Embora vivamos em um país em que a maioria da população é negra, a cor da pele, lamentavelmente, ainda faz com que muitas pessoas sejam vítimas de preconceito, racismo e diferentes tipos de violência no país.
Nesse contexto, é importante celebrar e gerar reflexões em torno de datas como o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, em que teria morrido Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da libertação do povo negro contra o sistema escravista.
Contudo, debates sobre o racismo e a potência da cultura afro-brasileira devem fazer parte do cotidiano, de modo a criar uma realidade mais justa e igualitária para todos. Trabalhar a temática desde a infância e ao longo de todo o ano é fundamental para combater a desigualdade racial no país e uma das maneiras de fazer isso é por meio dos livros.
A seguir, veja por que é importante falar sobre representatividade negra com as crianças. Veja também indicações de obras da literatura infantil, com sinopses, feitas pelo Clube Quindim, que buscam representar a diversidade cultural brasileira tanto na temática, quanto na autoria.
Por que é importante abordar a representatividade negra com as crianças
1. Amplia o número e o tipo de narrativas presentes na literatura.
2. Dissemina a ideia de respeito a todos os tipos de pessoas.
3. Fortalece a autoestima das crianças negras.
4. Consolida a sensação de pertencimento a uma cultura variada, que se originou na mistura de diferentes povos.
5. Amplia a consciência das próximas gerações sobre os problemas do país e a ideia de que ele foi construído sobre uma base de escravização de pessoas e a não integração dessas pessoas depois que foram libertas, provocando heranças sociais que perduram até hoje.
10 livros sobre identidade negra escritos por autoras e autores negros
Amoras
Esta é uma obra cheia de sons e com uma intertextualidade que reverbera em nossa mente. Uma obra de tema atual, de representatividade negra, de diversidade, de orgulho, de autoestima. Livros que tematizem e problematizem as relações étnico-raciais são extremamente necessárias para desfazer ideias enraizadas, como aquelas que trazem os personagens negros em papéis de submissão e/ou retratando o período escravista. É fundamental que crianças e jovens não convivam somente com uma representação eurocêntrica de personagens, para isso, nada melhor do que o texto do rapper Emicida, que transporta todo o talento e sensibilidade com que compõe suas músicas para este livro encantador que nos faz lembrar do olhar infantil sobre o mundo que um dia já tivemos. a ideia de que ele foi construído sobre uma base de escravização de pessoas e a não integração dessas pessoas depois que foram libertas, provocando heranças sociais que perduram até hoje.
Escritor: Emicida Ilustrações: Aldo Fabrini Editora: Cia. das Letrinhas
Cadê?
Onde foi parar esse menino? Num safári? No Polo Norte? Nas ilustrações da premiada Graça Lima, vamos nos perder no olhar lúdico da criança, que transforma um lugar ou objeto em muitos outros. O livro Cadê? traz uma deliciosa brincadeira para crianças e adultos. Ao mesmo tempo, tem o potencial de desenvolver em nós, leitores, o autoconhecimento e a empatia. Essa obra também traz em seus personagens mais da representatividade que precisamos na nossa literatura.
Escritora: Graça Lima Editora: Nova Fronteira
O menino que comia lagartos
Você conhece alguém mais rápido que o vento, que conversa com crocodilos e come lagartos? Não? Então, você não conhece o Tikorô, esse menino mora ali do lado, na África. Nesta obra, existe a metáfora do lagarto que perde sua cor e, com muita beleza e sensibilidade, ela é usada para discutir a importância de preservarmos nossa cultura. Conversar com as crianças sobre seus antepassados, sobre as histórias familiares, ajuda na construção da própria identidade e autoestima, além disso, a diversidade de histórias contribui na compreensão e no respeito sobre diferentes culturas.
