A influencia da religião na criação dos filhos

O educador parental Mauricio Maruo fala sobre a origem da religião e chama a atenção para a maneira como crenças são repassadas às crianças

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Menino reza com mãos juntas
Buscador de educadores parentais
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Os recentes fatos envolvendo o líder espiritual Dalai Lama me fizeram tomar coragem e escrever sobre um tema muito polêmico e extremamente delicado dentro da educação parental, a influência da religião na criação dos nossos filhos(as).

Como já comentei, o tema de hoje pode ser bem delicado para algumas pessoas, então já aviso que pode haver gatilhos religiosos.

Antes de começarmos a falar sobre a influência das religiões no desenvolvimento emocional, social e comportamental das crianças, vamos primeiro tentar entender o que de verdade é uma religião.

Não há um consenso histórico sobre o que é religião e qual seria sua origem, porém sabe-se que todas as religiões têm algo em comum. Todas são baseadas em um sistema de crenças, normalmente atribuídas a algo sobrenatural ou de certa forma irreais.

Para ilustrar melhor, imagine o seguinte contexto:

Você é um homem ou uma mulher das cavernas, e vive com um grupo grande, nenhum de vocês sabe ainda como utilizar a agricultura como meio de sobrevivência, então vocês são obrigados a caçar ou coletar frutas para se alimentar. A sobrevivência do grupo depende de quão bem sucedido será essa procura, correto? 

Neste momento são geradas várias dúvidas, medos, incertezas, angústias que permeiam essa procura, até que em uma noite de inverno intenso e sem muita comida, uma pessoa do grupo começa a fazer algumas pinturas nas paredes da caverna que simbolizam uma boa caça ou uma boa coleta. No dia seguinte uma parte do grupo sai para caçar e acontece algo fantástico, eles caçam um animal grande com bastante carne. 

Esse é um grande pretexto para que todos do grupo comecem a acreditar que as pinturas foram as responsáveis por trazer o que eles procuram. Neste instante nasce algo que chamamos de .

Obs: Puxando pelo contexto artístico histórico, as pinturas das cavernas não são ficção, elas existem e são chamadas de pinturas rupestres e contradizendo o que muitas pessoas acreditam, elas não foram criadas como ideia de registros dos nossos antepassados para as futuras gerações, até porque se eles nem sabiam como utilizar a agricultura, como poderiam saber sobre registros históricos? 

As pinturas rupestres nasceram da necessidade de sobrevivência através de uma crença.

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É assim que são formadas a maioria das religiões, eu me apego a uma crença para que eu possa sobreviver de alguma coisa que ainda falta dentro de mim, e olha que o ser humano ainda procura muitas coisas para preencher todas as inquietações que existem dentro dele, os psicólogos e psicoterapeutas agradecem

Agora que entendemos o que é a religião, vamos começar os recortes.

O caso do Dalai Lama me lembrou o escândalo que abalou as Igrejas Portuguesas em fevereiro deste ano, onde em um relatório feito pela comissão de investigação dos direitos das crianças, descobriram que nos últimos 70 anos mais de 4815 crianças foram abusadas sexualmente, 77% dos abusos eram praticados pelos próprios padres em crianças de 10 até 14 anos (em sua maioria do gênero masculino).  

No Brasil, segundo os dados do IBGE, cerca de 65% da população é católica, seguindo de

23% evangélicos , 8 % não se declarando religiosos, 2% são espíritas e o restante de outras religiões. 

Com esses dados podemos afirmar que a maioria da população brasileira “acredita” na história que é contada na Bíblia ou na história de Jesus Cristo como o personagem protagonista de uma história cheia de ensinamentos.

Porém muitas igrejas católicas e evangélicas “acreditam” nos fatos que foram ensinados muitos anos atrás e perpetuam esses fatos ainda hoje como verdades.

Um bom exemplo disso é o fato de que o Jesus Cristo Histórico, aquele que é retratado na bíblia e nas paredes das igrejas, nasceu em uma região (onde hoje é Israel) muito quente e onde a predominância racial de quem vivia na região do Oriente Médio era de pele escura.  

Não vejo problemas em ensinar religião às crianças, pois acredito que alguns ensinamentos são super válidos, mas vejo sim um grande problema quando a religião passa a ser a causadora de uma crença cega.

Nos dias de hoje ainda é difícil ver igrejas católicas e evangélicas (a maioria aqui no Brasil) defendendo o relacionamento homoafetivo, ou a liberdade sexual das mulheres ou questionando as milhares de passagens machistas que estão presentes na bíblia.

A pergunta que me vem à cabeça é: 

Como todas essas informações são passadas às crianças de hoje?

Aqui em casa ensinei algumas coisas para minha filha sobre o querido Jesus Cristo:

  • Ensinei que Jesus poderia ser preto ou descendente devido à região onde ele morava.
  • Ensinei que o Jesus que ela vê nas paredes das igrejas nada mais é do que um personagem que muitas pessoas conhecem, assim como as figuras do folclore brasileiro.
  • Ensinei que Jesus poderia ser sim, uma pessoa homoafetiva pois ele tinha muito carinho pelos seus amigos apóstolos.
  • Ensinei que talvez Jesus fosse feminista, pois ele defendeu e acolheu Maria Madalena compreendendo toda sua luta pela igualdade de generos.
  • Ensinei que Jesus dizia coisas muito bonitas porque com certeza ele era livre de preconceitos, julgamentos e crenças e que talvez os homens de épocas diferentes distorceram as palavras bonitas que ele dizia para um proveito próprio.

Então na minha opinião, a religião é extremamente bonita quando ela é livre de crenças.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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Mauricio Maruo
É pai da Jasmim e do Kaleo, e companheiro da Thais. Formado como artista plástico, atua como educador parental desde 2016. É fundador do "Paternidade Criativa", uma empresa de impacto social que cria ferramentas de transformação masculina através do gatilho da paternidade. Criador do primeiro jogo de Comunicação Não Violenta direcionado para pais e crianças do Brasil.

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