O lugar importa: estudo mostra como os ambientes impactam o desenvolvimento das crianças

Pesquisa da Universidade de Harvard mostra como as condições nos lugares onde as crianças vivem podem afetar o cérebro e sistemas biológicos; o estudo fala também de como os ambientes contribuem para perpetuar o racismo sistêmico

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Menino se equilibra em brinquedo de parquinho em área verde
Espaços verdes seguros podem influenciar positivamente o desenvolvimento infantil
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Uma série de condições nos locais onde as crianças vivem, crescem, brincam e aprendem têm grande impacto sobre o seu desenvolvimento e podem afetar o cérebro e sistemas biológicos como o imune, o metabólico e o respiratório. A afirmação é de um estudo realizado pelo Conselho Científico Nacional sobre o Desenvolvimento da Criança, do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard (EUA).  

Segundo a pesquisa, os lugares onde as pessoas vivem influenciam ao que elas serão expostas, o que, por sua vez, molda a saúde física e mental delas ao longo da vida – positivamente ou negativamente. Em suma, o lugar importa, diz o documento intitulado Place Matters: The Environment We Create Shapes the Foundations of Healthy Development (O lugar importa: O ambiente que criamos molda as bases do desenvolvimento saudável, em tradução livre).

Entre as influências positivas de um lugar sobre a saúde e o desenvolvimento infantil estão o acesso a alimentos nutritivos, ar e água potável, espaço verde seguro, transporte confiável e um ambiente doméstico livre de chumbo e outros metais pesados. 

Entre as influências negativas, o estudo destaca ar e água poluídos, temperaturas extremas, falta de espaços verdes seguros, altas taxas de criminalidade e violência, ruídos do ambiente que chegam a atrapalhar o sono, falta de acesso a alimentos nutritivos e o contato no espaço doméstico com substâncias tóxicas de amianto, chumbo ou fumo passivo.

As influências positivas têm maior probabilidade de apoiar o desenvolvimento saudável, já as negativas aumentam as chances de prevalência de doenças e deficiências. 

Por exemplo, o acesso a espaços verdes seguros – como parques e áreas de recreação – é associado a uma melhor saúde física e mental, menor estresse e menores taxas de obesidade e diabetes tipo 2, entre muitos outros benefícios, relata a investigação.

Abaixo, veja infográfico em espanhol do estudo:

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Impacto dos ambientes no desenvolvimento do cérebro

No relatório, os cientistas afirmam que o cérebro, os sistemas biológicos e o microbioma (ou seja, as bactérias que se desenvolvem no intestino e desempenham um papel importante na saúde e doenças), possuem, cada um, períodos em que são mais sensíveis às influências ambientais. Durante o desenvolvimento pré-natal, por exemplo, são produzidas bilhões de células que se tornam especializadas e adquirem propriedades únicas para diferentes órgãos ou funções. “No sistema imunológico essas células especializadas são implantadas em todo o corpo e desenvolvem moléculas “memórias” que são elementos essenciais da defesa do organismo contra infecções ao longo da infância e adolescência”, aponta o estudo.

Também há evidências de que alguns tipos de poluentes atmosféricos podem ativar a resposta ao estresse do corpo, desencadeando a liberação de hormônios como o cortisol, particularmente no período pré-natal e primeiros anos após o nascimento. E quando a resposta ao estresse é elevada, pode ocorrer a chamada “resposta ao estresse tóxico”, criando irregularidades estruturais no cérebro e efeitos negativos na cognição e na saúde mental, bem como efeitos de desgaste mais amplos em vários sistemas de órgãos ao longo do tempo.

A pesquisa também destaca o papel que as políticas públicas atuais e históricas têm desempenhado, juntamente com o racismo sistêmico, na criação de um cenário onde os níveis de exposição ao risco e acesso à oportunidade não são distribuídos igualmente.

“A qualidade das condições em que as pessoas vivem não são distribuídas uniformemente ou aleatoriamente. Elas são moldadas e profundamente enraizadas nas políticas públicas e história social”, apontam os cientistas de Harvard.

Os efeitos cumulativos do racismo contribuem para uma mistura complexa de aspectos físicos, condições sociais e econômicas e experiências que impõem dificuldades às famílias com crianças e adolescentes. No ambiente natural, o racismo estrutural leva à segregação de comunidades em que as crianças estão expostas a mais calor e substâncias tóxicas (como poluição do ar e resíduos industriais) e têm menos acesso a água potável e espaço verde livre de violência. No ambiente construído, o racismo estrutural afeta o tipo e a qualidade das residências e leva à diminuição do acesso a alimentos nutritivos, saúde de alta qualidade, serviços e cuidados infantis, educação, recursos e oportunidades econômicas, aponta o estudo.

De acordo com a investigação, todas as crianças, independentemente de onde elas crescem, devem ser capazes de viver em um ambiente que apoie sua saúde e desenvolvimento. No caso de ambientes construídos que tenham impacto negativo, os cientistas reforçam a importância de que sejam redesenhados para apoiar o desenvolvimento saudável.

Acesse a pesquisa na íntegra aqui.

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