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TDAH: medicamento e treino parental são eficazes no tratamento de crianças, diz estudo
Uma pesquisa inédita no Brasil avaliou a eficácia e a segurança do tratamento medicamentoso e do treinamento parental em crianças de três a cinco anos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
O estudo clínico denominado Mappa, do IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), apontou que, depois de oito semanas de tratamento, o metilfenidato (que já se mostrou eficaz e seguro no tratamento de crianças e adolescentes com o transtorno) melhorou a funcionalidade, ou seja, o comportamento das crianças, e reduziu a frequência e intensidade de sintomas do TDAH, como desatenção e impulsividade.
O treinamento parental, além de também proporcionar ganho funcional, reduziu a irritabilidade. Segundo a médica e doutoranda Luísa Shiguemi Sugaya, primeira autora do artigo, essa intervenção visa ensinar aos pais técnicas para melhorar o manejo dos comportamentos das crianças, a relação entre eles e aumentar suas competências e autoconfiança.
Os resultados da pesquisa estão descritos em artigo publicado na revista científica Lancet Child Adolescent Health.
“Quando se fala em funcionalidade, isso quer dizer que a TDAH interfere no modo como a criança interage com o ambiente, aprende e se relaciona, em todos os contextos. Por exemplo, brincando numa pracinha, ela não para, não presta atenção, machuca-se”, descreve o professor do Departamento de Psiquiatria da FMUSP Guilherme Polanczyk, autor sênior do estudo. “Na sala de aula, o transtorno afeta o aprendizado, como ela se relaciona com os pares, e também está associado a estresse familiar, que leva os pais a terem comportamentos punitivos”, diz o professor.
A professora de educação infantil Eliane Almeida, cujo neto de 4 anos participou do estudo, disse ter percebido mudanças após o início do tratamento. Segundo Almeida, a criança tinha comportamento agitado, sofria de terror noturno e não parava quieto. “A mudança do meu neto foi surreal, agora ele é uma criança que consegue se concentrar nas atividades da escola e brinca normalmente sem se colocar em perigo”, comentou a avó ao portal Uol.
A pesquisa foi feita com 153 famílias, entre agosto de 2016 e outubro de 2019.
Estudo mostra redução de sintomas de TDAH
Os tratamentos foram comparados com um placebo (substância sem efeito), e, no caso da terapia parental, a orientações dadas aos pais sobre o desenvolvimento infantil, não relacionadas ao TDAH. “O uso de metilfenidato foi eficaz para reduzir a frequência e intensidade dos sintomas, melhorar a funcionalidade da criança e a atenção em testes computadorizados”, aponta Luísa. “Já o treinamento parental, que também obteve melhoria funcional, reduziu sintomas de irritabilidade e melhorou as medidas tomadas pelos pais”.
“Em relação aos efeitos adversos, o uso de metilfenidato provocou mais efeitos colaterais leves, mas sem aumento do risco de efeitos colaterais graves, e sem causar alterações do funcionamento hepático ou cardíaco”, conclui a médica.
Polanczyk ressalta que o treinamento ajudou os pais e mães a lidarem com as manifestações do TDAH da forma mais apropriada. “Por exemplo, quando a criança tem de esperar em uma fila, o que é difícil para quem tem TDAH, os pais vão pensar em atividades para aliviar a espera, ao invés de darem ordens que podem potencializar os comportamentos ligados ao transtorno.”
De acordo com Luísa, os resultados do estudo já podem ser aplicados clinicamente e poderão ajudar o clínico a escolher o melhor tratamento para cada paciente. “Nosso estudo mostra que metilfenidato e treinamento parental são tratamentos seguros para crianças pré-escolares com TDAH, mas que apresentam efeitos distintos sobre o comportamento”. Polanczyk enfatiza que a importância do estudo reside no fato de haver desconhecimento na literatura científica sobre qual é o melhor tratamento para o transtorno nesta faixa etária.
Sobre o TDAH
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por um padrão persistente de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Tais comportamentos prejudicam o desenvolvimento da criança, gerando problemas de relacionamentos com pares, prejuízos na aprendizagem e maior risco de acidentes, explica a médica. Ela diz que atualmente, a prevalência do TDAH em pré-escolares é estimada em aproximadamente 2%. “No Brasil, há um estudo realizado com crianças de seis anos de idade que encontrou uma prevalência de 2,6%”, complementa. (Com informações do Jornal da USP)
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