Mais da metade (64%) dos pais brasileiros estão preocupados com que os filhos pratiquem o cyberbullying com outras pessoas, indica um estudo global sobre o tema, divulgado nesta quarta-feira (10), que entrevistou 11.687 pais e filhos em dez países, incluindo o Brasil. O índice é maior no Brasil do que a média (58%) de todos os países participantes do relatório.
“Hidden in Plain Sight: More Dangers of Cyberbullying Emerge” (“Escondido mesmo à vista: mais perigos do cyberbullying surgem”) é o nome da pesquisa realizada pela McAfee Corp, empresa de proteção online, que teve como objetivo analisar o cenário em evolução do bullying em ambientes virtuais, bem como os riscos a que as crianças estão expostas e como os pais gerenciam essas experiências. O bullying consiste na prática de comportamentos repetidos, com intuito de assustar, enfurecer ou envergonhar aqueles que são vítimas.
Segundo o estudo, 22% das crianças e dos adolescentes brasileiros afirmaram já ter praticado cyberbullying com alguém conhecido – índice semelhante à média de jovens por todo o mundo que é de 21%.
Os pais brasileiros (84%) também disseram estar preocupados com que os filhos sejam vítimas de cyberbullying. E essa preocupação não é à toa. Dados do estudo mostram que 6 a cada 10 (67%) crianças e adolescentes brasileiros já sofreram discriminação de alguém que conhecem, e 5 a cada 10 (51%) foram vítimas da prática por estranhos.
“Embora mais da metade dos pais estejam conversando com seus filhos sobre diferentes formas de cyberbullying, ainda há muito mais que precisa ser feito para entender a crescente ameaça de segurança on-line para as crianças”, destaca Paula Xavier, Head de Comunicação e MKT para a McAfee na América Latina.
Quase 9 a cada 10 famílias brasileiras (89%) disseram que usam a conversa para ajudar seus filhos a lidar com o cyberbullying, em comparação com uma média internacional de 64%, e buscam se informar sobre o tema e monitorar os dispositivos dos filhos. Porém, 32% das crianças brasileiras se mostraram mais propensas a esconder o cyberbullying (seja como vítima ou agressor) de seus pais (contra 35% na média global), preferindo abordar o tema com os amigos (76%).
As práticas de cyberbullying mais comuns citadas pelos jovens no estudo são:
- Flaming (ofensas e ataques pessoais)
- Outing (falar da orientação sexual de alguém sem consentimento prévio)
- Trolling (incentivar o conflito por meio de mensagens antagônicas)
- Doxxing (publicar informações confidenciais sem o consentimento de alguém)
- Apelidos
- Informações falsas
- Imagens ou mensagens explícitas
- Perseguição virtual, ameaças
- Exclusão em grupos
O estudo também destaca as áreas mais exploradas em atos de cyberbullying:
- Comentários sobre a aparência;
- Comentários sobre a inteligência;
- Bullying/ostracismo em grupo;
- Comentários sobre sua raça ou identidade cultural;
- Comentários sobre gênero;
- Comentários sobre as mudanças corporais/puberdade;
- Comentários sobre comportamento;
- Comentários sobre roupas ou acessórios;
- Comentários sobre estilo de vida;
- Comentários sobre amigos ou outras pessoas importantes.
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Cyberbullying no Brasil é mais comum no WhatsApp e Facebook
Entre as principais plataformas de mídia social, é no Facebook e no WhatsApp que crianças e adolescentes brasileiros sofrem cyberbullying com maior frequência, segundo mostra relatório global. Um total de 46% das crianças e adolescentes de 10 a 18 anos disseram sofrer diferentes formas de discriminação no Facebook, e 45%, no WhatsApp. Mas a lista também inclui o Instagram (33%), Facebook Messenger (18%) e Tik Tok (17%). Entre a faixa etária específica de meninas e meninos brasileiros de 10 a 14 anos, o WhatsApp lidera o ranking de cyberbullying no país. A plataforma também é a única em que os números do Brasil ultrapassam os da média geral de todos os países participantes do estudo, conforme dados abaixo.
Taxas de cyberbullying nas quatro principais mídias sociais
- WhatsApp – 45% no Brasil, 38% no mundo
- Facebook – 46% no Brasil, 49% no mundo.
- Instagram – 33% no Brasil, 36% no mundo
- Facebook Messenger – 18% no Brasil, 28% no mundo.
“O Brasil se destaca mundialmente como o país de maior uso do Whatsapp, portanto é esperado que a plataforma mais popular de comunicação se torne também popular em ataques e atos criminosos. Acreditamos que a faixa etária mais afetada seja a de crianças que entram na tecnologia, via uso do Whatsapp, muitas vezes por incentivo dos pais, que fazem uso da ferramenta para monitorarem e se comunicarem com seus filhos”, afirma Xavier.
Dados do estudo também mostraram que 92% das crianças e adolescentes brasileiros entrevistados estão presentes no WhatsApp, assim como no Youtube (80%), Instagram (79%), Tik Tok (77%) e Facebook (71%). No geral, a maioria passa mais de três horas por dia nessas plataformas.
A porta-voz do estudo diz que embora o Facebook seja visto hoje como uma plataforma utilizada principalmente por adultos, é comum os pais criarem contas nessa rede social para os próprios filhos, pensando que, ao estar mais próximos, poderão monitorar e controlar melhor as atividades online das crianças.
Segundo Xavier, tanto o WhatsApp quanto o Messenger do Facebook “dão margem para mensagens privadas, o que facilita o envio de memes, xingamentos, em grupos ou individualmente”, visto que os agressores se sentem mais à vontade nessas mídias.
O que os pais podem fazer para evitar o cyberbullying
Para Xavier, os pais precisam se informar sobre os tipos de bullying existentes para que possam falar com propriedade sobre o assunto e deixar clara a mensagem de que fazer uma piada às custas de outra pessoa ou xingar virtualmente são tipos de bullying. “É importante ressaltar que 1/3 das crianças esperam que seus pais a protejam contra cyberbullying, portanto conhecer do tema é essencial”, diz ela.
Criar um ambiente de diálogo onde as crianças se sintam à vontade para falar sobre as situações que enfrentam e participam nos seus meios sociais também é necessário, de acordo com a especialista.
Pais também têm de ficar atentos não somente aos filhos serem vítimas, mas quando são os agentes de ataque. “Conseguir identificar essas atitudes hostis, mesmo que justificáveis na mentalidade do jovem, é indispensável para gerar consciência dos atos ofensivos a tempo de evitar danos insuperáveis”, conclui ela.
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