Recentemente veio à tona o caso de assédio sexual envolvendo o então ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Segundo o site Metrópolis, uma das vítimas teria sido a atual ministra da igualdade racial Anielle Franco.
Este é um texto de desabafo, minha intenção não é definir quem é juiz ou carrasco e, sim, refletir sobre referências e consequências.
Quando me deparei com a notícia pela primeira vez, senti um embrulho no estômago e uma sensação de desamparo, assim como, imagino, devem sentir todas as vítimas de assédio.
Eu estou na caminhada do ativismo por igualdade e equidade de gêneros desde que soube que me tornaria pai, há nove anos. Nessa estrada tive muitas experiências construtivas, estudei sobre tudo que envolve o machismo estrutural, aprendi com muita gente bacana e acumulei referências de pessoas importantíssimas para que eu não me desviasse do caminho. Inclusive, dessas referências surgiram boas e novas amizades.
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Mas quando falamos sobre referências, estamos falando sobre atitudes e como elas podem nutrir uma confiança que pode chegar ao ponto de idolatração. Silvio Almeida era uma referência enorme para mim, seu livro Marxismo e Questão Racial me deu ferramentas de estudo para entender melhor em que sociedade vivemos.
Em outro caminho, a ministra Anielle é um acalanto no meu coração, por tudo que ela representa, o que já realizou e de onde veio. Gosto muito da série que ela faz no seu perfil do Instagram: “O Corre da Ministra”.
Diante do ocorrido, porém, quero aqui expor uma fragilidade masculina que conflita com nossa capacidade de construir máscaras para cobrir o que realmente sentimos. Acredito que, assim como eu, muitos outros homens que estão nessa caminhada do ativismo também se sentiram desamparados e extremamente tristes. O artista Lázaro Ramos postou em suas redes sociais que vivemos um capítulo devastador na luta contra a violência às mulheres, e o episódio do ministro significou uma perda e que “uma comunidade inteira caminha para trás”.
Já o ativista, e uma das minhas principais referências masculinas, Ismael dos Anjos, comentou que a luta contra violência e contra o racismo pode retroceder com esse caso.
Depois de acolher o meu desamparo, me deparei com várias preocupações, três das quais comento abaixo:
1 – Machismo
Tenho várias amigas que estão no movimento feminista e muitas delas se pronunciaram prestando apoio à ministra em suas redes sociais. Uma questão que as preocupa diz respeito ao fato do Silvio de Almeida ter ocupado um cargo no governo de muito poder, o que pode colocar mais lenha na fogueira para que outros homens abusadores se sintam confortáveis a realizar práticas semelhantes dentro do âmbito político. Uma vereadora do estado do Paraná comentou que, se o Silvio, que era uma grande referência na luta dos direitos humanos, se envolveu em tudo isso, o que outros homens com mais poder podem fazer?
2 – Racismo
Essa é uma questão extremamente delicada, pois o negro no Brasil ainda carrega o estigma de violento, preguiçoso, pobre, sujo, enfim, muitos preconceitos que só quem passa por isso consegue imaginar. E o episódio envolvendo um ministro e uma ministra pretos, fez surgir comentários discriminatórios de pessoas brancas dizendo que “preto, quando não caga na entrada, caga na saída”, bem como manifestações crescentes de ódio racista nass redes sociais.
3 – Estrutura social
O abalo nas relações existentes entre pessoas e grupos sociais será sentido com o tempo, mas uma coisa posso afirmar: seja qual for o resultado de tudo isso, vamos ter que mover novamente os nossos peões algumas casas à frente, porque, estruturalmente falando, andamos uns oito anos para trás na luta da igualdade e equidade de gênero.
Espero de coração que as pessoas não surtem e que os movimentos a favor dos direitos das minorias se fortaleçam.