior quando o transgressor for um membro da família ou conhecido da família. Nesse caso, a vítima pode vivenciar um conflito, pois deseja que o abuso pare, mas está preocupada com o bem-estar do agressor após a denúncia, e teme as consequências da revelação, como separação ou perturbações no núcleo familiar.
As vítimas demonstram uma grande variedade de comportamentos enquanto crescem, mas estar alerta para mudanças nas emoções e comportamentos que parecem fora do comum em seu( sua) filho(a) é fundamental. Esteja alerta, mas não seja alarmista – esses são indicadores possíveis, não sinais indiscutíveis.

Mudança de comportamento. Se a criança /adolescente nunca agiu de determinada forma e, de repente, passa a agir; se começa a apresentar medos que não tinha antes – do escuro, de ficar sozinha ou perto de determinadas pessoas; ou então mudanças extremas no humor: era ‘super extrovertida’ e passa a ser muito introvertida. ‘Era super calma e passa a ser agressiva’. Como a maioria dos abusos acontece com pessoas da família, às vezes, apresentam rejeição a essa pessoa, fica em pânico quando está perto dela. E a família estranha: 'Por que você não vai cumprimentar fulano? Vá lá!'.

Proximidade excessiva. Se ao chegar à casa de familiares ou conhecidos, seu filho desaparece por horas brincando com um primo mais velho, tio ou padrinho ou se é alvo de um interesse incomum de adultos da família em situações em que ficam sozinhos sem supervisão, é preciso atenção. Muitas vezes, o abusador manipula emocionalmente a vítima que nem sequer percebe estar sendo vítima naquela etapa da vida, o que pode levar ao silêncio por sensação de culpa. Essa culpa pode se manifestar em comportamentos graves no futuro como a autolesões e até ideias suicidas ou suicídio.  
Regressão. A vítima pode apresentar comportamentos que já havia abandonado, como fazer xixi na cama ou voltar a chupar o dedo. Ou ainda começar a chorar sem motivo aparente. Se isolar com medo, não ficar perto de amigos, não confiar em ninguém, não sorrir ou usar roupas incompatíveis com o clima como mangas longas, capuz (pode ser sinal de autolesão) ou fugir de qualquer contato físico.

Segredos. Para manter o silêncio da vítima, o abusador pode fazer ameaças de violência física e de expor fotos suas. É comum também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de benefício material para construir a relação com a vítima. É preciso explicar aos filhos que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com adultos de confiança, como a mãe ou o pai.

Hábitos. Uma vítima de abuso também apresenta alterações de hábito repentinas. Pode ser desde um mau desempenho escolar, falta de concentração recusa a participar de atividades, mudanças na alimentação (anorexia, bulimia), distúrbio do sono como pesadelos e insônias, medo de ficar sozinha e mudança na aparência e forma de se vestir.  

Questões de sexualidade. As vítimas podem reproduzir o comportamento do abusador em outras crianças/adolescentes. Como exemplo, chamar os amiguinhos para brincadeiras que têm algum cunho sexual, fazer desenhos que mostram genitais ou ainda apresentar comportamentos como: em vez de abraçar um familiar, dá beijo e acaricia onde não deve. Também pode usar palavras diferentes das aprendidas em casa para se referir às partes íntimas – nesse caso, vale perguntar onde seu filho aprendeu tal expressão.

Questões físicas. Existem situações em que a criança/adolescente acaba até mesmo contraindo infecções sexualmente transmissíveis ou gravidez. Deve-se ficar atento a possíveis traumatismos físicos, lesões que possam aparecer, roxos ou dores e inchaços nas regiões genitais ou anal, roupas rasgadas, vestígios de sangue ou esperma, dores ao evacuar ou urinar. Dores inespecíficas como abdominal, cefaleia, em membros, torácica (afastadas as hipóteses biológicas) podem indicar sinais de alerta.

