Com o afrouxamento das medidas de isolamento social em São Paulo e em vários outros estados do país, surge uma questão para a qual não há consenso. Afinal, a volta às escolas deve ocorrer primeiro para que faixa etária: os adolescentes ou as crianças pequenas? Todos concordam que o retorno gradual dos alunos é o mais indicado, mas enquanto alguns defendem começar pela educação infantil, outros acreditam que deve-se priorizar os ensinos fundamental e médio.
Em artigo para o jornal Estado de São Paulo, a jornalista especializada em educação, Renata Carfardo, explica que a prioridade dada à educação infantil (0 a 5 anos) tem a ver mais com aspectos econômicos e sociais do que educacionais. Após quase três meses fechadas, escolas particulares vêm perdendo alunos pequenos, de famílias que enfrentam crise financeira e resolvem tirar os filhos da escola. Muitas instituições de educação infantil correm sério risco de falência. Além disso, atividades com videoaulas, vídeos e outros recursos online não funcionam para crianças dessa idade nem são recomendadas para elas.
Outro motivo que pesa para reabrir primeiro as escolas infantis é atender as mães que trabalham fora e que com a retomada de algumas atividades comerciais têm de voltar ao serviço. Há, inclusive, uma pressão no estado de São Paulo por parte da secretaria de desenvolvimento econômico para a abertura de creches e pré-escolas.
Mas as escolas infantis são de responsabilidade das prefeituras e quem está à frente do plano de reabertura é o Estado. Quando o governo estadual, portanto, liberar a volta às escolas, caberá aos prefeitos decidir se acatam a decisão do Estado ou não. “Secretários municipais de Educação já disseram que temem a volta dos alunos do ensino infantil, idade em que é muito mais difícil usar máscara e quase impossível manter distanciamento. As cidades, com muita razão, temem que a contaminação aumente com bebês juntos no berçário e crianças brincando nos parquinhos”, comenta Renata em sua coluna.
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Mulheres são as mais prejudicadas
E esse problema não se restringe ao Brasil. Segundo o jornal The New York Times, pesquisadores americanos falam nos prejuízos a “uma geração inteira de mulheres” por causa da pandemia, já que elas muitas vezes acabam faltando ou deixam de trabalhar quando não têm com quem deixar os filhos e a escola está fechada. A tendência é que as empresas flexibilizem o trabalho das mulheres que têm filhos, permitindo por exemplo o home office – o que vem acontecendo em grandes empresas como PepsiCo, Uber e Pinterest, conta a jornalista.
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Enem e evasão são aspectos que pesam a favor dos adolescentes na volta às escolas
A favor dos mais velhos, em especial, os que estão no 3o ano do ensino médio, há questões como: evitar que deixem a escola de vez, o que é comum nas famílias de baixa renda, já que esses jovens precisam começar a trabalhar cedo; a necessidade de se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares; e, ainda, o fato de que pela idade tendem a cumprir com mais rigor as regras sanitárias.
“O “quando” retornar às aulas é uma decisão que compete só à área da saúde. Mas o “quem” sofre interferências sociais, econômicas e educacionais. Lá fora, há países que optaram pelos mais velhos e outros, pelas crianças pequenas. Na Dinamarca, por exemplo, voltaram primeiro crianças entre 2 e 12 anos e, após cinco semanas de aulas, estudos constaram que não houve aumento no número de casos de Covid-19. Já no Reino Unido, mesmo com autorização do governo para reabertura das escolas, muitas decidiram aguardar. O cronograma previa começar a reabertura pelas escolas primárias, de 4 a 6 anos.
No Brasil, o ideal seria levar em conta a questão educacional nos planos de reabertura econômica, diz Renata. Ao separar economia de educação, ao fazer os pais voltarem a trabalhar mas manter as escolas fechadas, fica difícil definir um critério a ser seguido. Para além de tudo isso, há o fato de que a situação da pandemia em São Paulo ainda é grave e especialistas creem ser precipitado permitir que as pessoas voltem a circular pelas cidades. Caberá a cada gestor tomar sua decisão e torcer para não precisar mandar todo mundo para casa de novo.
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