Autor: Mercê Lópes Editora: Edições SM
Caderno de rimas do João
Todo mundo tem seu caderno de anotações. O que será que encontramos no caderno de rimas de João? Um olhar poético com temas da infância, com palavras que ele vai descobrindo, com relações que estabelece com outras crianças e com o adulto. Lázaro Ramos entrega, já nas páginas deste livro, algumas memórias do seu universo infantil e outras tantas das observações do seu filho. Além disso, na obra, também encontramos alguns diálogos sobre amizade, leitura, amor e autoestima… e outros com temas bastante complicados, como perda, arte, política e diversidade cultural e étnica.
Escritores: Lázaro Ramos Ilustrações: Maurício Negro Editora: Pallas
Quando me descobri negra
“Tenho 30 anos, mas sou negra há 10. Antes, era morena”. É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais ou ouvidas no círculo de mulheres negras que organizou. Com uma escrita ágil e visceral, a obra denuncia com lucidez – e sem as armadilhas do discurso do ódio – nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas. O livro também traz uma série de situações de racismo que parecem sutis para quem não as vivencia, dando margem a uma interpretação ambígua. Mas, para quem as vive, são situações dolorosas. Certamente, falar sobre a consciência negra nos ajuda a compreender e nomear o que é racismo, tanto para quem o experimenta quanto para quem o observa ou o comete.
Escritora: Bianca Santana Ilustrador: Mateu Velasco Editora: SESI-SP
Ombela
Por que chove? Como isso acontece? De onde vem a água doce dos rios, lagos, lagoas e a água salgada do mar? Este lindo conto africano apresenta a mágica história de Ombela e seus sentimentos. O escritor Ondjaki buscou nesta lenda africana uma linda maneira de apresentar os diversos sentimentos que cabem em uma pessoa e, sobretudo, o que eles podem representar. Outro ponto interessante é que, independente dos nossos sentimentos, eles nos ensinam a perceber o nosso lugar e o quanto podemos contribuir para o universo.
Escritor: Ondjaki Ilustradora: Ombela Editora: Pallas
Pelo Rio
Neste livro, fazemos uma viagem pelo rio, onde todos buscam o próprio ritmo para navegar. E não é assim na vida? O tema deste livro não é a diversidade, mas justamente por isso é interessante que ele tenha personagens com diferentes características, diferentes cores de pele. Não precisamos apresentar personagens de diferentes etnias apenas quando estivermos falando dessa pluralidade. Afinal, vivemos em um país diversificado, e representar essa diversidade na literatura infantil é um passo na direção de uma sociedade cada vez mais igualitária.
Escritora: Vanina Starkoff Editora: Pallas
Uma escuridão bonita
Este livro mergulha no olhar livre dos jovens e no seu fascínio pelas novas descobertas, pelos sentimentos que começam a brotar dentro de si. Acompanhamos uma noite de conversas entre dois pré-adolescentes que, no meio de um apagão, assistem os carros passarem enquanto se divertem com a simplicidade dos momentos juntos. Esse livro é mais um dos casos que não aborda o tema da diversidade em seu texto, mas ela ainda está presente através de seu autor. Ondjaki é um escritor angolano que traz uma representatividade importante para a obra, pois não precisamos apenas ver a diversidade representada no texto, também precisamos vê-la entre os autores que lemos, os ilustradores que acompanhamos, e qualquer outro ramo com que tenhamos contato.
Escritor: Ondjaki Ilustrador: António Jorge Gonçalves Editora: Pallas
Pra que serve um dedo?
O último livro da nossa lista de livros para você contemplar mesmo fora do dia da consciência negra, é Pra que serve um dedo?, de Paula Taitelbaum. Afinal, você sabe quais são as funções de um dedo? Pois, este livro brinca com elas ao apresentar os mais diferentes modos de utilizar… um dedo. Além disso, ao trazer essas respostas, faz um passeio por situações cotidianas de toda criança. Quando ler a sinopse dessa obra, o leitor pode não se dar conta da representatividade que ela carrega. Isso ocorre porque, mesmo sem abordar o tema explicitamente, as ilustrações de Julie Rambaud transbordam diversidade, afinal, ela deve estar presente mesmo que esse não seja o tema principal da trama.
Escritora: Paula Taitelbaum Ilustrador: Julie Rambaud Editora: Piu
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