Entenda a transmissão da bactéria da febre maculosa e saiba como se prevenir

A alta taxa de letalidade se deve à possibilidade de confusão dos sintomas com os de outras doenças; crianças e idosos podem não se queixar da picada do carrapato estando assim mais propensos à evolução para quadros graves

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Carrapato estrela, que transmite a febre maculosa
Brasil registrou nove mortes e 54 casos da doença | Foto: jundiai.sp.gov.br
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Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein – A febre maculosa, doença causada pela bactéria Rickettsia sp., tem sido destaque devido ao registro de quatro mortes decorrentes de contaminação em um único evento na região de Campinas, interior de São Paulo. Segundo dados do Ministério da Saúde, até quinta-feira (15), o Brasil já havia registrado nove mortes e 54 casos da doença neste ano. Todos os óbitos ocorreram na região Sudeste, sendo sete em São Paulo, um em Minas Gerais e um no Rio de Janeiro.

No período de 2007 a 2021, o Brasil teve um total de 36.497 casos da doença. Entre esses casos, 2.545 foram confirmados por meio de exames de laboratório, resultando em 834 mortes e uma taxa de letalidade de 32,8%. A média anual é de aproximadamente 170 casos confirmados e 2.400 casos suspeitos.

O que é a febre maculosa?

A febre maculosa, causada pela bactéria Rickettsia sp., é transmitida pela picada de carrapato. Ele se contamina ao sugar o sangue de animais infectados, como cavalos, capivaras ou vacas. Ao entrar em contato com a pele de uma pessoa, precisa ficar grudado por cerca de quatro horas para conseguir transmitir a bactéria. A picada coça, mas às vezes passa despercebida, pois pode se tratar de um carrapato jovem muito pequeno, chamado de micuim.

No Brasil, há duas espécies da bactéria: a Rickettsia rickettsii, mais presente no Sudeste, causa uma doença grave com uma letalidade que chega a 55%, e a Rickettsia parkeri, registrada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará, que leva a quadros menos graves.

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O diagnóstico precisa ser rápido. Após a contaminação, o período de incubação da doença dura em média uma semana, variando de dois a 14 dias. O diagnóstico é difícil, uma vez que os sintomas iniciais são bastante inespecíficos, incluindo febre, dor de cabeça, dor no corpo, falta de apetite, náuseas e vômitos. Posteriormente, surgem manchas vermelhas na pele e a condição clínica geral do paciente piora.

“A pessoa pode acabar revelando esses sinais e sintomas e demorar a procurar um serviço médico. Assim, a doença vai evoluindo”, diz a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein. Ela provoca uma inflamação nos vasos que causa tromboses, formação de coágulos, o que acaba levando a falhas nos órgãos por falta de circulação adequada. Em poucos dias, pode haver, por exemplo, insuficiência renal, insuficiência respiratória, necrose de tecidos, entre outras complicações graves.

No início, pode ser confundida com doenças como leptospirose, dengue e malária. Por isso, se o paciente apresentar os sintomas, deve sinalizar se esteve em zonas de risco e histórico de picada de carrapatos. O tratamento precoce, feito com antibióticos, é essencial e deve começar nos primeiros dias para evitar o agravamento da doença e até a morte.

A infectologista explica que não se deve tomar antibióticos sem critério, mas procurar um médico imediatamente se tiver sintomas. “A gente só introduz o antibiótico se a pessoa tiver sintomas e o tratamento quanto mais precoce, melhor”, explica. “Apenas uma porcentagem muito pequena dos carrapatos é reservatória da bactéria”. São considerados casos suspeitos e candidatos ao tratamento aqueles que apresentam febre e sintomas como dor de cabeça, dor no corpo, náuseas, vômitos e história de picada de carrapatos e/ou que tenham frequentado uma região de risco nos últimos 15 dias.

Assim que surgirem os sintomas, o tratamento deve começar imediatamente. A doxiciclina é o medicamento de escolha, além do cloranfenicol, e normalmente dura uma semana, podendo ser estendido dependendo da evolução do paciente.

Casos graves precisam de hospitalização, e as primeiras 48 horas são as mais críticas. Quadros mais leves podem ser tratados ambulatorialmente, mas todos devem ser monitorados para controle das possíveis complicações, incluindo renais, cardíacas, pulmonares e neurológicas.

“A gravidade do quadro depende também da resposta do sistema imunológico do indivíduo, ou mesmo da presença de outras comorbidades. É importante ressaltar que crianças e idosos, por exemplo, podem não se queixar da picada do carrapato e evoluir para quadros graves da febre maculosa pela falta de suspeita”, diz a especialista.

Os remédios contra a febre maculosa estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Em nota, o Ministério da Saúde enfatiza que “atualmente todas as unidades federativas estão abastecidas com os medicamentos prioritários para o tratamento da febre maculosa, incluindo São Paulo. Além dos quantitativos já distribuídos, o Ministério da Saúde possui estoque estratégico e já colocou à disposição para enviar novas remessas aos estados que precisarem.”

Como prevenir

Para prevenir a febre maculosa, não há vacina contra a doença. Portanto, é importante tomar alguns cuidados para evitar o contato com carrapatos infectados.

Os carrapatos vivem em áreas de mata ou em animais. Ao realizar atividades em locais potencialmente infectados, é recomendado utilizar sapatos fechados e roupas compridas que cubram todo o corpo, com a parte inferior das calças dentro das botas. É aconselhável até mesmo lacrar com fita adesiva dupla face. A orientação dos especialistas é escolher roupas claras, que facilitem a visualização do carrapato.

“Ao se aventurar em regiões de mata e cachoeira, é importante estar ciente de que estamos no período de reprodução do carrapato estrela, ocorrendo o risco de transmissão da febre maculosa através de sua picada. Caso, até 15 dias após esse deslocamento, você apresente sintomas, deve procurar atendimento médico o mais rápido possível”, afirma Tatiana Lang, Diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo.

Após se expor a um ambiente ou situação de risco, é recomendado fazer uma vistoria no corpo em busca de carrapatos em intervalos de 3 horas. Quanto mais rápido forem retirados, menor será o risco de contaminação. É importante observar com atenção inclusive locais mais escondidos, como sob os braços, no umbigo, entre os dedos, atrás das orelhas e na parte interna das coxas. Os carrapatos podem ser muito pequenos.

Caso seja percebida a presença de um carrapato fixado na pele, é aconselhável evitar esmagá-lo, uma vez que isso pode resultar na liberação das bactérias. O método correto consiste em removê-lo com o auxílio de uma pinça, torcendo-o suavemente. 

Como o carrapato é sensível ao clima seco e ao sol, mantenha a grama e os arbustos aparados rente ao solo. Remova lixo ou restos de alimentos que possam atrair animais. Os animais domésticos devem ser examinados periodicamente e tratados conforme a indicação do médico veterinário.

Em nota oficial, o Ministério da Saúde destaca que, quando notificado de algum caso suspeito, “presta apoio técnico a estados e municípios no manejo clínico e na investigação dos casos, promovendo a divulgação das informações às secretarias estaduais e municipais de saúde para identificação precoce de eventuais novos casos suspeitos e para promoção do tratamento oportuno a fim de evitar óbitos”.

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