O diálogo com o governo e a criação de políticas públicas que invistam na melhoria das relações familiares são ações essenciais para fazer com que a educação parental chegue cada vez mais longe e beneficie cada vez mais famílias. “A educação parental é um problema público que deve ser enfrentado com soluções também públicas”, declarou Marcelo Couto, secretário da família, cidadania e segurança alimentar da Prefeitura de Osasco (SP), em apresentação nesta sexta-feira (24), durante o 4° Congresso Internacional de Educação Parental. Ele destacou a relação da educação parental com uma série de fatores sociais como evasão escolar, desempenho na educação, desenvolvimento econômico e aquisição de capital humano.
Para o secretário, que atua à frente do Programa Famílias Fortes, a educação parental deve entrar no planejamento público tanto quanto problemas macroestruturais como habitação, renda e educação. “A solução para esses outros problemas pode ser mais fácil a partir de uma melhor interação entre pais e filhos. Se a criança não vai bem na escola, se vive num ambiente tóxico, são esses fatores que a gente precisa compreender para dar visibilidade e conscientizar a sociedade da importância de promover a educação parental e mudar o cenário brasileiro. Romper com o ciclo de reprodução intergeracional da pobreza é mais fácil quando a criança não é colocada em situação de abuso, negligência ou violência.”
Para Rodolfo Canônico, diretor-executivo do Family Talks, ONG que busca impactar as famílias por meio do apoio público ao cuidado, a sociedade tem que assumir sua responsabilidade para que os políticos percebam a importância do desenvolvimento da parentalidade. Ele citou números como o que mostra que 4 em cada 5 brasileiros cuidam dos filhos sem nenhum tipo de apoio externo. “Existe uma cultura de terceirizar essas responsabilidades, mas não podemos esperar que os políticos percebam essa necessidade. Temos que que construir essa vontade social, acender uma luz e levar até o governo essa demanda”, apontou Rodolfo, que também idealizou o movimento Compromisso pela Educação Parental.
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Infância em movimento
“Se eu tivesse que escolher uma palavra para representar as crianças, essa palavra seria movimento, porque a forma natural que elas têm de entender o mundo, se expressar e aprender é se movimentando. Movimento não é sinônimo de doença, patologia ou transtorno. Movimento é potência, vitalidade, sede de vida”, destacou a psicóloga mineira Cecília Antipoff, que também se apresentou no segundo dia do congresso.
Ela trouxe ao evento o tema da criança do movimento, que tem uma necessidade de experimentação maior e, muitas vezes, são diagnosticadas equivocadamente com distúrbios como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e o transtorno opositor desafiador (TOD), entre outros.
Segundo Cecília, que lançou este ano o livro “Crianças do movimento – por menos diagnóstico e medicamento”, uma criança que se movimenta muito incomoda os adultos, que não querem ter trabalho com os filhos, e sim querem ter sossego.
“A criança quer conhecer o mundo, ela não só quer, mas precisa. Ela tem direito de contato com a natureza, só que cada vez mais os universos das crianças estão fechados, artificiais, com escolas cinzas, pavimentadas.Toda criança tem direito ao tempo livre. É no tempo livre que ela descansa, assimila o que aprendeu. A criança só inventa quando ela tem tempo livre e as crianças de hoje estão com agendas lotadas”, apontou a psicóloga.
“Dizem que as crianças são difíceis, mas discordo dessa afirmação. difícil é ser criança hoje em dia”, diz a psicóloga Cecília Antipoff.