O interesse pela educação parental, que proporciona ferramentas e informações para desenvolver as relações e laços entre pais e filhos, melhorando o bem-estar de toda a família e especialmente das crianças, é majoritariamente feminino, especialmente no Brasil, onde o tema ainda é novidade para muitos. Porém, cada vez mais é possível enxergar pais que entendem a paternidade como um processo que exige conhecimento, participação e dedicação. Eles são os defensores da paternidade ativa e muitos deles atuam como educadores parentais. Esses homens reconhecem que estão em processo constante de aprendizagem em relação à criação dos filhos, tendo se tornando referências neste universo ainda novo para muitos pais na nova geração.
Autor do best seller O papai é pop, Marcos Piangers já fez palestras para os maiores eventos e empresas do mundo e é um grande incentivador da parentalidade presente. Ele é pai da Anita e da Aurora, que dão sentido ao que ele faz, conta à Canguru News. O seu aprendizado sobre paternidade o fez compreender que uma das maiores lições que os filhos podem dar aos pais é a simplicidade.
“As crianças podem ensinar muito sobre simplicidade. Muitos pais acham que para agradar aos filhos eles precisam dar presentes e brinquedos da moda, mas aos poucos vamos percebendo que as crianças se satisfazem com a nossa presença, a beleza de brincadeiras inventadas, jogos e brincadeiras em família. O mais especial é a presença física e atenta dos pais. As minhas filhas também me ensinaram muito sobre a sensibilidade, o respeito pelas mulheres e a importância de cuidar sobre as questões ligadas à igualdade de gênero, a paciência, a alegria da conexão consigo mesmo, o encanto com a vida e a gratidão”.
“É preciso mostrar um caminho aos homens que só se enxergam como pagadores de boletos”
O escritor e palestrante enfatiza que para conscientizar os pais a serem mais presentes e participarem ativamente da educação dos filhos é preciso analisar políticas públicas e institucionais que incentivem os homens a ter mais tempo para cuidar dos filhos. “É preciso também aproximar pais e mães de um estilo de vida mais saudável através da comunicação e da inspiração. É preciso mostrar que existe um caminho diferente, principalmente para os homens que só se enxergam como provedores e pagadores de boleto. Eles podem ser muito mais do que isso, cuidando dos filhos, participando da educação deles e tirando das mulheres esse fardo tão pesado. É preciso comunicação, inspiração e políticas públicas e institucionais para que tenhamos famílias melhor estruturadas e homens incentivados a ser participativos. Assim as crianças receberão mais carinho e afeto. Isso trará benefícios para o futuro de todos”, conclui Piangers.
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“Quando buscam informações, muitas vezes, os pais se sentem sozinhos”
Maurício Maruo é educador parental, idealizador da ferramenta Paternidade Criativa e novo colunista da Canguru News. O despertar para a necessidade da educação parental surgiu quando Maurício descobriu que seria pai da Jasmin, hoje com 5 anos. Ele começou a buscar informações sobre criação de filhos na internet e percebeu que havia pouca coisa voltada para a paternidade. Foi aí que sentiu a necessidade de atuar como educador parental. “Hoje eu vejo uma mudança de comportamento que não existia na época dos meus pais e avós. Os pais estão preocupados em oferecer uma educação para os seus filhos diferente daquela que receberam. São pais presentes, que não querem replicar a cultura machista na qual foram inseridos”, conta.
Para o educador parental, o maior desafio de um pai nos dias de hoje é mudar comportamentos e desconstruir o estereótipo de homem moldado pela sua ancestralidade. “A predominância das mulheres no universo da educação parental é fruto dessa sociedade machista. As mulheres foram educadas para serem mães e é mais comum que elas se antecipem para obter informações sobre a criação dos filhos, ao contrário dos homens. Antes do filho adoecer, por exemplo, as chances de as mães saberem como agir é maior. Os pais tendem a buscar a informação somente no momento da necessidade. A partir daí eles têm a opção de pedir ajuda da mãe ou fazer uma busca na internet, onde a maioria das informações são voltadas para mulheres. Desta forma eles se sentem sozinhos”, explica.
A vivência paterna tem estimulado os homens a buscar alternativas de trabalho que possibilitem conciliar melhor o tempo de convívio com a família. Para Maurício, a paternidade é o gatilho para esta mudança. “O Paternidade Criativa cria ferramentas para uma conscientização masculina de uma forma mais segura a partir do gatilho da paternidade. Eu sei que, para o homem, precisa acontecer algo para que ele tome uma atitude”, conta o educador.
