Neste ano, o tema central da campanha publicitária do dia das mães de uma grande marca de cosméticos é a culpa materna. No vídeo que foi postado essa semana nas redes, uma mãe é colocada em posição de ré, em frente a um júri no tribunal. E a mulher recebe a sentença de que “falhou enquanto mãe” por não amamentar o filho, por deixa-lo chupar chupeta, comer doces, ficar nas telas…
Essa campanha gerou um grande debate. De um lado pessoas que gostaram e se emocionaram com o final; e do outro um grupo que acha que o julgamento constante sentido pelas mães na sociedade, foi ali reforçado.
Quem já ouviu essa frase: “Quando nasce uma mãe, nasce junto a culpa”? Segundo o dicionário, culpa é um sentimento de responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Esse sentimento que acompanha as mamães costuma ser potencializado na maternidade atípica: aonde foi que eu errei? Será que fui eu que passei a doença para ela? De quem ele herdou esse gene defeituoso? Será que o que eu comi ou deixei de comer pode ter ocasionado essa condição? Será que não o amei o suficiente, por isso meu filho nasceu assim? Não estou tendo tempo de cumprir as horas de terapia em casa; Preciso estimular mais meu filho pois o filho da fulana com o mesmo diagnostico já falou ou já está andando; não tenho dinheiro para pagar todas as terapias que meu filho precisa…
É comum ouvirmos mães que acabaram de descobrir o diagnóstico de autismo do filho se perguntando o que fizeram de errado ou o que deveriam ter feito diferente. Aquelas que largam tudo para cuidar dos filhos se sentem culpadas por não contribuírem financeiramente e aquelas que precisam sair para trabalhar se sentem culpadas por deixarem os filhos aos cuidados de terceiros e por perderem os detalhes importantes da evolução da criança.
Essa auto cobrança mina as energias e a auto confiança das mulheres, prejudicando sua autoestima. Comigo a culpa veio forte logo na primeira gestação. Eu não pude estar com minha filha na UTI, dar colo, amamentar como eu gostaria. Durante um tempo eu repetia, contando para as pessoas que a “minha apendicite” tinha passado a infecção para ela e provocado o parto prematuro e a paralisia cerebral.
Conscientemente eu sabia que não tinha controle sobre isso, mas inconscientemente me sentia culpada. Precisei fazer terapia para compreender, me perdoar e ressignificar aquela dor. Educar um filho com deficiência é um processo que nos exige bastante! Ter um filho que veio com “defeito”, que não é visto pela sociedade como “normal” ou “perfeito”, que precisa ser “concertado”, que não se comporta como o esperado e por isso não é bem vindo em certos lugares, pode provocar nos pais uma sensação de derrota, de culpa, de fracasso, de vergonha.
Alguns até escondem os filhos e têm dificuldade de falar sobre a deficiência deles. Segundo dados divulgados pelo Instituto Baresi, em 2012, no Brasil, cerca de 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras, antes dos filhos completarem 5 anos de vida. A falta de uma rede de apoio, as crenças limitantes que são passadas de geração em geração e o patriarcado são fatores que pesam e favorecem para que a culpa recaia sobre as mães.
Diante desse sentimento que não leva a nada, é preciso parar, respirar fundo e se perguntar: da onde essa culpa está vindo? O que ela está querendo me dizer? Quais são as crenças que eu tenho em relação a essa situação que estou vivenciando? O que está sob meu controle e o que não está?
Além de uma rede de apoio que ajude com a parte do cuidado físico, essas mães vão precisar também de pessoas dispostas a escutar e acolher suas dores, sem julgar. Fazer terapia ou participar de um grupo, com outras mães atípicas, ajuda a tornar esse caminho mais leve e prazeroso.
Para você que está aqui lendo e se sentindo culpada, saiba que eu entendo você. A vida é um constante movimento. Ela segue e podemos seguir juntas. Procure aí na sua cidade ou na internet grupos e redes de apoio de mães pois o caminho se torna mais suave quando você não está sozinha. E você não está.
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