O Ministério da Saúde recuou e deu sinal verde para que a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos contra o coronavírus tenha continuidade, mesmo os sem comorbidades. A decisão foi anunciada quarta-feira (22), em nota. A imunização da faixa etária foi retomada uma semana após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticar a campanha antecipada dos Estados, alegando que existem “eventos adversos a serem investigados”. No entanto, a pasta informou que os benefícios da vacina são muito maiores do que as possíveis reações adversas e que a vacinação deve continuar.
O anúncio ocorreu depois de um Comitê formado por representantes do Ministério, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmar que a morte de uma jovem de 16 anos de São Bernardo do Campo, ABC Paulista, não está relacionada com a vacinação contra o coronavírus.
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Esse vai-não-vai da vacinação de adolescentes gerou uma grande confusão para toda a população, principalmente para os pais que podem ficar receosos em imunizar os filhos adolescentes contra o coronavírus após a declaração do ministro, que não demonstrou evidências científicas que sustentassem sua visão.
Para ajudar a compreender a atual situação da vacinação dos jovens no Brasil, a Canguru News preparou um tira-dúvidas para os pais. Confira!
- A vacina da Pfizer foi autorizada pela Anvisa?
Sim. A vacina da Pfizer foi o primeiro imunizante contra a Covid-19 a obter registro definitivo no Brasil, em fevereiro deste ano. A Anvisa autorizou o imunizante para jovens maiores de 12 anos em junho.
- Quais vacinas crianças e adolescentes podem tomar?
A vacina da Pfizer é a única aprovada pela Anvisa no Brasil para uso em todo e qualquer adolescente entre 12 e 17 anos.
Estudos para aplicação da Coronavac em menores de 18 anos estão em andamento. A vacina já está sendo aplicada em crianças a partir de 3 anos na China e foi aprovada no Chile para uso a partir dos 6 anos de idade. No Brasil, está liberado apenas o uso da Pfizer para adolescentes, por enquanto. - A vacina é segura para faixas etárias abaixo de 18 anos?
Sim. Órgãos regulatórios nacionais e internacionais, como a Anvisa e o FDA (Food and Drug Administration), aprovaram a vacina da Pfizer para imunização de adolescentes, com base em rigorosos ensaios clínicos que comprovaram sua eficácia e segurança em jovens saudáveis ou com doenças preexistentes estáveis.
- Quais efeitos colaterais apareceram em crianças?
De acordo com o Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, os efeitos colaterais mais comuns das vacinas contra o coronavírus são dores locais e reações sistêmicas leves, como qualquer outra vacina. Segundo o relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, 90% dos efeitos colaterais da vacina da Pfizer em adolescentes não são graves. Dor no peito e miocardite – inflamação no músculo cardíaco – também foram identificados como efeitos adversos do imunizante, porém, em raras ocasiões. No Brasil, 1,5 mil jovens vacinados tiveram algumas reações adversas, o que representa apenas 0,043% do total de 3,5 milhões de vacinados até agora. E a maioria dos casos – 93% – tem a ver com jovens que por algum engano tomaram outras vacinas que não a da Pfizer.
- Por que o Ministério da Saúde recuou na vacinação de adolescentes?
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que uma série de motivos pesaram para que a pasta resolvesse revisar a recomendação dada por eles anteriormente e suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades, mas não citou dados ou estatísticas científicas. Entre os motivos alegados por ele estavam efeitos adversos da vacina. Porém, conforme mostram os números, eles são de grau leve e baixa incidência.
- Há casos de óbito relacionados à vacinação?
Não. Foi descartada a suspeita da adolescente de 16 anos de São Bernardo do Campo, em São Paulo, que morreu depois de ter tomado a vacina. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou que o óbito da garota foi provocado por doença autoimune e não tinha relação com a vacina da Pfizer.
- Os pais devem vacinar os adolescentes e crianças?
Sim. A vacina é um dos principais fatores que contribuiu para a queda no número de casos (60%) e de mortes (58%) nos últimos 60 dias. Imunizar os adolescentes pode ajudar a reduzir ainda mais esses índices. Além disso, é preciso que as crianças e adolescentes sejam vacinadas para que o Brasil alcance de 70% a 85% da população imunizada, quantidade necessária para que o vírus pare de circular sem controle.
- Os riscos da Covid-19 em crianças são maiores do que os riscos da vacina?
Sim. Embora a doença se apresente de forma menos grave em crianças do que em adultos, crescem os casos de morte por coronavírus no público infantil. Entre as causas naturais, por doenças, sem contar acidentes ou violência, a Covid-19 é a principal causa de morte entre 10 a 19 anos, ultrapassando o câncer, por exemplo. Após recuar, o Ministério da Saúde reforçou a importância das vacinas. “Os benefícios da vacinação são maiores do que os eventuais riscos dos eventos adversos da sua aplicação”, divulgou a pasta.
- Há casos graves de crianças contaminadas com coronavírus?
Sim. Desde o começo da pandemia, no Brasil, a Covid-19 já matou 2.500 jovens entre 10 e 19 anos. Somente em 2021, foram mais de 1.500 vítimas nesta faixa etária. Mas crianças mais novas também foram extremamente afetadas. Segundo a Fiocruz, quase metade das 1.207 mortes ocorridas entre brasileiros menores de 18 anos em 2020 aconteceram entre crianças menores de 2 anos.
- O que é a Síndrome Pós Covid em crianças?
A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) ou Síndrome Pós-Covid é uma espécie de reação grave e tardia à infecção pelo coronavírus. Pode apresentar sintomas como febre, dor abdominal, inchaço nas articulações e inflamação no pulmão e nos rins. Até fevereiro de 2021, o Brasil teve 736 casos e 46 óbitos de crianças e adolescentes pela síndrome associada à Covid-19.
Fontes: Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 da Associação Médica Brasileira, jornal O Estado de S. Paulo, Ministério da Saúde, Salmo Raskin/O Globo, G1, Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Fundação Oswaldo Cruz.
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