Com portões fechados há dois meses, escolas já estão perdendo alunos – sobretudo as da educação infantil. Pela legislação brasileira, apenas crianças a partir de 4 e 5 anos são obrigadas a frequentar instituições de ensino públicas ou privadas. Entre 0 e 3 anos, a decisão é dos pais. Com redução na renda, insatisfeitos com o ensino remoto para os pequeninos ou preocupados com o risco de contágio na volta às aulas, muitos pais resolveram tirar seus filhos das escolas de educação infantil antes mesmo que o governo defina data para a reabertura das instituições de ensino.
Reportagem publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, na última sexta-feira (22), apontou que as escolas da cidade da capital paulista já perderam entre 10% e 25% dos alunos neste segmento. Os mais afetados são justamente os estabelecimentos que atendem alunos entre 0 e 5 anos. De acordo com as informações do Sinpro, que representa os professores do ensino privado de São Paulo, 60% das escolas que homologaram suspensão de contrato de trabalho ou redução de salário dos funcionários são do segmento de educação infantil.
À Folha, a advogada Fabiana Pinheiro contou que resolveu trancar a matrícula da filha de 3 anos porque notou que ela não tem interesses pelos três vídeos que a escola envia diariamente. Segundo a mãe, a menina via a professora e sentia saudade. “Fazia mais mal do que bem”. Embora tenham lhe oferecido um desconto de 3,7% na mensalidade (que ela considerou insatisfatório), a advogada preferiu tirar a filha da escola. Segundo Fabiana, o mais importante que a educação oferece é a socialização que, no ensino remoto, não existe.
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Ex-secretária executiva do Ministério da Educação, a pedagoga Iolene Lima entende os questionamentos dos pais que querem tirar seus filhos das escolas neste momento, mas recomenda cautela na decisão. Segundo ela, a socialização com colegas de mesma idade é sim um dos benefícios da educação infantil. Mas os ganhos para as crianças são muito maiores. Ela observa que, no ambiente escolar, todas as atividades são feitas com “intencionalidade pedagógica”. Nada é gratuito. Nem mesmo as brincadeiras – sempre há um propósito. “Nem mesmo pais com boas condições sociais conseguem oferecer às crianças o que as escolas estão pedagogicamente preparadas para oferecer”, afirma.
Iolene lembra que o ambiente escolar potencializa o desenvolvimento de habilidade e competências que são a base para o processo de aprendizagem em outras etapas, inclusive as etapas finais. “Sempre existe perda para crianças que não têm oportunidade de frequentar a escola desde cedo.” Segundo a pedagoga, todas as crianças terão de passar por uma readaptação à rotina escolar depois da reabertura das instituições, mas a experiência será compartilhada por todos os colegas. Uma criança pequena que for afastada da escola agora terá de, no futuro, passar por um processo de adaptação à escola.
Aos pais que temem pelas questões de segurança sanitária na reabertura das escolas, Iolene Lima lembra que haverá regras que todas as instituições terão de cumprir. É direito (e também dever) dos pais cobrar que as medidas sejam rigorosamente cumpridas. Consultora de instituições de ensino, a pedagoga Priscila Pereira Boy ressalta: não é possível (nem saudável) que as crianças fiquem para sempre em casa. Em algum momento, os pequenos vão voltar a circular – frequentar praças e parquinhos, visitar parentes. O risco nas escolas não será maior do que em qualquer outro lugar.
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Embora seja obrigatória para brasileirinhos de 4 e 5 anos, cerca de 300 mil crianças dessa faixa etária estão fora da educação infantil. Cerca de 41,4% desses pequenos estão fora das escolas por opção das famílias e não porque não conseguem vaga na rede pública. São famílias que ainda não entenderam o impacto na escola no desenvolvimento infantil.
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