Na vida é tão bom ter amigos: Pais se aproximam por conta da amizade dos filhos

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Por Sabrina Abreu

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Foto: Willians Moraes

Na agenda de telefone do casal Guillermo Tângari e Cristina Diniz de Oliveira Tângari, o modo de gravar o nome dos amigos é um pouco diferente do convencional. O economista Luiz Fernando Pinto de Carvalho virou o “pai da Mari”. E a professora Tânia Ferrori ficou conhecida como “mãe do Marcelinho”, enquanto o executivo de vendas Nagel Ruy Hainzenreder é o “pai da Yasmin”. Todos eles moram num mesmo condomínio na Vila Andrade, Zona Sul de São Paulo. Mas engana-se quem pensa que eles se aproximaram por causa do endereço comum. “Vivemos no mesmo local há 14 anos e foi só depois da chegada da Yasmin que fizemos amizade. Até então, éramos isolados no prédio”, conta Nagel, casado com a dona de casa Kelly Lourenço Cardoso.

Mineiros radicados em São Paulo há dez anos, o publicitário Guillermo e a pedagoga Cristina são pais de Nina, 9 anos, e Maitê, 5 anos. Entre o parquinho e a piscina, as duas ficaram muito ligadas à vizinha Mariana, de 7 anos. Não demorou até que o casal se tornasse próximo dos pais da amiga das filhas: Luiz Fernando e a advogada Patrícia Souza Persici Carvalho. A turma formada por eles conta com mais de 20 casais, incluindo a professora Tânia Ferroni e Mário Ferroni, analista de sistemas, pais de Marco, 19, Mário, 21, e Marcelo, de 8. Eles são unânimes em dizer que foram unidos pelos pequenos.

Com os dois primeiros filhos já grandes, Tânia se viu um peixe fora d’água na terceira gravidez. “As conhecidas que compartilharam comigo assuntos sobre a maternidade das outras vezes já não estavam tão interessadas nesse universo”, conta. Foi no condomínio que ela conheceu mães de crianças com idade parecida com a do caçula, com quem pôde trocar impressões sobre a terceira gestação: “Aqui fazemos tudo junto”. E Marcelinho completa a frase: “É por isso que eu amo a minha vida”.

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Foto: Viviane Saraiva

A interação com pais e mães, que começou enquanto as crianças brincavam no playground, deu origem a uma turma tão sólida que fica até difícil convidar alguém além dos vizinhos nas festinhas de aniversário. “A solução é levar um bolo para o colégio e, no condomínio, fazer uma festa só com as famílias daqui, que são quase 60. Ninguém acredita quando conto”, diverte-se ela.

Ao menos uma vez ao mês, a turma se reúne para um churrasco. “Também surgiu, desse grupo, companhia para quem quer jogar futebol ou tênis dentro do próprio condomínio”, explica Nagel. Eles ainda aproveitam para curtir juntos a ampla programação cultural de São Paulo. Com e sem as crianças. Entre os programas feitos sem os pequenos, Cristina Tângari lembra do show da cantora Baby do Brasil e do musical Cantando na Chuva, que as mães viram no ano passado.

Para a psicóloga Rosangela Corrêa, a convivência com amigos é importante para o indivíduo se ver além do papel de mãe e de pai, assim como é ideal que o casal preserve a intimidade, mantendo momentos só para os dois, sem incluir a criança. “Essa intimidade não é só a do sexo, mas principalmente aquela que parte da conversa entre adultos, o marido, a mulher, seus amigos”. Quando os pais dos amigos de sua filha viraram seus amigos, Luiz Fernando viu a oportunidade de falar sobre o desenvolvimento infantil, mas também de extrapolar esse tema: “Costumo brincar que, nas festinhas de crianças, é preciso ter duas coisas: diversão para elas e cerveja para a gente. Assim podemos sentar e conversar sobre política, economia, futebol e até fazer networking”.

Esforço em prol da amizade

O casal de médicos cariocas Thais Jordão e Rafael Spínola são pais de Maria Valentina, de 10 anos, e Maria Guilhermina, de 5, e deram início a uma nova turma de amigos na porta da creche. “Acho que esse tipo de relação surge entre pais de crianças na primeira infância. Depois que minha filha cresceu e mudou de escola, não experimentei nada parecido”, diz Thais, referindo-se à primogênita. “Os pais dos amiguinhos das minhas filhas se tornaram meus amigos mais chegados”, conta. Uma quarta-feira por mês, Thais abre as portas da sua casa em Copacabana para receber as mulheres do grupo. “Nesse encontro, os pais ficam com as crianças. Cada convidada costuma levar um espumante, conversamos, rimos, cantamos no karaokê”. Os homens do grupo também têm sua vez: mensalmente, se reúnem para uma noite de chope, sem as mulheres nem as crianças.

A engenheira Viviane Saraiva é presença certa nos encontros de quarta-feira. Ela é mãe dos gêmeos Pedro Três mosqueteiros: Maria Valentina e os gêmeos Pedro e Lucas se tornaram inseparáveis, assim como suas mães e Lucas, 10 anos, dois dos melhores amigos de Maria Valentina. A relação do trio serviu para estimular a intimidade entre as mães, Thais e Viviane, numa relação que as duas apostam que vai durar para sempre. “No começo, 100% das nossas conversas eram sobre as crianças. Hoje, quase 100% são sobre a gente, com brincadeiras e assuntos de mulher”, conta a engenheira.A amizade é importante em todas as fases da vida, desde a infância. É relacionando-se com os amigos do prédio ou da escola que uma criança aprende a respeitaro outro ou a dividir o brinquedo. “A convivência social estimula o desenvolvimento infantil”, afirma a psicóloga Rosangela Corrêa. Como os pequenos não têm autono-
mia para se deslocarem pela cidade e visitar os amigos, ela aponta como desejável o comportamento dos pais que estimulam esses encontros.

É o caso das belo-horizontinas Michele Grugel, mãe de Victor Hugo, de 6 anos, e de Fabíola Funghi, mãe de Isabela, de 5 anos, e de Eduardo, de 3. Colegas na creche, Victor Hugo e Isabela se tornaram inseparáveis na hora do recreio e sempre falavam um do outro quando chegavam em casa. Diante de uma amizade forte assim, as duas mães fizeram questão de estimular o relacionamento. Há três anos, as crianças não estudam mais juntas, porém os encontros continuam garantidos pelas mães, que também viraram amigas. “Enquanto os meninos brincam na praça ou comem um espetinho, a gente acaba falando um pouco da gente também”, conta a professora Fabíola, casada com o engenheiro Antônio Augusto Guimarães Vieira. “De vez em quando, um visita a casa do outro. É bom receber a amiguinha do meu filho e é bom saber que ele está em segurança na casa de uma família que conheço”, avalia a corretora Michele.

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Foto: Carlos Hauck

Quando a amizade dos filhos se estende aos pais, também há a vantagem de os pontos de apoio se multiplicarem. “Em cidades grandes, os pais têm dificuldade de deixar seus filhos brincarem com outras crianças por se sentirem inseguros. Mas, se duas mães se conhecem bem, fica mais fácil permitir esse tipo de interação tão importante”, conclui a psicóloga Rosangela Corrêa.

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