A volta às aulas presenciais, após longo período de isolamento imposto pela pandemia, trouxe à tona problemas como a fobia social, crises de ansiedade, indisciplina e até mais agressividade entre os alunos. Agora, as escolas se mobilizam para ajudar na readaptação das crianças e amparar as famílias nessa etapa. Poder reencontrar os amigos e manter uma relação de amizade, em uma troca constante com eles, na escola, tem ajudado muito as crianças, inclusive, para amenizar questões relacionadas ao medo e à incerteza quanto ao futuro.
Diversos estudos comprovam que desenvolver amizades durante a infância serve de estímulo para as crianças. Elas passam a ser mais sociáveis, altruístas, ganham mais autonomia e aprendem desde cedo a dividir. Além de lidar com as próprias emoções, é o que aponta Mônica Santoro, coordenadora do Colégio Domus, de São Paulo.
Ela diz que ter amigos ajuda no desenvolvimento das habilidades socioemocionais, e a escola é uma das principais instituições onde as crianças têm a oportunidade de se relacionarem. “Dentro do espaço escolar, a criança passa a conhecer outras perspectivas de vida, outras culturas e gostos diferentes dos que está acostumada em ambiente familiar, e isso faz com que ela desenvolva novas habilidades e competências importantes para a sua formação social”, relata a coordenadora.
A profissional lembra que, na escola, acontecem conflitos, divergências, mas também trabalho em equipe e união, pontos fundamentais para o aprendizado. “Não somente o acadêmico, mas também o das relações ligadas à inteligência emocional (intrapessoal e interpessoal). A amizade entre as crianças na escola proporciona o desenvolvimento das habilidades sociais, pois elas aprendem a dividir seus brinquedos, materiais, o espaço que frequentam e a respeitar as diferenças, fazendo concessões e tendo empatia pelos colegas. Isso ajuda muito na união do grupo, diminuindo consideravelmente ações negativas, como o bullying.”
Paula Joia, psicopedagoga do Colégio Centro de Estudos, em Campos dos Goytacazes (RJ), destaca que os conceitos das relações saudáveis no ambiente escolar têm como objetivo conduzir os alunos a compreenderem que é por meio das relações humanas (sociais) e das características individuais que cada um traz consigo – as quais compõem sua pluralidade sociocultural -, que é possível ensinar e aprender o tempo todo.
A amizade na escola como ferramenta pedagógica
“Talvez algumas pessoas ignorem, mas a amizade formada dentro do ambiente escolar, entre os alunos e também com os profissionais que ali trabalham, se torna uma importante ferramenta pedagógica, facilitando a aprendizagem pelas vias do afeto, da convivência e da cooperação, que são fatores primordiais para que haja saúde social”, avalia Volmar Souza, diretor geral do Colégio Marília Mattoso, em Niterói (RJ), que diz ainda que as amizades saudáveis evitam egoísmos, hostilidades e conflitos.
Para Maria Inês Santos Raposo, coordenadora pedagógica do Colégio Novo Tempo, em Santos, no litoral paulista, as amizades favorecem melhores comportamentos e avanços pedagógicos durante a vida escolar. Ela também destaca o papel da escola como rede de apoio: “Além de referência cognitiva, a escola se torna referência social e afetiva, funciona como um porto de segurança para as questões socioemocionais dos alunos.”
Por fim, Carolina Gargiulo, orientadora educacional do Colégio Leonardo Da Vinci, em Alphaville (SP), ressalta a importância do equilíbrio para que a amizade na escola não ultrapasse o limite e atrapalhem o ensino em sala de aula.
“É importante que as crianças saibam o momento de estar junto e de socializar, com o momento de não poder conversar e estar em silêncio. Isso pode ser bem difícil para os alunos, que querem falar o tempo todo e querem que o amigo participe. O espaço escolar é um dos lugares onde eles fazem amizade e aprendem o momento certo de interagir, calar ou socializar”.
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