“Fiz curso de gestantes e a linguagem só é voltada para as mães”
Fernando Dias é pai de duas meninas, Eduarda e Gabriela, de 7 e 10 anos. “Quando a minha filha mais velha nasceu eu fiz alguns cursos de gestante e percebi que a linguagem era muito voltada para as mães. Por isso, eu resolvi criar um curso de gestantes para homens, chamado “Vou ser pai e agora?”, conta. O curso ganhou uma utilidade ainda maior devido à existência de lei que possibilita a extensão da licença paternidade de 5 para 20 dias, mas para isso os pais precisam apresentar a certificação na área de recursos humanos da empresa onde trabalham.
Fernando também dá palestras e é autor de um livro com o mesmo nome do curso. “A ideia foi criar uma espécie de manual de sobrevivência para pais de primeira viagem para que eles possam ser pais presentes e não apenas ajudantes de mães e pagadores de contas. Apesar de não existir fórmula para ser pai, algumas preocupações são padronizadas”, explica. “O maior desafio para um pai nos dias de hoje é criar vínculos afetivos, construir uma relação forte para que no futuro, os filhos possam ter um vínculo de afeto e confiança”, completa.
“Sempre fui a favor de quebrar modelos machistas”
Bruno Santiago idealizou o projeto Pai tem que fazer de tudo em 2015 quando começou a escrever sobre o seu modo de perceber e viver a paternidade. Bruno e sua esposa tinham o sonho de ter filhos e depois de várias tentativas para engravidar perceberam que o problema de fertilidade era dele. A partir daí, Bruno começou a pesquisar sobre o assunto e a se preparar para ser pai. “A minha primeira filha virou estrelinha, logo depois nasceu o Samuel. Pesquisei muito sobre o meu papel e sempre fui a favor da quebra de modelos machistas. O homem precisa fazer mais do que pagar as contas, é preciso transmitir amor e participar da criação dos filhos. Podemos correr atrás do dinheiro, mesmo que seja difícil, mas jamais poderemos recuperar o tempo que passamos longe dos nossos filhos”, conta.
Para Bruno, existem três tipos de pais. “O primeiro grupo são pais que jogam a responsabilidade para as mulheres, o segundo são pais que querem aprender, mas se sentem intimidados, e o terceiro são pais que buscam aprender e se tornarem pais presentes e ativos”, explica. As experiências compartilhadas na internet por Bruno renderam um livro, além de convites para palestras e eventos. Foi quando ele decidiu abdicar da carreira de profissional de marketing e se dedicar integralmente ao projeto Pai tem que fazer de tudo, nome que traduz bem a rotina do Bruno e os cuidados com Samuel.
“Paternidade ativa está ligada ao empoderamento feminino”
Também educador parental, Alexandre Colombo é pai de dois meninos, Guto e Vítor, e acredita que a busca pela paternidade presente está relacionada ao empoderamento feminino. “O movimento da paternidade ativa surgiu junto com o empoderamento feminino. As mulheres perceberam que podem ter uma carreira profissional e exercer o papel de mãe. Por outro lado, os homens perceberam que cuidar dos filhos é um trabalho muito importante e passaram a querer fazer parte dele. Os homens querem deixar a sua marca nos filhos e para isso eles precisam participar da criação deles.”
Recentemente a Argentina reconheceu os cuidados maternos como trabalho, fazendo com que as mulheres tenham direito a computar esse tempo na aposentadoria. Alexandre reconhece o avanço, mas levanta algumas questões. “A discussão é anterior a isso. Precisamos entender o que de fato é um trabalho que precisa ser remunerado e o que é um trabalho que precisa ser compartilhado. Pode ser que tenhamos que remunerar essas pessoas pelo fato de estarem abdicando de uma vida profissional. Porém, o mais importante é discutir porque precisamos dessa mudança. É preciso discutir a ausência do pai dentro do núcleo familiar e a importância de compartilhar as funções, dividir a carga mental com a figura materna.”
Está claro que colocar a criação dos filhos sob responsabilidade exclusiva das mulheres é consequência de uma sociedade machista e patriarcal, e é por isso que Alexandre reconhece a necessidade de aplaudir os comportamentos masculinos em busca da paternidade ativa para que possam servir de exemplo e quebrar paradigmas. “Bater palmas para os pais presentes deve servir como um modelo de exemplo, mesmo que cuidar dos filhos seja uma obrigação deles. É o mesmo raciocínio que utilizamos para movimentos de combate ao racismo e homofobia”, explica.
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