“O burnout materno é o esgotamento da mãe, aquela sensação de estar por um fio, de cansaço extremo. Ele tem a ver com todas as funções que uma mulher é pressionada a ter: quando adentra ao mercado de trabalho, quando é mãe, quando precisa cuidar da casa. Tudo isso, sem uma divisão de tarefas justa, faz com que ela seja sobrecarregada de maneira muito prejudicial”, afirma Filipe Colombini, psicólogo e diretor da equipe AT. Para ele, há uma falta de suporte social que precisa ser observada. “Culturalmente, a mulher é considerada uma leoa, que precisa cuidar de tudo, proteger tudo e sem poder mostrar vulnerabilidades. Na realidade, não pode ser assim, as mães precisam ser observadas, amparadas”, enfatiza o psicólogo.
Alguns dos sinais de burnout materno envolvem irritação, cansaço, tristeza, afastamento, isolamento, baixa autoestima, não cumprimento de tarefas diárias, sejam elas simples ou complexas, despersonalização e desmotivação. Diferentemente da depressão, o burnout é o limite físico e emocional atingido no seu máximo grau, quando há a sensação de que todos os limites foram extrapolados. Para se referir à condição também em pais é usado o termo burnout parental. Esse comportamento não afeta somente a mãe, mas também a criança, já que o tipo de relação estabelecido desde o nascimento dita o desenvolvimento cognitivo desse bebê.
Viver essa realidade é muito difícil para as mães. Além dos efeitos do burnout na saúde da mulher, os estudos apontam para maior índice de divórcio, violência contra a criança e problemas no trabalho”, relata a pediatra Mariele Rios, em post no Instagram. Ela ressalta que cuidar desse problema é complexo e depende muito da estrutura de cada família, o que passa por dividir a carga com parceiro e sociedade. “Se existisse solução fácil, encapsulava e mandava grátis pelos correios”, brinca Mariele. Mas ela lembra que o burnout tem cura e elaborou uma lista de ações para ajudar as mulheres que se identificam com os sintomas dessa condição.
Se você está com sintomas do burnout materno:
- Procure apoio psicológico. Agende terapia para ontem com mulheres e mães que entendam do assunto.
- Se possível, procure um psiquiatra e dialogue. Algumas mulheres precisam ser medicadas.
- Se houver intenções suicidas, ligue agora de forma gratuita para 188, que é o Centro de Valorização da Vida (CVV).
- Procure grupos de mães e saia de casa. Se não for possível ser sem a criança, leve-a.
- Caso não tenha rede de apoio, procure uma escolinha para seu filho. Mães doentes não conseguem cuidar.
- Tente lidar com suas questões com foco no problema e não nas sensações. É diferente : “estou cansada e preciso descansar”, de “preciso de tempo e vou deixar o bebê com a avó 2h para ler um livro”.
- Olhe para o seu relacionamento conjugal e inicie um diálogo. Um estudo em 2017 mostrou incrivelmente que mães que são “casadas” sofrem mais de burnout, inclusive por opressão de homens que acham que fazem demais ou que não aceitam a parceira estar no limite.
- Avise para as pessoas que está em colapso e que precisa de ajuda. E aceite ajuda.
- Se valorize. Se imponha.
- Desapegue do controle. Os estudos mostram que o padrão controlador é um ponto central desta questão. Achamos que só nós podemos fazer e isso se torna cômodo pro entorno. É libertador delegar, dar uns perdidos e deixar os outros passarem aperto.
Tratamento e rede de apoio
O diagnóstico do burnout deve ser realizado por um profissional de saúde mental, seja ele psicólogo ou psiquiatra, e as formas de tratamento envolvem medicação e psicoterapia, segundo Colombini. Ele relata que com o acompanhamento psicológico mais indicado para cada caso, o profissional é capaz de identificar os sintomas e auxiliar o paciente a transformar o pensamento e o comportamento perante as situações que possam engatilhar uma crise de burnout.
De acordo com especialistas, poder contar com uma rede de apoio é um dos principais fatores para auxiliar a mulher com burnout e fazer com que possa externalizar a necessidade de ajuda. Porém, além da divisão de tarefas em casa, a mãe precisa de pessoas que a ouçam, que a deixem confortável para que explique como se sente. “O acolhimento, momentos de lazer e momentos em que ela pode se sentir no controle são importantíssimos, tanto durante a gravidez quanto com a criança já nascida”, conclui o psicólogo.
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