Negligência. Muitas vezes, o abuso sexual em crianças vem acompanhado de outros tipos de maus tratos que ela sofre em casa, como a negligência. Filhos que passam horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família, com o diálogo aberto com os pais, estarão em situação de maior vulnerabilidade a este tipo de abuso ou outros. Ou tempo em excesso de tela – podendo ser vitimas de apelos sexuais pela internet.
Há muitas características que são semelhantes às de um adolescente em desenvolvimento. Por isso que é importante ter avaliação de alguém que é especialista nisso como um psicólogo, professor ou pediatra. E pode acontecer da criança/adolescente tentar contar para alguém mas não ser ouvida. Por isso, o principal conselho dos especialistas é sempre confiar na palavra dela. É importante que quando a criança/adolescente tentar falar alguma coisa, que ela se sinta ouvida e acolhida. E, nunca questionar aquilo que ela está contando ou tentar responsabilizá-la pelo ocorrido.
Se envolver de forma proativa na comunicação aberta sobre segurança pessoal desde cedo é o mais indicado. Isso pode incluir ensinar os nomes corretos para suas partes íntimas, criando uma linguagem compartilhada em torno de sinais de aviso e regras básicas sobre segurança pessoal. Ter essas conversas abertas desde o início aumentará o conhecimento da criança/adolescente podendo incentivar a comunicação sobre experiências desconfortáveis que ela/ele possa ter.
É quando o abusador manipula a criança/adolescente usando pressão psicológica, recompensas concretas (como brinquedos e dinheiro) e atenção. Uma vez que o abuso ocorre, o silêncio da criança pode ser mantido pelo agressor, insinuando que ninguém acreditará nela, usando ameaças e suscitando sentimentos de culpa (“você arruinará a família se contar a alguém” “ ninguém vai acreditar em você” …) e distorcendo a realidade do abuso (como sugerir que isso faz parte de um “jogo”, “isso é normal”…). A prática contribui para que a criança permaneça calada.
Pesquisas sugerem que as crianças/adolescentes são mais propensas a contar sobre casos de abuso sexual se acharem que têm pelo menos um adulto de confiança a quem podem recorrer, que as ouvirão e acreditarão nelas. As vítimas do sexo masculino são menos propensas a se abrir do que as vítimas do sexo feminino. Pode ser que isso aconteça pelo estereótipo de que pedir ajuda é algo não masculino ou pelo medo de ser visto como homossexual, se o abusador for do sexo masculino. Pode acontecer também da criança ou adolescente se sentir desconfortável sobre a experiência devido às respostas fisiológicas visíveis que pode ter – como uma ereção.
Você pode fazer perguntas como: “Há alguma coisa que te preocupa?”, “Você está bem?”, “Há alguma coisa que você gostaria que eu fizesse para te apoiar?”. A revelação de abuso sexual de uma vítima pode ser intencional ou não intencional, completa ou incompleta, verbal ou não verbal, podendo tirar uma foto ou usar brinquedos para encenar a situação. É importante ressaltar que a maneira como você reage pode afetar sua recuperação desse trauma. Ao saber do abuso sexual em crianças, dê atenção total a ela. Acreditar nela é crucial para o seu bem-estar psicológico. Permita que vítima use suas próprias palavras e leve o tempo que precisar. Faça com que ela tenha certeza de que fez a coisa certa ao lhe contar.
Evite encher a vítima de perguntas, pois isso pode aumentar desnecessariamente a pressão e interferir nos procedimentos legais (que podem ser considerados como direcionadores da revelação da criança/adolescente). O importante, ao suspeitar do abuso sexual em crianças, é ser um ouvinte encorajador e garantir que a vítima esteja segura.
Você pode comunicar a uma delegacia especializa em proteção da criança ou ao conselho tutelar de sua cidade. Fazer denúncia anônima também. Use o DISQUE 100. Esses organismos contam com profissionais especificamente treinados em obter os relatos das vítimas. Além disso, mesmo que a criança/adolescente não revele o abuso, você pode relatar suas preocupações e suspeitas a estes órgãos ou algum profissional de sua confiança como pediatra do seu (sua) filho(a), o hebiatra ou o educador.

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